Fête Nöel

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  No início daquele mês recebi o boletim de aprovada finalmente chegou e poder concluir esse ano com uma nota alta era tudo que eu desejava, com as férias chegando, o natal batendo na porta, toda cidade estava iluminada e meu coração não podia estar mais tranquilo.

Passar as festas em casa era minha época favorita no ano, meu pai havia alugado uma cabana em Savoia, nos alpes franceses, para amigos e família, por duas semanas e alguns dias. Minhas malas estavam prontas e tudo que eu queria era chegar e ver meus pais novamente, a viajem até Manchester pareceu durar dias, mas assim que cheguei foi uma festa só! Abracei todos, festejamos minhas notas e nos preparamos todos para a viajem até Savoia . Colocamos tudo no carro e fomos buscar Beth, que iria conosco, em sua casa. Ao ver ela, me senti em casa novamente, tudo parecia como era antes mas melhor, o cheiro de nostalgia que o dia tinha, o carro, tudo era incrível.

Durante toda a viajem, trocamos histórias e novidades sobre a faculdade, foi um ano de bastante estresse mas não se pode reclamar, o primeiro ano sempre que o mais difícil, e ainda estar morando sozinha e se acostumar a isso, limpar a casa e ter que lembrar de pagar todas as contas, realmente é algo mais mas eu não posso reclamar pois decidi ficar em um apartamento ao compartilhar um quarto no dormitório da faculdade.

Ao chegar no destino e me deparar com a vista mais linda do mundo, abracei Beth, feliz de estar compartilhando esse momento com todos, a cabana era enorme, de dois andares e tudo de madeira clara com um jardim lindo na frente. Uma camionete cinza e outra preta estavam estacionadas em frente a garagem, logo meu pai estacionou ao lado delas, eu não ficava muito confortável de passar o feriado com estranhos (nem tanto pois trabalhavam com meu pai) mas como Beth estava comigo, nada iria destruir meus ânimos. Nós instalamos nos quartos e conhecemos os donos da cabana

Olhei para a porta e vi Mark parado, me olhando, seus olhos grudaram no meu e eu não conseguia mover mina cabeça em outra direção, ele estava vestindo um suéter verde escuro e escorava seu ombro direito na porta. Por um momento me perdi nos olhos dele, tentando entender o que se passava em sua cabeça e se universo realmente nos colocou aqui de propósito, ou era apenas uma coincidência. Igualmente, seja lá a entidade que fez ambos se encontrarem em um ambiente completamente diferente do que estávamos acostumados e de certa maneira, compartilhar certas intimidades diárias, como o chá que ele toma de manhã e depois do almoço, a maneira em que ele adora conversar sobre negócios ou política, o livro que ele lê todo final de tarde em um canto, quieto.

Eu conseguia ver ele no dia a dia, eu conseguia sentir o conforto que ele tinha ao viver uma vida sozinha, pois ele tinha controle sobre tudo, muitas vezes apenas aproveitando a si mesmo. Incrivelmente vi ele como uma pessoa sociável, acredito que com jovens ele não seja tanto por suas próprias razões que eu ainda desconheço mas fico intrigada de pensar sobre isso, sobre decifrar as coisas, saber o que se passa na cabeça das pessoas.

Eu cogitava 3 situações, primeira era ficar sozinha até esse sentimento passar sabendo que a fama dele era estranha e tudo tem um motivo, assim eu poderia continuar no meu rumo e finalizar minhas obrigações. A segunda era passar esse feriado flertando com Mark, o que não iria levar a nada e no fim, eu sentiria algo ainda mais forte por cavar mais e mais fundo nisso. E terceira, começar um romance com Mark Darcy, onde tudo seria paixão e flores e iriamos nos casar aqui mesmo onde tivemos nosso primeiro beijo. Não.

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- Meninas, andem logo! – Ouvi a voz da minha mãe pela janela, ri com Beth, sabíamos que estávamos atrasadas, retoquei minha maquiagem e me olhei no espelho da parede retocando algum detalhe que deixei para trás.

Era cultural nessa região, uma semana antes das festas, os moradores se juntarem para fazer uma comemoração na cidade, chamada Fête Nöel, tocar música e acender uma fogueira ao pé de uma montanha e festejar. Como eu não fazia ideia de como me vestir pra a ocasião, coloquei um vestido de inverno, longo e com mangas compridas, era de tirar o folego pois na luz, o tecido aveludado realçava o cinza chumbo matte. Eu vestia um vestido cinza de camurça, talvez fosse demais, mas ele era lindo.

Ao chegar na garagem, os Darcy já haviam ido, minha mãe usava um terninho preto escuro e meu pai estava com seu famoso casacão grosso de inverno, todos estavam tão bem arrumados e o ar parecia mágico. Entramos no carro e fomos para o tal lugar, havia muitas pessoas, todos bebendo e festejando, por sorte não era uma noite tão fria e quando nos aproximamos mais do local e pude enxergar a ponta da fogueira acima da cabeça de todos. Havia jovens, velhos, famílias, grupos de amigos, era tão reconfortante ver todos se saludarem e aproveitando o momento.

Descemos do carro e caminhamos até onde havia uma tenda enorme com mesas e um piso feito para o evento, assim os mais velhos não precisavam ficar na grama gelada e o pessoal poderia aproveitar de uma maneira mais aconchegante o espaço. Havia pessoas por todos os cantos, segurei a mão de Beth enquanto seguíamos meus pais e ao chegar na plataforma, olhei em volta e prestei atenção nas pessoas, eu só escutava francês, então não entendia muita coisa. Meus olhos cruzaram com um homem em pé, ele me olhava sorrindo, parecia ter uns 30 anos, tinha barba e vestia uma camisa preta por dentro de uma calça social preta também e um cinto envernizado, sorri de volta e ele levantou um pouco o copo me saludando. Chegamos à nossa mesa e Mark e seu pai se levantaram para que nós sentássemos, Mark quase não me olhou, engoli seco porque esperava que ele ao menos iria elogiar minha roupa. Sentei ao lado de Beth e logo outro grupo se juntou a nós, eram da região provavelmente pois falavam francês, todos muito bem arrumados.

Conversei com Beth sobre Meggie e as novidades sobre a vida dela, minha mãe falava com a Sra. Darcy e meu pai, o Sr.Darcy e Mark, falavam com o outro grupo, em francês fluente. Ver Mark falando Francês tão bem me fez admira-lo mais ainda, mesmo que fosse óbvio. Enquanto Beth falava e me mostrava fotos no celular, meu olhos foram novamente para o tal rapaz, que estava a esquerda dela, ele me olhou enquanto tomava um gole de sua cerveja e sorriu novamente, no momento que sorri de volta, Beth se deu conta e seguiu meu olhar, segurou o riso e se levantou.

- Eu vou pegar uma bebida. – Ela sorriu para mim e piscou, minhas bochechas ficaram rosadas e o rapaz se aproximou, sabendo que Beth havia dado a deixa. Eu não ligava, claramente era apenas diversão.

- Você realmente me cativou. – Ouvi seu sotaque francês e soltei uma risadinha enquanto caminhávamos para a fogueira, era um pouco engraçado como esses momentos pareciam tão superficiais.

- Obrigada pelo elogio, mas sabemos que não é verdade. – Sorri para ele, que tinha aproximadamente 1,85m de altura, quase como Mark.

- O que você faz? – Ele sorriu para mim também e passou o braço em volta da minha cintura, fiquei um pouquinho desconfortável mas ele parecia educado e eu quis ter um pouco de diversão.

- Eu estudo Direito, estou apenas aproveitando o feriado com minha família na região. – Caminhamos para um lugar mais reservado onde não havia muitas pessoas, mas o vento estava mais forte, minhas mãos iam ficando cada vez mais geladas.

- Eu te admiro por isso, amo essa profissão. – Ele parou ficou de frente para mim, tomou um gole da bebida que ainda estava em sua mão. Conversamos por alguns minutos a mais e sentia que ele chegava perto cada vez mais, meu coração batia rápido pois eu não tinha certeza se queria que isso continuasse.

Senti os lábios de um estranho tocarem os meus e o aroma de álcool invadiu minhas narinas, por um segundo pensei em empurra-lo com força mas apenas me afastei gentilmente, sem querer ser indelicada – Acho que você entendeu errado. – falei seria olhando em seus olhos, era escuros quase negros.

- Lamento, eu não quis ser indelicado. Podemos tomar algo juntos? – ele esticou o braço em direção a festa em uma menção de rumo.

- Obrigada.. Eu acho que estamos em barcos diferentes no momento, eu vou ficar com a minha família. – Ao terminar a frase pensei em Mark, sentado na mesa, com o terno perfeitamente encaixado em seus ombros.

Andei de volta para a plataforma para a mesa onde todos estavam, mas não vi Mark, sentei ao lado de Beth que me olhava um pouco perplexa. – Que foi? – olhei para ela, confusa.

- Mark foi atrás de você.- Ela falou rápido, eu levantei os ombros e alcancei meu copo da água, tentando mostrar indiferença. 

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora