A melhor fase é agora

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   Porém, sabíamos que o trabalho dele iria arrancar horas e as vezes dias de estarmos juntos, eu sabia que Mark se dedicava totalmente pois queria nos dar um futuro mais promissor, conseguir o cargo que ele tinha na meta e relaxar depois. Talvez se a gente tivesse tirado mais férias como a do Havaí, tínhamos nos dado melhor e tido tempo para curar qualquer ferida deixava pelo tempo, mas com os meses passando e as coisas acontecendo parecia que não nos conhecíamos mais como antes.

Depois de 7 anos juntos, lutando e conquistando nossos objetivos separadamente, vi Mark escorregando pelas minhas mãos, mesmo sabendo quem ele era e o quanto ele me amava, o quanto nos amávamos, de certa forma meu coração se encontrava escutando mais músicas tristes do que felizes, até nossa música ''Trapped by a thing called love'' de Denise LaSalle já não parecia ser ouvida, quando ele completamente ignorou quando começou a tocar baixinho em um restaurante enquanto comemorávamos nosso sexto aniversário juntos.

Tudo sempre foi um paraíso por anos, parecia que o mundo estava sempre abaixo de nós, tínhamos os mesmo gostos, nossas risadas eram no mesmo tom e compartilhávamos das mesmas burrices e sacanagens, mas acredito que não tínhamos mais 20 anos e Mark já estava com 33 anos, é estranho eu pensar que nunca houve nenhuma conversa sobre casamento entre nós? Ou filhos? Não é nessa idade que as pessoas começam a usufruir da vida que construíram aos 20? Aparentemente o ''futuro'' que Mark se referia para nós já havia chegado, mas não havíamos nem nos mudado para nosso próprio apartamento, vivíamos em Londres em um apartamento pequeno, vivíamos de coisas boas porque Mark realmente ganhava bastante mas não era essa a vida que eu queria levar por mais um ano e eu não sabia que não era a que ele gostaria de levar, pois o break do trabalho nunca chegou.

Nossas discussões ficavam mais frequentes pois cada vez mais eu não reconhecia a pessoa em que eu tinha decidido ficar, cada noite em que eu caia no choro sob seu sono, fazia um pedido para que tudo aquilo fosse na verdade um pesadelo e que o tempo não tivesse passado tanto e tão rápido como passou. Na maior parte do tempo eu me sentia sozinha e levemente ainda presa ao discurso de que nossa vida iria mudar e que as coisas iram se transformar de uma hora para a outra mas meses se passavam, semanas sem falar absolutamente nada sobre o assunto, continuava tudo onde estava.

Passamos semanas sem se falar, mas quando novamente nos encontramos, a atenção dele era maior no celular do que em outro lugar. Eu o encarava e eu ainda estava completamente apaixonada, mas meu coração se quebrava a cada dia que passava, a cada momento, eu estava cansada, no meu limite. Decidi não o chamar mais e aparentemente ele estava ocupado demais para me procurar, no natal seguinte, Mark não passou em família então meus dias eram dentro do quarto.

Ter perdido Mark tinha arrancado algo de dentro de mim, mas foi a decisão que talvez tenha doido menos em nós dois mas mesmo assim, meu coração era dele. No meio do ano comecei a trabalhar em um escritório em Londres, havia me mudado e finalmente agora tinha Beth perto de mim assim como minha família então me sentia menos sozinha.

Conheci Mitchell na empresa, ele ficava no departamento ecológico mas por ter os mesmo interesses acabamos nos aproximando e ficamos amigos, juntamente com o esposo dele Cam, que ficava em casa com a filha. Durante anos compartilhamos milhões de momentos, viagens, jantares, quando os conheci Lilly balbuciava as palavras e agora ela já estava com 3 anos e me chamava de titia.

No quesito de relacionamento eu não tinha me envolvido com absolutamente ninguém, ia para as festas para beber e me divertir, e no trabalho pode sim ter havido algum flerte mas Mitchell descobriu que o sujeito era casado e a mulher acima de tudo estava grávida. Meus pais nem comentavam sobre Mark, eles sabiam que tinha sido algo muito dolorido para mim e os anos passaram voando, eu tinha comprado um apartamento perto do centro de Londres e podia ir caminhando até o trabalho, levei meses decorando ele com madeira e plantas, da maneira que eu sempre gostei, era um apartamento com uma arquitetura moderna e tinha grandes janelas de vidro que me presentavam com uma vista linda de Londres.

Com minha vida nos eixos e os anos estarem encurtando para mim, eu sabia que tinha que achar alguém, então tive alguns relacionamentos curtos durante 1 ano mas estranhamente nenhum deles conseguia preencher nada em mim, não adicionavam nada e eu não conseguia sentir nada além de amizade, era uma amizade colorida e eu não desenvolvi nenhum sentimento por ninguém. Olha pra mim, sempre cuidando da minha vida futura quando era jovem, cuidando todas as coisas que eu fazia, cada paço, cada ação para que hoje com 30 anos eu não precisasse me preocupar com nada e cá estou eu, uma solteirona que provavelmente vai morrer assim e que se jogou demais em um amor por um homem mais velho que no fim, além das fotos e boas memórias, deixou também saudade, uma saudade infantil que por mais terapias que eu fizesse, eu sempre me via babando em nossas fotos sorrindo e meu coração sempre derretia quando eu via o sorriso dele. Mark virou quase um trauma, um trauma daqueles que a gente sabe que não ia conseguir achar nada melhor, nenhum momento será igual aos que eu passei com ele, nenhuma festa vai ser a mesma sem as danças dele, nenhum sorriso vai ser o dele e nenhum homem serio vai ser tão legal quanto ele. Eu me pergunto se eu mudaria algo, se eu tivesse me acalmado e pensado, tentado prever o futuro mas eu era tão jovem, era meu primeiro amor e eu era tão pura, fui tão sobrecarregada e colocada em um mundo mais adulto antes do tempo que eu não culpo aquela garota.

Mas como a gente sempre acaba fazendo merda quando se sente desesperada, resolvi fazer uma das últimas merdas da minha vida. Começar a namorar alguém serio, o conheci em uma festa e compartilhamos alguns interesses por viagem, fotos e livros, acho que por isso que eu embarquei nessa, ele lia bastante e ensinava filosofia na faculdade de Londres, tinha a mesma idade que eu e buscávamos a mesma coisa. Mas ambos estávamos solteiros por um motivo, mas eu não considerei isso como um problema e sim como uma qualidade em comum, estávamos no processo de nos conhecer mas ele já era bastante intrometido.

- Por que você guarda tanta foto antiga do seu ex namorado. – Ryan falou aborrecido, suspirei e peguei a caixa da mão dele.

- Eu gostava muito e ainda gosto de revelar fotos, então guardei. – falei colocando de volta no armário, nervosa.

- Eu quero isso no lixo pra ontem. – Ele falou me olhando e logo continuou procurando uma caixa que ele jurava ter deixado na minha casa. Acenei e fui para a cozinha.

Eu não sabia onde ia deixar tanta foto, e com quem iria deixar, eu não queria me desfazer delas mas talvez seja a melhor opção, talvez minha terapeuta esteja correta sobre como é doentio eu manter fotos de relacionamentos passados. Ryan se aborrecia fácil com qualquer coisa, eu sabia que ele ia ficar bravo se visse essa caixa mas até que ele ficou tranquilo, então decidi fazer o que era correto.

- Ryan, vou comprar sacos de lixo porque estamos sem e já resolvo tudo. - Coloquei meu casaco e peguei minha bolsa, não ouvi ele responder mas sai igualmente como sempre.

Mandei uma mensagem de texto para Mitchell sobre o que eu iria fazer em seguida e ele pareceu triste, Mitchell adorava criar histórias de amor e Cam era o recruta dele, ambos pareciam ter saído de um seriado de Tv americana e o amor deles era infinito, eles me aqueciam a alma. Enquanto colocava o celular na bolsa, olhei em frente e vivenciei um momento que achei que nunca chegaria, por certo lado eu sabia que ia me destruir mas ao mesmo tempo eu queria tanto, e ali estava, em minha direção em uma rua larga cheia de pessoas caminhando em certa rapidez pois o tempo nublado com certeza prometia chuva. No meio da visão espaçada entre as pessoas, com um sobretudo negro, terno, grava, sapatos pretos, cabelo curto e uma pasta preta na mão, Mark... O encarei, procurando seu olhar e sabia que iria conseguir, quando me olhou o tempo parou, as pessoas pararam de caminhar e eu me senti novamente aquela garota de 20 anos completamente apaixonada por esse homem. O cabelo dele tinha entradas grisalhas acima das orelhas e claramente seu rosto tinha envelhecido, mas como meu vinho favorito, quanto mais nos aproximávamos, mas o olhar dele me perfurava, a boca reta em uma linha e eu senti amor pela primeira vista, com a aparência dele.

Ele parecia caminhar em câmera lenta em direção a mim, e eu sentia que ia cair sobre meus joelhos, eu não sabia se deveria dar oi ou guardar esse momento como outra lembrança. Ele passou por mim e continuou me olhando nos olhos, o segui com o olhar até meu corpo virar e eu ver que eu estava parada reta no meio da calçada enquanto ele sorria de canto de boca antes de se virar e entrar em algum lugar, olhei para cima e me dei conta que era a mesma empresa que ele começou a trabalhar quando namorávamos, eu havia me mudado algumas quadras da empresa onde Mark trabalhava. Me dei conta que meus lábios estavam semi abertos e me dei conta que ele não parou um segundo para me dar oi, me senti rindo, pois minhas manias de antes haviam voltado e me dei conta como eram bobas. Agarrei minhas bolsa no meu corpo quando começou a chuviscar e fui para perto do prédio onde eu poderia ficar seca, de repente vi Mark saindo da empresa e se escondendo exatamente como eu, ele havia tirado o sobretudo.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora