Capítulo 20

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Harriet

Naquela manhã eu fui para o trabalho decidida a agir como uma pessoa normal, na verdade, como uma adulta. Eu fiz sexo com um amigo, mas aquilo foi casual, era só isso... Não era?

Eu respirei fundo, saindo do carro, caminhando a passos lentos para o centro médico. Segui em direção a porta, mas meus passos travaram, eu de repente estava paralisada olhando para a entrada sem poder dar um passo à frente.

Todos os meus planos foram por água abaixo quando eu olhei para a entrada e então vi Rock, mas ele não estava sozinho. Ele estava de pé naquela porta ao lado da doutora, não qualquer doutora, ele estava do lado da doutora Lívia, ou melhor, ao lado da mulher que ele era apaixonado.

Eles estavam de mãos dadas, em uma conversa baixa, ele dava pequenos acenos enquanto a doutora Lívia falava algo para ele. Dor atravessou meu peito e naquele instante era muito difícil me manter em pé, estável, imagina andar...

Minha respiração saía de modo errático. Ver ele com a doutora Lívia foi como levar uma chicotada sobre o meu coração e de repente eu entendi. Eu me apaixonei por um homem que ama outra... Me senti tão mal.

Rock e eu éramos uma amizade, mas o cuidado e o carinho dele fizeram com que eu me apaixonasse todos os dias um pouquinho mais, cada gesto gentil, cada sorriso compartilhado ou pequenos toques, tudo isso foi abrindo caminho até meu coração.

O que eu achava que era amizade se transformou em muito peito em algo que me deixava absolutamente ligada a Rock, por isso vê-lo ao lado da pessoa que ele era apaixonado e que claramente não era eu, me quebrou.

Eu não era uma pessoa de sexo casual, com certeza não era, aquilo nunca ia funcionar para mim assim como não ia funcionar voltar a trabalhar naquele lugar.

Olhar para o Rock ia me matar aos poucos porque eu sabia, não muito, mas sabia que quando um NE se apaixonava nunca haveria outra, eles eram monogâmicos, quando encontravam seu par todos sabiam que era para sempre.

As histórias de amor entre os NE's e suas esposas totalmente humanas eram lendárias. Todos viram pela TV o caso apaixonado e quase trágico de Claire Stacy. Por isso estar ali não ia da certo para mim.

Rock sempre ia amar a Lívia, eu não ia poder competir com isso, mas no fim nem importava porque eu não queria competir com nada porque eu sempre ia imaginar que Rock iria me ver como um fantasia, uma mulher médica para tapar a vaga da única pessoa que ele não ia ter. Aquilo era um inferno.

Desse modo, depois de pensar sobre tudo aquilo, eu carreguei meu corpo, ou melhor, forcei a me arrastar ao virar de costa indo em direção ao meu carro. Eu não podia mais trabalhar naquele lugar e por isso o melhor a se fazer era ir embora enquanto ainda restava em mim alguma dignidade.

__•**•__
Rock

Mais uma vez ela não apareceu. Eu esperei a manhã inteira e não houve nenhum sinal de Harriet. Eu queria gritar, rosnar, quebrar alguma coisa. Por que ela estava fazendo aquilo?

Me levantei, precisando me mover, passar a amanhã inteira naquele maldito banco da entrada estava me deixando maluco. Inferno... Eu sentia tanta, tanta falta dela.

Eu mal tinha conseguido comer ou fazer qualquer outra coisa que não fosse desejar estar do lado dela, lhe dar um cheiro e beijar todo o seu corpo. Eu tinha consciência que faria qualquer coisa para poder tê-lá.

Tinha pensado em ligar para ela, mas Kall tinha dito que era bom eu manter-me em silêncio lhe dando espaço para pensar. Ele também tinha dito que as fêmeas humanas precisavam de "espaço" porque nós NE's podíamos ser intensos.

A contra gosto eu resolvi fazer o que ele tinha me dito para fazer, mas era tão difícil, me manter ali sem fazer nada sem tentar encontrá-la parecia ser a coisa mais complicada que eu tinha feito em toda a minha existência.

Todos os meus instintos gritavam para que eu fosse atrás dela, caçar aquela fêmea e a prender na cama. Eu iria a chupar inteira até que estivesse mole por atingir seu maior prazer, depois eu ia montá-la até que viciasse em mim como eu estava nela... Tudo aquilo, era o que meus instintos mais selvagens diziam para eu fazer.

Olhei novamente para o maldito estacionamento como se com aquele olhar eu pudesse fazer a Harriet se materializar ali na minha frente, mas é claro, isso era impossível.

Todavia, eu vi o jipe do Kall se aproximar, a expressão dele era apertada e séria, isso me deixou mais inquieto por alguma motivo que eu não sabia dizer qual era.

— Rock!

Ele disse, um cumprimento, antes de pular do jipe e caminhar até mim. Algo estava errado.

— Olá Kall, o que quer aqui? — Perguntei me sentindo mais que o normal na defensiva. — Houve algum problema?

Ele franziu o cenho, então deu um aceno negativo, antes de se mover indo se sentar no banco respirando fundo.

— Bom, não é um problema, quer dizer. — Ele se atrapalhou com as palavras. — Não era um problema!

— Não estou entendendo você Kall! — Eu disse com um rosnado. — Pare de joguinhos.

— Eu não faço joguinhos! — Ele rosnou de volta.

— Kall, só fale logo!

Ele passou a mão pelo cabelo e sem olhar para mim dessa vez.

— Harriet pediu para não trabalhar mais aqui, quer dizer, ela não vai mais vir!

Eu ouvi cada palavra que o meu irmão disse, mas por um segundo foi como se eu não tivesse escutado absolutamente nada. Só havia um zumbido diante das palavras dele e meu coração acelerado, batendo tão forte como se fosse sair do peito.

— Como é que é? — Rosnei.

— Ela ligou para o RH e disse que não queria mais a vaga de médico, pediu para ser desligada do trabalho, pois não iria vir mais!

Dor, raiva e mais dor foi o que eu senti. Harriet estava me deixando, me abandonando sem nem ao mesmo me permitir a chance de conquistar a ela. Eu não entendia porque ela estava fazendo isso quando eu sabia que ela havia gostado do que tínhamos compartilhado. E sem me importar eu rosnei tão alto que Kall se encolheu.

Hope (Hiatos)Onde histórias criam vida. Descubra agora