Noiva

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No final do dia levei todo meu trabalho para casa e dei meu máximo para finalizar tudo até o final da semana, com muito café e remédio para dor de cabeça, não tive contato nem com minha família por esse período.

- Boa tarde à todos. – falei me sentando em frente ao Sr.Dannes e ao lado de sua futura ex esposa.

O semblante de ambos era devastador, como normalmente é, dois casais de americanos que mudaram para Londres para ver seu casamento escorrendo pelo ralo e lutando pela guarda dos dois filhos pequenos, eu sabia que um deles iria voltar para os Estados Unidos, e dependendo do acordo, ambos os filhos ficariam separados por meses de sua casa. Em frente a juíza dei o meu máximo para vencer a parte de Allison, pela guarda total dos meninos.

Eu podia ver o quanto devastador era aquela situação, no fim além de perder um ao outro, um deles poderia perder os filhos também, de certa forma, a convivência. Ao final da reunião, juntei minhas coisas e discuti um pouco sobre o andamento de tudo com Allison, a confiança dela me gerou tranquilidade e logo segui para outro dia de trabalho, eu perdi a conta de quantos divórcios eu havia feito naqueles 6 meses.

Naquele fim de semana, resolvi passar o dia com meus pais e receber doses altas de serotonina com o novo integrante da família, Bubbles, uma poddle toy branca com 2 meses que agora era a boneca da minha mãe. Todo tempo que eu passava com eles era agradável, meu pai vivia fazendo piadas e a melhor parte era fazer o jantar favorito do meu pai, macarrão e almondegas, e conversar sobre o clube do livro novo da minha mãe, eu juro que nunca havia conhecido tantos livros sem graça na minha vida até então.

- Como tem andado o trabalho? – minha mãe falou antes de encher a boca de massa.

- Bem, um pouco atarefado mas nada além do comum. – tomei um gole de água.

- Estávamos pensando em passar o natal em algum lugar diferente esse ano, talvez suíça. – minha mãe sorriu animada, levantei as sobrancelhas.

- Uau! Acredito que terei que passar o natal sozinha então.. – olhei para ela.

- Não, nem pensar, você vem conosco! – meu pai protestou, soltei uma risada.

- Tudo bem, eu tenho muito trabalho a fazer, acho que terei folga apenas 2 dias nas festas. – suspirei.

- Que horror. – minha mãe lamentou – mas por que? Normalmente você tira férias nesse período.

- Eu sei, mas em janeiro temos o tal prêmio da sociedade de direito e minha chefe está obcecada em ganhar esse ano, temos que gerar resultados. – falei cansada, pois sabia que iria ser um inferno até lá – Depois do evento irei tirar as férias, então podemos aproveitar bastante – sorri.

- Advogados e sua busca pela perfeição, eu nunca vou entender. – minha mãe bufou e comeu em silêncio, olhei para meu prato e apertei meus lábios sabendo qual era sua intenção com essa frase.

Ao voltar para casa, cai na cama e dormi o máximo que eu podia, enfrentando o mês com toda força pois se ganhássemos eu iria pedir um aumento ou promoção, seria justo depois de trabalhar duro por anos e eu sabia o quanto ganhava os outros advogados lá dentro, também sabia que ela ignorava me dar aumento pois eu não era do tipo de encher o saco mas se eu não tomasse uma atitude, iria ter que novamente trabalhar que nem louca por mais um ano e ganhar como uma recém contratada.

O resto da semana foi comum, minha casa estava uma bagunça então tomei meu tempo livre para organizar a mente e toda aquela sujeira, o que incluía minha porta nova que instalei sozinha com todo o orgulho do mundo, não se comparando ao orgulho que senti ao jogar a velha com o entulho junto com todas minhas frustrações desse mês. O frio tinha chegado intensamente esse ano, e o sol já não aparecia por dias, minhas caminhadas até o trabalho já não eram mais tão apetitosas assim, logo quando recebi meu carro de volta pude ir acompanhada de ar condicionado.

- Parabéns, Emma. – minha chefe falou largando uma pasta na minha mesa, a abri imediatamente – É bom ver seu desempenho de volta. – ela sorriu.

