Sampa, 15-06-89
Pedro,
Recebi tudo:
a) a carta em que você pergunta se amo alguém;
b) os cartões de Peçanha;
c) a carta em que você descobre meu nome;
d) o LIVRO!!!Vou fazer como minha mãe costuma mandar, começando pelo princípio. minha mãe é assim. Quando meu quarto fica bagunçada demais eu nem sei por onde começar a arrumação, ela diz: "comece pelo princípio, Ana".
como se fosse fácil. Ou como se a gente soubesse onde fica o princípio de uma bagunça.
Nunca vou pensar que suas cartas e cartões são bagunças, mas se não colocá-los em ordem (de chegada, pelo menos), sabe quando é que eu vou conseguir te responder? Pois é, isso mesmo que você pensou. NUNCA!!!
Hoje, estou muito exclamativa e maiúscula. Fica por conta do entusiasmo que ando sentindo com nossa troca de notícias e outras coisas. (Eu ia dizer notícias e afetos, mas não tive coragem.)
Então, vamos lá.A) você pergunta se amo alguém.
Pedro, Pierre, Peter, Petrus, sabe que seu nome é bonito de todo jeito? Só não gosto de Pedrinho.
De vez em quando me chamam de Aninha. Aí, dependendo da pessoa, tudo bem. Se algum dia você me chamasse assim numa carta, eu ia achar o maior barato. Até ia ficar imaginando o tom da sua voz. Tenho te imaginado muito. Vontade de saber como é que você é, de verdade, pra valer. Cor do olho, cabelo, jeito do rosto. Vontade sabe de quê? De te ver me escrevendo. Saber das suas mãos, se você tem dedos finos ou curtos.
Estou falando besteiras? Pode ser. Assumo todas, não me importo.
Achei super bonitos aqueles troços que você falou sobre os passarinhos e natureza. Aliás, eu já ia te perguntar como é que você sabe essas coisas, mas não vou mais. Você sabe, e pronto.
é como o Atlético e o amor, não é? Li sua carta muitas vezes e acabei entendendo. Você tem razão, viu, Pedro? A gente não tem que ficar perguntando nem o outro respondendo, a gente tenha que sentir.
Só quero te falar uma coisinha pequenininha: você disse que quando eu começasse a gostar do galo, ia entender tudo, até o amor. Não pode ser o contrário? Se puder, acho que dentro de pouco tempo estou andando por aí com camisetas preto e branco.
Só mais uma coisica: se eu amo alguém? O que é que você acha?
Se algum dia a gente se conhecer, você me mostra a Parker 51? Te mostro minha coleção de lápis.
Eu também quero fazer muita coisa, no futuro. Muito mais do que uma coleção de lápis. Só não sei direito o quê. Esse negócio é difícil, não é? Tomara que aconteça igual no amor. De repente, a gente descobre.
Ah, Pedro, e suas dúvidas sobre o meu nome? Prefiro o último, sabe por quê? Por causa da "mulher" de vestido azul. A Ana Tomate é uma "menina", a Tutu uma "morena", a Tetéia uma "gatinha". Continuo gostando de ser chamada de "mulher". "A única no pedaço", lembra?Quanto Aníbal Machado, não se preocupe.
qualquer dia disfarço esse mistério. É só você ter calma e paciência e confiar no correio.
por enquanto, te adianto que não sou a Tati. Nem a Duília, que abriu a blusa e mostrou os seios pro namorado, numa procissão. como você ver, eu também li. Pena que coisas bonitas assim só acontecem nos livros. Se o José Wilker nunca leu, está perdendo.
ADORO CAQUI!!! Manda o logo o meu, pô!'Beijo da
Ana
B) Os cartões de Peçanha.
Pedro, Pedro,
Como é que eu faço pra conhecer essa "cidade escondida no mapa de Mina", Como disse o seu pai? Acho que ele também é poeta.nunca fui numa cidade tão pequena. Conheço São Paulo, Campinas, Santos, Guarujá, Jundiaí, Atibaia, Sorocaba, Cabo frio, Rio, niterói, algumas outras.
Peçanha é menor que a ponte Rio-Niterói, não é? pelo menos, é o que asfalto parece dizer. Gostei dos dois cartões. Tentei descobrir, naquele que mostra a cidade inteira, onde era a rua que o outro detalhava. Não consegui. Tão difícil quanto o futuro da gente.
Mais do que dos cartões, gostei de ler você dizendo que sentiu saudade de mim. Não, não vou te perguntar a razão. Já aprendi: a gente sente e não sabe ne, precisa explicar.
Não sabia o que era "footing", mas a gente tem pai pra quê? Agora já sei.Ana
A que quer conhecer Peçanha.
C) você descobre meu nome.
Pedro,
Viu? Nem Tati nem Duília.
e tem mais: nunca ninguém tinha me falado em beijo apertado. Muito menos mandado. É igual abraço?
Te mando um, apertado e comprido.D) O LIVRO!!!
Ah, Pedro,
Quando meu pai disse que tinha um pacote para mim, parecido com o livro, trazido pelo correio, gelei. Pensei que fosse João ternura voltando. "Que azar", pensei.
quando reconheci sua letra e arrebentei o barbante e, quase não acreditei; nunca te vi... Sempre te amei.
Ano passado com colega me convidou para ver o filme com ele. Fez o maior sucesso aqui. Aí também, com certeza. Não fui. Eu andava meio grilada com esse cara, achando que ele tava querendo me namorar e, para variar, eu não sabia nada de mim. Hoje, percebo que ele só queria ir ao cinema, mesmo.
Meus grilos, pura bobagem, me deixaram sem conhecer o filme.
Melhor assim, sabia? ainda que eu soubesse que era uma história de amor por correspondência, não imaginava qual história. De que jeito, com que cara.
E é um jeito lindo, não é não outro dia eu fiquei apaixonada. Até chorei. Não na hora em que ele morreu (você não vai morrer, não é, Pedro?), mas na hora em que ela chegou em Londres depois de tantos planos e sonhos.
Isso segundo a orelha do livro, o filme não mostrou.
o livro tem uma "segunda parte" que o filme não tinha ponto no filme, a história acaba com a morte no livro, continua ponto prefiro assim, continuando o ponto a gente chora mas não é sofrido. Bonito também, muito.
muito, muito mais bonito que tudo, a sua dedicatória, que vou escrever aqui, de tanto que eu gosto:"Ana acho que este livro diz alguma coisa para gente.
Pedro
P.S. NUNCA te vi, mas acho que já te amo."
Tomara
Ana T.
Que também nunca te viu.
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Chega de enrolar....
Pedro, o que eu quero mesmo é dizer que te amo....
Ana T.
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Ana e Pedro cartas
Teen Fiction"Oi, Pedro, vou te avisando: você não me conhece. Quem me falou em você foi a Malu, que eu conheci nas últimas férias, em Cabo frio. (...) estou escrevendo, mesmo sem saber se você vai gostar. Se você for responder, te juro vou adorar. Adoro cartas...