A última carta... vigésima segunda - Pedro

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Ana Ternura Querida Sempre

Antes de qualquer conversa, quero dizer que fui ao comício do Lula aqui em Belo Horizonte. Foi emocionante, de derramar água nos olhos e no coração. Senti muita emoção e fiquei pensando que o Brasil vai mudar de cara. Vai ter agora na frente a cara de brasileiro de verdade. Um cara jovem, bonita e feliz. Uma cara igual à sua, igual a melhores de pessoas que estavam no comício: estudantes, operários, comerciários e, principalmente, namorados. Todos estavam em namorados pelo momento e o nosso Lula falando Claro, errado às vezes - e daí, O que é errado? estou lembrando de uma professora de português que tive que no zap ficou na Área Leão e Manuel Bandeira. Era dessas professoras apaixonantes e eu estou lembrando um poema de Manuel Bandeira que ela trabalhou com a turma. Sei até de cor os versos:

"a vida não chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear,
A sintaxe lusíada"

Depois do comício só sou entusiasmo e me arrebato e abra os braços querendo que todos participem da minha alegria.
tudo arrumado. Tia Ivany conseguiu a licença de viagem. Meu pai e minha mãe estão desconfiados. Clara que ir. E eu estou arrumando a mochila. Não vou usar nenhum disfarce, não preciso, não precisamos. já nos conhecemos o bastante . Os olhos serão cúmplices e não haverá nenhuma dúvida. O livro levo. É mania antiga. Não sei andar sem o livro nas mãos.
Às vezes questiono (pergunto) por que nunca usamos o telefone ou (mesmo) enviamos uma fotografia? Sei não. Talvez tivéssemos medo de quê a voz revelasse a nossa identidade e a fotografia quebrasse o encanto e mistério. Melhor assim. Vai ser mais gostoso. E não vejo a hora de chegar na rodoviária e depois na "entrada" do seu prédio. (Também não gosto da palavra "hall".) A passagem em minhas mãos me dá medo e ao mesmo tempo força. Não digo a hora que o ônibus vai sair nenhum dia. Quero surpresa que tudo seja como nos sonhos: imprevisíveis, loucos e extremamentes bonitas e desafiantes.
Vou colocar essa carta no correio ainda hoje talvez chegue junto com ela.
e lá vou eu levando na mochila meus animais, minhas montanhas, as cidades vizinhas que ficaram escondidas no mapa de Minas, meus sonhos, espantos, medos e a alegria que é ver e sentir uma menina/ mulher que já viu mar e usa biquíni azul e se chama Ana T.
Não preciso mais colocar o retirar as mãos do queixo, não preciso insinuar Nada, mas que estou morrendo de medo e curiosidade e, isto é verdade.
Por isso, além do beijo precisamos de toda a ternura que há em seu nome nossas palavras.

Beijos e ternura
Do Pedro (Pierre, Petrus, Peter),
Melhor, do Pedro da Ana T.

Ana e Pedro cartasOnde histórias criam vida. Descubra agora