Tentei parecer discreta ao ver que havia ganhado os últimos casos em que trabalhei, sorri e relaxei por alguns minutos, Mitchell havia descido as escadas na mesma hora e me olhou entendendo o recado.

- O que você vai fazer no natal? – Mitchel falou ao sair na porta da empresa comigo.

- Trabalhar? – revirei os olhos.

- Eu sei, essa mulher é louca. – ele sussurrou – Cam está uma fera.

Andamos até o café da esquina e sentamos na mesa próxima à janela, pedimos um merecido cappuccino com creme e muitos cookies com gotas de chocolate, ao fundo tocava uma música baixinha de natal, essa época sempre aquecia meu coração mesmo estando tão frio lá fora.

- Pensei de passarmos a noite de natal juntos, a família de Cam vem para Londres esse ano porque eu terei que trabalhar, e meu pai vem me visitar também, logo.. – ele sorriu para mim estendendo as mãos convidativas.

- Agradeço muito o convite – sorri – mas não acho que me intrometer assim na sua família iria gerar boas fofocas sobre mim – ri para mim mesma.

- Só porque é solteirona, 30 anos, e seus melhores amigos são um casal gay de meia idade? – ele levantou as sobrancelhas irônico.

- Nossa, por que vocês se depreciam assim? – rimos juntos e ele segurou minha mão.

- Saiba que vais ser muito bem vinda na nossa estranha festa caipira de natal. – ele apertou os olhos e tomou um gole de café, ri e acenei com a cabeça.

- Eu nem tenho arvore de natal, acho que vou esquecer o natal esse ano. – levantei os ombros.

- Ok senhora Krank, quando sua filha volta do Peru? – ele falou como se eu o tivesse insultado, revirei os olhos e sorri.

- Saindo daqui, vamos decorar sua casa! – ele pegou o celular e sabendo que não iria escapar dessa intervenção, apenas aceitei o convite.

Em 10 minutos, estamos dentro de uma das lojas mais lindas de natal que havia no centro de Londres, e o parceiro de crime dele havia chegado vestindo um suéter vermelho de natal bem chamativo, pegamos o primeiro carrinho que vimos pela frente e andamos corredores e mais corredores enchendo ele, com coisas minhas e deles, Cam não resistia a decoração de natal e parecia uma criança com os olhos saltados da cara quando via algo brilhando.

- Chega, já temos árvore, decoração para árvore, luzes, guirlanda e coisas que eu nem sei onde colocar. – falei rindo olhando para o carrinho cheio.

- Não, falta o espirito, e só conseguimos isso com uma roupa bem chamativa! – Cam falou andando na frente do carrinho, sorri e o acompanhei.

Após colocar na minha frente mais de 20 blusões de natal, todos contendo renas, elfos, papais e mamãe noel, finalmente Cam encontrou um suéter verde com o rosto de Rudolph e o nariz vermelho em uma bola de lã que saltada para fora do tecido.

- Cam, por favor. – soltei uma risada junto com Mitchell – Eu achei a sua casa – ele respondeu rindo junto.

- Ta bem.. – sorri e coloquei no carrinho.

Cam continuou vasculhando cada cabide de roupas, pegando aventais e adereços para Lilly, o acompanhei com o carrinho e Mitchell mantinha os olhos no telefone, aparentemente trabalho, ele não trabalhava tantas horas como eu mas tinha que estar sempre alerta caso precisassem dele durante o dia. Continuamos o caminho e por azar, alguém também estava fazendo compras de natal, Mark.

- Feliz natal.. – sussurrei no ouvido de Mitchell que me olhou assustado e logo seguiu a direção para onde eu estava olhando, dando uma cutucada em seguida em Cam.

- Olha.. É ela. – Cam fingiu que nada estava acontecendo, tentando sem sucesso ser discreto, movendo as roupas nos cabides sem olhar para elas.

Mark e sua noiva, fazendo compras de natal, escolhendo roupas de casal, se preparando para passar o natal em família.. Lindo. Não pude deixar de notar o quão bonita ela era, estava com um casaco longo e seu cabelo era ondulado, Mark vestia um sobretudo preto, que acentuava ainda mais seus fios brancos aparecendo entre a cor natural do seu cabelo, Deus como era bonito.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora