Não deveria ser assim

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- Achei que você já tivesse ido. – Ele sorriu, eu queria soltar um gemido de satisfação ao ver aquele sorriso. – Se importa? – Ele levantou um cigarro, neguei com a cabeça e ele o acendeu.

Vendo ele de perto, cada ruga do seu rosto parece ter sido esculpida, seu cabelo parecia mais claro mas o corte de cabelo parecia ser o mesmo desde quando jovem, ele parecia mais alto e seu corpo parecia mais forte, obvio, ele havia envelhecido e sempre foi mais velho que eu. Ele deve ter filhos já, casado, com sua casa maravilhosa e ser diretor da empresa mandando em todos os advogados novos como ele foi um dia.

- Olá. – Ele falou depois de assoprar a fumaça dos pulmões, olhei para ele e todas as memórias voltaram a minha mente, limpei a garganta.

- Você fuma? – falei apontando para o Mallboro entre seus dedos.

- De vez em quando, quando eu fico nervoso ou preciso de ar. – ele sorriu sem mostrar os dentes, soltei uma risadinha e me sentia de certa maneira estranha.

Estar com Mark, agora nesse momento na minha vida e de repente assim na rua, bagunçando todos os meus sonhos acordados, me vi em um universo diferente da vida dele mesmo tendo tantas memorias em comum.

- Como estão seus pais? – falei gentilmente, tentando parecer calma e tranquila.

- Bem. E os seus? – ele falou me olhando, entre tragadas do cigarro.

- Bem, o mesmo de sempre sendo que agora papai se aposentou. – olhei para meus pés envergonhada, eu não me sentia confiante de aparecer na frente de Mark sem estar arrumada, eu queria ter causado uma impressão melhor.

- Você gostaria de tomar um café? Assim botamos o papo em dia. – Logo quando Mark terminou de falar ouvi uma buzina forte perto e vi Ryan no meu carro.

- É pra isso que você sai toda hora? Entra agora. – Ele falou bravo e olhou para frente.

Senti meu sangue subir e olhei para Mark, suas sobrancelhas estavam quase unidas no dentro de sua testa enquanto ele olhava para Ryan, meu rosto ficou vermelho de vergonha e andei até o carro sem olhar para trás, eu não ia mais conseguir encarar Mark depois disso.

- Você é inacreditável. – gritou após arrancar o carro – Eu sabia, eu tinha certeza que você não vale nada. – ele acelerou trocando as ruas sem parar.

- Você não tem o direito de falar assim comigo. Quem você pensa que é? Acha que me conhece ou conhece algo da minha vida? – Falei brava, eu fervia de raiva por ter passado por isso, por algum homem se achar no direito de falar dessa maneira.

- Eu falo do jeito que eu quiser, você se achou no direito de ficar vagabundiando pelas ruas com um rosto que eu conheço muito bem. – ele falou bravo e fez a volta na quadra, parando novamente no meu apartamento.

- Vá se foder! – falei não acreditando no que estava ouvindo, ele empurrou meu braço com o cotovelo com força e saiu do carro, grunhi irritada.

Minha raiva se transformou em um furacão de sentimentos e medo, entrei no apartamento e como entrei depois dele a porta estava escancarada. Entrei e o vi indo para meu quarto, sabendo que ele ia destruir qualquer coisa que tinha o rosto de Mark ou o nome, corri até o quarto e meu instinto parecia de alguém que estava defendendo uma pessoa física. Ele me viu entrar no quarto e me jogou na parece tapando minha boca com a mão, os olhos dele estavam negros, eu tentei gritar o mais alto que pude.

- Fica quieta. Você faz parecer que eu sou o culpado de tudo. – ele me soltou e abri o armário, comecei a chorar na hora – você tem idade suficiente para perceber as merdas que faz, e eu sou culpado de ter que aguentar tudo. – Falou jogando as caixas de fotos no chão, bagunçando tudo.

- Eu não fiz nada, eu nunca tinha me encontrado antes com ele, para. – Falei juntando as coisas do chão, mas ele me levantou e empurrou para a cama, bateu dos dois lados das minhas costelas com o pulso, um de cada vez. Fiquei em choque, meus músculos se contraíram em defesa.

Ele saiu pela porta do quarto, batendo ela com toda força possível, escutei as chaves sendo trancadas e barulhos fortes na maçaneta. Gritei e me levantei correndo tentando abrir a porta, mas estava trancada e a maçaneta saiu na minha mão, chorei alto e procurei pelo meu celular no meu bolso mas havia ficado no carro junto com minha bolsa, olhei em volta e eu só queria sair dali o quanto antes. Olhei para a mesa de escritório logo em frente janela e andei até ela, liguei meu computador e eu precisava chamar alguém que não fosse conhecido, eu não queria que ninguém soubesse disso tudo. Entrei no site da polícia e encaminhei um pedido de ajuda, botei minha cabeça entre minhas mãos e chorei tudo guardado em mim, me levantei e arrumei todas as fotos dentro da caixa novamente.

- Onde você foi.. – chorei olhando para uma foto minha e de Mark na neve, tirada por ele, sorrindo como um garoto, olhei para meu rosto feliz e pedi desculpas mentalmente sem parar.

Ouvi as sirenes da policia e me levantei, parei em frente a porta e segurei minhas mãos, ouvi a voz de alguém e gritei, em 5 minutos a porta estava no chão e os policiais entraram, abracei um deles procurando por proteção e ele passou um braço em volta de mim, eu tentava falar mas não saia nada além de choro.

- Tudo bem, vamos para a delegacia e você se acalma, você agora está segura e vamos resolver. – outro policial me olhou e tocou meu braço, acenei com a cabeça e eles me guiaram para fora do apartamento enquanto alguns ficaram, entrei no carro da policia e botei minha mão no meu peito.

- Eu vou ter um ataque cardíaco, me leve para o hospital. – falei rápido sentindo um nó no peito.

- Fique tranquila, já vamos nos acalmar, você está segura. – o policial falou da cabine da frente e eu esfreguei meu peito, fechei meus olhos e estava apavorada, meu olhos queriam sair do meu rosto, só de pensar que eu poderia ter sido gravemente agredida.

Passei mais de 30 minutos em uma sala na delegacia, onde havia uma mesa e alguns objetos que eram anonimatos pra mim, durante todo momento fiquei pensando que tudo isso poderia ser minha culpa, a maneira de Ryan de ser e falar era muita agressiva, olhando de fora ele era um potencial para ser um tipo de agressor, mesmo parecendo ser tão arrumado e certinho. O medo corria pelas minhas veias de lembrar dos olhos negros que antes eram azuis, me olhando no fundo da alma querendo me machucar, imagina quantas mulheres não estiveram na minha posição com ele.

Minha respiração tinha voltado ao normal, minhas mãos tinham parado de tremer e eu queria me afundar em um canto escondida, eu estava tão triste mas ainda sentia um frio na barriga quando pensava em Mark, segurando o cigarro entre os dedos, com uma chuva leve batendo nos nossos pés. Era tão estranho ver ele mais velho, depois de tanto tempo ver rugas em seu rosto e um ralo cabelo branco passando pela lateral da suas têmporas, posso imaginar como seria se eu tivesse ficado com ele até hoje, como minha vida teria sido diferente. De repente me dei conta, eu que transformei minha vida nisso, sempre dando mais valor para estar com alguém ou para trabalho do que para minha vida real e meu méritos, desde que passei a encarar minhas metas como vitórias só quando alguém estava lá para ver. Passei tempo demais pensando em Mark, gastei tempo da minha vida me afundando em um mundo de fantasias ao invés de aproveitar minhas conquistas.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora