Belo Horizonte, 12 de Fevereiro de 1989
Ana, meu abraço
Li sua carta mil vezes. Ela não sai do meu bolso. O envelope já está um farrapo e as palavras amassadas.
quando sua carta chegou, todos ficaram curiosos. Clara, irmã menor, não saiu do meu pé. toda hora me perguntava quem era Ana como responder, se nem eu mesmo sei quem é Ana? Tive de fugir de todos. Fui gastar ruas.À noite, quando já estava pegando no sonho, apareceu minha mãe querendo saber de Ana. Menti. Falei que Ana era invenção de Clara, ou será que invenção minha? A carta que receberá era da biblioteca do colégio me cobrando livro emprestado. Minha mãe não engoliu essa história e disse para tomar cuidado com as cartas desconhecidas. Mãe é mãe e é vidente e você sabe disso.
Tá aí no sonho e a primeira pessoa que apareceu foi você. Estava de biquíni em Cabo frio. Só que não havia mar, havia montanhas e montanhas. Um mar de montanhas e você era a única mulher no pedaço. As outras pessoas eram vendedores de picolés, cocos, peixes. quando me aproximei de você, a montanha virou mar de novo inundou toda praia.não consigo me lembrar do seu rosto, de seu corpo. Só me lembro da água virando montanha de novo e de uma flor falando do meu nome. A flor era você, certamente.
Acordei sobressaltado. Suava. Tentei recompor o sono. Nada. (Em tempo: não conheço mar, nem Cabo frio. Só sei que Mar é um mundão de água escorrendo pelo planeta Terra.)água lavou meus olhos e o sono viajou para o mar. Lembrei de sua carta. Fui ao banheiro, tranquei a porta. Era madrugada. Enquanto o dia não clareava, pude beber suas palavras ao som dos passarinhos madrugadores. Mais uma dúvida me assaltou. Sou desconfiado, matreiro, mineiro E me perguntei: "Será que Ana existe de verdade ou é uma gozação de algum sacana?"
matutei bastante. Até cocei a cabeça e coloquei a mão no queixo como os filósofos gregos. E resolvi e resolvo bancar esse jogo. E digo para mim: "sou brinquedo nesta dança, barbante neste pião e quero ser feliz". E em paz comigo, faço de conta que tudo é verdade e entro de asas abertas nesta aventura. Neste enredo.
Malu é uma querida maluca que tem mania de me achar baixinho. Na verdade, não sou alto, talvez nem serei. Malu é grandona e acha que todo mundo deve ser do seu tamanho. Coisa de gente grande. Já minha mãe acha que esse negócio de altura é competição de gente besta. Diz para todo mundo ouvir: "homem não se mede com régua. Não é arranha-céu, Corcovado, ponte rio-niterói. Homem tem que ser é macho, honesto, trabalhador, o resto é conversa fiada" aí tem que concordar com ela.
E mãe é mãe e você sabe disso.
Você me pergunta se gosta de alguma coisa (Olha que estou embarcando em sua viagem. Se você for de mentira, juro que te mato). Gosto de muitas coisas e detesto outras tantas. Sou vidrado em futebol. Gosto de futebol como se gosta de sorvete e de beijo no escuro do cinema. Futebol é minha paixão. qualquer dia desses arranjo coragem e vou treinar no meu Atlético mineiro. Chego lá todo posudo e digo para o Zé das camisas, o treineiro: "me dá a camisa 9 e teremos gols para o resto da vida". Sonhar é bom e travesseiro é barato.
Afinal tudo é sonho, tudo é mel.
Os outros segredos ficam para o futuro. A sua existência ainda mistério.
Nem certeza de sua resposta fica o meu abraço e meu adeus,Pedro
Revisado
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Ana e Pedro cartas
Novela Juvenil"Oi, Pedro, vou te avisando: você não me conhece. Quem me falou em você foi a Malu, que eu conheci nas últimas férias, em Cabo frio. (...) estou escrevendo, mesmo sem saber se você vai gostar. Se você for responder, te juro vou adorar. Adoro cartas...