De volta a realidade

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EMMA POV

Tomei um gole de vinho e olhei para o programa de tv sem sentido que estava dando, todo esse período tinha sido o mais estressante da minha vida, principalmente emocionalmente, em cada música, cada filme, até certas plantas eu não consigo mais ter na minha casa pois eram as favoritas dele, eu fico imaginando que por algum momento ele sentiu isso, quando nos encontramos aquele dia parecia tudo tão estranho, a cor do dia estava diferente e tudo passou pela minha cabeça como um filme antigo e eu era apenas uma figurante que todos veem mas ninguém sabe do buraco em que ela saiu. Deitei minha cabeça para trás no sofá e olhei para cima pensando o que Mark faria com as fotos, será que ele vai jogar fora? Entortei a boca pensando nessa possibilidade, certa parte de mim tem raiva de ficar vulnerável perto dele assim de novo.

- Não é uma janta chique mas são petiscos, canapés e queijo. – Cam falou largando a tabua em cima da mesa de centro da sala, sorri para ele e me sentei na beira do sofá.

- Vocês acham que Mark vai jogar fora as fotos? – falei colocando um queijo na boca, olhei para Mitchell que me olhava com certa pena.

- Vocês são adultos, tenho certeza que ele sente falta de você. – ele falou antes comer – Quem não sentiria? Ele deve ser ruim com sentimentos, só isso. – Cam completou.

- Ele sempre foi sério, fechado mas acho que isso não teria impedido que ele voltasse ou tentasse. – tomei um gole do meu vinho brinquei com a taça no meu colo.

- E se ele acha que foi o melhor pra você? Vocês nunca conversaram sobre isso, e deviam, porque assim podem por um ponto final nisso. – Mitchell apontou para mim e continuou comendo.

- E se ele achar que eu estou dando em cima dele? – falei baixinho. – Querido isso é claro. – Cam respondeu como se fosse óbvio, sorri.

- Ahmm... – Ouvi Mitchell falar e olhei para ele, sabendo que ele escondia algo – eu acho que você não tem que se preocupar com isso, parece que ele é noivo. – senti um frio na barriga e suspirei, no fim nem adiantava ficar mau, eu esperava.

- Com quem? – Cam falou alto e Mitchell passou o telefone para ele – Ok.. Foto de paisagens, lojas de noiva, comida, ela é bem sem graça. – Cam abriu bem os olhos em forma de me defender, mas logo seus olhos se perderam pela sala e ele passou o telefone para Mitchell que abriu a boca.

- O que foi agora? Eles tem filhos? – olhei para Mitchell já sem paciência para aquilo.

- Ela é você. – Mitchell virou o celular para mim mostrando uma mulher com vestido preto e o cabelo exatamente na cor do meu, realmente eu não podia negar a semelhança física.

- Ele comprou uma versão ruim de você porque não podia mais te ter. - Cam deu um gritinho interno e apertou minha coxa animado, tudo entrou em mim de uma maneira torta.

Respirei fundo e senti o vinho subindo até minha garganta, era tudo demais para mim, e se eles realmente acham que eu sou parecida com ela simplesmente pode ser só o gosto dele por mulheres, além do mais você não se casa por casar, não Mark.

- Eu achei ela uma fofura. – Cam falou comendo mais um dos petiscos, Mitch estava focado no telefone.

- Advogada... – ele sorriu e me olhou, revirei os olhos – familiar? – perguntei, Cam levou as mãos juntas ao peito.

- É como assistir um filme de romance na primeira fileira – ele soltou um riso contido.

- Mas não tem nada de romântico na minha história, um amor forte demais para uma jovem aguentar, problemas imaturos, enfim... – suspirei – se eu tiver que citar todos meus erros em 7 anos. – olhei para baixo.

-Você é romântica. – Cam tocou meu joelho – Sempre tentou agir como se não fosse, não consegue esquecer um amor antigo, não tem nada errado com isso.

Brinquei com meus dedos, Mark e eu nunca tinha dado um ponto final na nossa relação, eu ainda o amava quando o deixei, eu ainda lembro da sensação confusa e minha vida acontecendo a cada segundo, o tempo passando sem eu conseguir alcançar. E hoje, o tempo parece não passar.

- Daqui a pouco estarei velha demais, preciso de vez esquecer esse período da minha vida que eu dei importância demais e apostei todas minhas forças. – olhei para Cam e ele me devolveu um sorriso compreensivo.

Terminamos a noite assistindo filmes de terror e bebendo vinho, e era exatamente o que eu precisava naquela semana. Meus melhores amigos eram casados, o que não ajudava muito na minha vida social já que todos os amigos deles também já eram casados a esse ponto, eu tinha que construir em mim uma visão de que não há nada errado em estar sozinha. Já sei qual será meu próximo tópico na terapia ''Sozinha e feliz''.

Cheguei ao trabalho depois de toda aquela semana conturbada e sabia que todos lá já haviam escutado algo a respeito, já que me olhavam como se eu tivesse sido jogada no fundo do poço e mantida em cárcere por meses. Ao sentar na minha mesa, comecei enviando diversos e-mails e atualizando os 3 casos mais importantes que estavam em andamento comigo, todos baseados em divórcios obviamente, e todos envolvendo crianças, o que sempre me deixava angustiada mesmo depois de tantos anos.

- Emma. – ouvi alguém chamar meu nome e de repente todos olhos estavam em mim.

- Sim? – olhei diretamente para minha chefe, ela saiu da sala deixando a porta aberta. Me levantei e a segui até sua sala.

- Eu gostaria de discutir sobre a sua saúde mental por um momento. – ela falou sentando em atrás da sua mesa.

- Sim? – Acompanhei o gesto, um pouco confusa.

- Você sabe o quanto isso pode afetar seu trabalho, eu queria ter certeza de que está bem. – ela foi direto ao ponto, me olhando.

- Sim, não foi nada demais, apenas um desentendimento mas já passou. – sorri tentando manter um ar tranquilo.

- Sim, e isso causou você a faltar o serviço por alguns dias. – ela levantou as sobrancelhas – quero ter certeza que não vou me preocupar mais sobre o assunto.

- Não irá se repetir. – respondi claramente.

- Podemos cobrir sessões de terapia familiar, pessoal, sabe que pode contar conosco. – contar conosco? Ou não quer que eu falte o trabalho.

- Sim, eu sei mas já frequento terapia e tenho certeza que isso não irá se repetir.

- Certo, espero realmente que possamos seguir em frente. – ela se apoiou na mesa com os cotovelos – Você tem feito um ótimo trabalho e sabe o quão importante é a credibilidade da empresa, os assuntos diários que lidamos são pesados o suficiente. – já entendi, ser fria. Pensei comigo mesma.

- Entendo.

- Temos uma semana de trabalho acumulado, você sabe o quão importante é rapidez e profissionalidade no seu ramo, ainda mais quando estamos lidando com problemas familiares, logo eu peço que tudo esteja pronto até o final desta semana para que possamos recompensar os dias perdidos. – meu deus, 4 dias para botar três casos em dia.

Concordei com a cabeça e logo fui dispensada para voltar ao trabalho, com certeza eu não era a única a causar isso mas conhecendo minha chefe e por ser a mais jovem, eu deveria enxergar meu trabalho como se fosse minha vida inteira e estávamos nesse ano tentando ganhar o prêmio de melhor diretoria no Londres Society of Law, o que a deixava mais obsessiva.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora