Rock
Aquela era a parte do dia que eu mais gostava... Onde finalmente podia ver e conversar com a Doutora Lívia, ou melhor, Liv. Ela tinha sido a primeira pessoa com quem eu realmente me comuniquei quando fui resgatado, ela era doce e gentil, me ouvia, compreendia e de repente me vi muito atraído por ela...
Porém tinha um grande problema naquilo tudo, ela era a companheira do meu irmão. Axel e ela claramente se amavam, eram um par, e não havia lei mais sagrada entre nossos semelhantes que o respeito a fêmea de outro macho. Todavia, era inevitável para mim não olhar os dois juntos e sentir aquele sentimento horrível de inveja.
Eu não queria, não queria mesmo, mas falar com a doutora era a melhor parte do meu dia, vê-la me deixava muito contente, mesmo que tivesse que sentir aquele cheiro pungente de outro macho a cobrindo o tempo inteiro.
Mas eu tinha aprendido a controlar meus instintos muito cedo, fui usado para exibições, treinamentos com soldados humanos e uma coisa que aprendi ali foi a medir minha força, minha raiva e tudo mais que pudesse me prejudicar.
— Rock! — a doutora disse ao abrir a porta da sua sala. — Sempre em pontual, vamos, entre, tenho novidades que vão te deixar muito feliz!
Tentei sorrir, deixando as presas retraídas, nunca deixava elas amostra desde o dia que cheguei ali. Dei um aceno então fui até o sofá onde normalmente ficava e a doutora assumiu sua posição de frente para mim sorrindo.
— Quais a novidades? — perguntei.
— Avaliamos seu progresso, eu e uma equipe, a partir daí decidimos que você poderá finalmente ter acesso a todas as possibilidades de trabalho e moradia, ou seja, pode conviver em sociedade como seus irmãos...
Esperei um pouco assimilando as informações. Desde que eu havia sido libertado eu tinha sessões diárias com médicos, com a doutora, e era livre para frequentar alguns locais específicos daquela instalação, mas a maior parte do tempo eu sempre tinha algum dos meus irmãos ao me redor, como se para se certificar que eu não surtasse...
Tipo como Kit surtou atacando uma fêmea em um elevador, Sillas tinha por sorte chegado a tempo de impedir uma tragédia, uma tragédia com a companheira dele. Os Novas Espécies não machucavam fêmeas humanas, mas depois das torturas que alguns machos sofriam pelas mãos delas, eles tinham uma tendência a atacar.
Kit era o pior deles, seu ressentimento era enorme, Kall conversa com ele frequentemente, mas a cabeça daquele macho parecia dura demais. Eu suspirei, cansado de pensar em meus irmãos, era finalmente a hora de eu conhecer mais daquele novo mundo e ainda sim só o que me peguei me preocupando foi aquilo:
— Eu ainda vou ver você? — A urgência na minha voz ficou evidente e tive que segurar um rosnado.
— Claro Rock, sou sua psicóloga, vamos continuar com as sessões até que você esteja confortável para dizer que não quer mais... Ou então continuar, isso não tem problema alguma!
O alívio tomou conta de mim e eu sorri, era fácil fazer aquilo com a doutora, apenas com ela, porque o resto do "mundo" não parecia lhe entender como aquela fêmea... As vezes ele pensava que se tivesse aceitado mais cedo que tinha sido resgatado, que estava seguro, que não era um truque, talvez tivesse conhecido ela antes do Axel, mas a realidade era outra claro, e era dolorosa.
—*••*—
— Você não devia estar com uma cara melhor após ter finalmente conseguido sua independência total? — Sillas me perguntou.
— Estou feliz.
Afirmei sério enquanto corríamos pela área de treino montada próximo da área de moradia construída aos arredores do grande prédio administrativo e do centro médico. Eu levei um tempo para entender que aquele lugar não só concentrava a gerência dos assuntos relacionados aos NE's como também era o local de trabalho da Claire, uma espécie de líder deles, no início foi estranho considerar aquilo, porque ela era uma fêmea e normalmente um macho era o líder.
— Não parece, na verdade, sua expressão é de quem comeu algo azedo.
Acelerei a corrida não querendo dar papo para o Sillas porque ele tinha a mania de conseguir lhe arrancar as coisas mais fáceis que os outros, talvez fosse porque tinham idades próximas, apesar de seu exame dizer que passava dos vinte e seis. Eu não tinha certeza de idade, ou de nada, tudo que conheci foi o ECP e a dor de ter praticamente nascido ali.
Entrei no galpão onde treinávamos boxe, vi Sillas vindo atrás, mas ignorei indo tomar água e me preparar para ir até às aulas sobre como preparar alimentos, ou melhor, como os humanos falavam... Aulas de cozinha. Aquilo era muito estranho, mas tinha sido uma das sugestões da doutora.
— Você sempre fica com essa cara depois das suas conversas com a companheira do Axel!
Sillas disse de repente e então minha expressão caiu por um momento antes de eu me recuperar soltando um rosnado.
— Ficou louco?
— Não, apenas falando algo que notei. — ele sorriu. — Comentei com a Alexia e ela disse que você pode estar "a fim" da doutora...
Sem pensar fui para cima dele dando um soco que o jogou no chão.
— Nunca mais ouse falar isso em voz alta, está me entendo? — eu passei a mão pelo rosto. — Axel me mataria se soubesse que eu... Que eu tenho sentimentos pela sua companheira!
Admitir aquilo em voz alto era como cravar uma faca na minha honra com meus irmãos, com Axel, eu me sentia um traidor, no entanto, toda aquela confusão na minha cabeça se desfez quando ouvir um rosnado maligno e quanto olhei para trás quem estava ali era o próprio Axel com uma express que deixa bem claro qual era sua posição quanto a minha fala.
— Axel eu posso explicar...
Tentei dizer, mas já era tarde demais, ele já tinha corrido e pulado em cima de mim.
—*••*—
Capítulo para o primeiro dia do ano!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hope (Hiatos)
RomanceSinopse: SÉTIMO LIVRO DA SÉRIE DNA Nessa nova história você vai embarcar em uma narrativa diferente, apresentada por um dos oito NE's resgatados, descobrindo como estão se adaptando ao novo mundo e aprendendo a viver na sociedade que Sky, Kall e Cla...