Harriet
Eu demorei dois segundos para perder a curiosidade quantos aos NE's e passar a agir como a médica a qual eu estava me formando.
— Harriet pega a cama! — disse Richard. — Jesus como ele é pesado...
Ele falou enquanto ajudou o outro NE a carregar aquele que estava mais machucado. Eu corri pegando a maca e um kit de atendimento, tirando uma luva e vestindo-a. Mal cheguei ao lado deles antes do NE ferido ser colocado na maca e o som que ele soltou que era uma espécie de ganido junto de um grunhido.
— Para o outro lado Harriet, corta a camisa e procura por lesões... Inferno, acho que vai entrar muitas!
Richard falou examinando o sinais vitais e imobilizando o NE. Peguei a tesoura me movendo, tocando a camisa dele, porém de repente meu pulso foi envolvido e olhos escuros se voltaram para os meus. A médica que eu me formava ficou de lado, até então eu não tinha prestado atenção nele, nada além dos ferimentos, porém naquele instante tudo mudou.
Esqueci que era um paciente e comecei a ver o homem, um homem lindo de pele negra, que tinhas sobrancelhas grossas margeando olhos escuros, havia uma barba por fazer marcando a mandíbula forte, seus lábios eram carnudos e perfeitos para alguém tão masculino. Mesmo com o supercílio cortado, lábios partidos e as marcas roxas no rosto, não havia dúvidas da beleza ali.
Eu engoliu em seco sentindo de repente meu rosto começar a esquentar de vergonha, a mão dele ainda se fechava ao redor de todo meu pulso, havia uma força contida, mas eu sabia de alguma forma que se ele quisesse simplesmente quebrar-me ali, conseguiria.
— Não... — a voz dele era grave, apesar de rouca pelo esforço que fazia ali para falar.
— Rock, não seja um bebê chorão, essa é Harriet e ele só precisa tirar essa sua camisa imunda de sangue... — Richard disse, mas xingou baixinho.
Aquele nome combinava com ele, eu pensei antes de tentar encontrar minha capacidade de falar assim como minha postura médica, eu não estava ali para admirar homens feridos e bonitos.
— Preciso te examinar...
Acho que falei baixo demais, mas ele escurou, aquelas sobrancelhas franziram, então ele soltou um rosnado baixo no mesmo minuto que livrou meu pulso do seu perto. Engoli em seco então me voltou para a camisa cortando e expondo um peito sólido, forte, que só ficou ainda "melhor" quando eu vi o abdômen esplendorosamente definido.
Deus não teve piedade quando fez esse homem...
Pensei assumindo minha expressão solene que aprendi quando tinha que contar a familiares notícias ruins no hospital. Deixei a tesoura de lado começando a apalpar aquela perfeição de "estrutura corporal" notando os vários hematomas que se formavam pelo tronco dele.
— Porra! — ele disse com um rosnado que me fez pular tirando as mãos dele.
— Continua Harriet... Rosnar é equivalente ao choro de crianças!
Richard disse se abaixando pegando algo embaixo da maca, era um seringa e um pequeno frasco, entendi que era um sedativo.
— Eu não sou um filhote!
Rock disse parecendo recuperar um pouco da sua força, notei que ele usou o termo "filhote" ao invés de "criança", mas não disse nada e voltei a tocá-lo sentindo as costelas que não estavam bem.
— Três ou mais costelas quebradas e...
— E você deve ter quebrado mais uma!
O NE rosnou me olhando de um jeito muito ameaçador, mas ele me cutucou falando do meu trabalho, então isso me enfureceu e me fez ignorar aquele olhar dele ao dizer.
— Achei que NE's fossem mais durões, até aqui você só sabe choramingar!
Richard riu enquanto aplicou o sedativo, aparentemente eu tinha distraído o NE, porque ele só viu a seringa após ela secar.
— O que me deu? — ele perguntou entredentes.
— Algo para você parar de choramingar...
Richard disse com um sorriso inocente e então Rock apagou no segundo seguinte, eu olhei para ele surpresa ao perguntar:
— O que tinha aí? Sedativo para um leão?
— Quase isso, Rock é um felino, são muito temperamentais e as doses de sedativo para eles são cavalares, desenvolvemos um apenas para os Novas Espécies... — Richard esclareceu. — De vez em quando temos que por eles para dormir, como eu disse, são temperamentais.
Um rosnado nas costas do Richard me fez ver o outro NE, ele era mais jovem, menor também, mas ainda sim grande para os padrões "humanos".
— Ele vai ficar bem? — perguntou preocupado.
— Sim, vou levar ele para um raio-x completo e começar o processo de cura. — falou Richard. — Vai me explicar porque vocês se espancaram Sillas?
— Não fui eu e ele, foi ele e Axel. — O tal Sillas disse. — O Rock confessou que gosta da Lívia!
Bom, pelo contexto e pelos nomes, eu entendi bem rápido do que aquilo se tratava e se não fosse mais explicativo o tal Axel surgiu a porta da emergência como quem parecia que ia derrubar tudo.
— Cadê o filho da puta do Rock? — Axel rosnou.
— Merda... — Richard falou. — Sillas, segura o Axel por um segundo!
Tudo aconteceu muito rápido, vi aquele homem grande, maior que os dois outros NE's ali, ele tinha mais massa muscular também e quando Sillas o segurou foi mesmo que tentar parar um trem. Mas Richard foi mais rápido e disparou o que parecia ser uma arma de dardos que estava embaixo da maca, então o NE foi para o chão.
Eu engoli em seco e só então percebendo que eu estava segurando o braço de Rock como se pudesse erguê-lo para o tirar de lá. Logo o soltei tentando não cair em uma risada histérica diante de todos aqueles acontecimentos que vieram como uma avalanche.
— Ufa, essa foi por pouco! — Richard comentou me dando um olhar nervoso. — Bem-vinda a essa sociedade maluca!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hope (Hiatos)
RomanceSinopse: SÉTIMO LIVRO DA SÉRIE DNA Nessa nova história você vai embarcar em uma narrativa diferente, apresentada por um dos oito NE's resgatados, descobrindo como estão se adaptando ao novo mundo e aprendendo a viver na sociedade que Sky, Kall e Cla...