Quinta carta - Pedro

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Ana, Ana

De novo me surpreendi com a sua carta. De novo houve a curiosidade dos irmãos e olhar perguntador de mãe.
a verdade verdadeira é que eu me esqueci de você. Logo lhe enviei a minha resposta, fiquei de tocaia esperando o correio. Passou um dia, passaram 3, 5, 17 e nada. Depois, como é de costume, fui acostumando com a sua ausência e quem se ausentou fui eu. Não mais fiquei na espreita e você conheceu o fundo mais fundo e escuro da minha gaveta. De repente, o correio aparece e eu reconheço a sua letra e lá vou eu abrir a gaveta e o coração. Colocar tinta na caneta, me armar de palavras e sonhos para religar os fios da imaginação.
Dois meses são uma vida. Tenho pressa. O mundo poderia ter acabado sem sua resposta. Depois de 60 anos, digo dias, fiquei imensamente velho. Tenho sede do futuro. Acho que não vou durar muito. Cada minuto é uma eternidade. Agora eu sei que você não é mentira. Não é nuvem, nem espelho. Não é ninguém da turma querendo curtir com a minha cara. Você existe. Tem unhas. dente. escreve cartas. Quebra o braço. Gosta do nome Pedro e quer que eu te ensino a gostar de futebol.
Puxa vida, Ana, gostaria de sonhar com você de novo. Vou invocar as montanhas, os mares vírgulas se possível, os deuses. Faço força de pensamento ponto e rezo para que você apareça no biquíni azul. Eu disse azul? Estou mentindo. O biquíni não tinha cor, mas pode virar azul, se assim queremos. Afinal, Não nascemos acabadas, perfeitos. Por isso te ver em sonhos e quem sabe ao vivo?
Sei que devemos dar um tempo como diz sua mãe - ou avó? mas tem um truque que me ajuda muito. Vou ler a sua carta 1, 3, 30, 90, 1000 vezes, depois deixo-a no bolso até que as palavras, as suas palavras, incorporem ao meu corpo, ao meu sangue e tudo vire pele, tatuagem. Estarei sonhando?
Tiro as mãos do queijo para receber o seu beijo,

Até,
Pedro

P.S. na próxima carta conto mais coisas. Como tu Como gostar de futebol, especialmente do Atlético mineiro. Conto sobre a origem do meu nome. Em tempo: nunca ninguém falou que ele era bonito, por isso vou assuntar com mamãe a história do nome Pedro. Agora vou confessar uma coisa está me matando. Já estou morrendo de ciúmes do J. Wilker

Sempre,
Pedro
Belô, 26-4-89

Revisado

Ana e Pedro cartasOnde histórias criam vida. Descubra agora