Foi na Rocinha

Capítulo 1

Felipe Borges.

Essa noite foi tensa, bala comeu no centro a madrugada toda, coroa cansada e o Lucas queimando de febre.

Deus é bom e agora de manhã a febre do moleque abaixou, tanto que já tá dando um puta trabalho pra se arrumar pra ir pro colégio.

Nina: Lucas, pelo amor de Deus, já são dez pras oito, vai pegar a camisa pra você não atrasar seu irmão. -gritou lá da sala e eu logo vi ele vindo resmungando em direção ao quarto.

Borges: vai chegar tarde hoje? -parei na porta da cozinha e ela negou com a cabeça.- então a noite vou jogar bater um fut, beleza?

Nina: ta tranquilo filho, eu cuido do teu irmão. -veio até mim e me deu um beijo no rosto.- agora adianta o lado que você já ta atrasado.

Desde que começou a trabalhar em uma loja de roupa é raro dona Nina chegando cedo em casa, mas parece que essa semana deram uma aliviada pro lado dela.

Minha mãe é meu maior orgulho, tá ligado? me teve com quinze anos, perdeu meu pai quinze anos depois, enquanto tava gravida do meu irmão.

Assim que eu completei dezesseis anos comecei ajudar ela com as responsabilidades de casa, com dezessete terminei o ensino médio e dai pra frente consegui ajudar mais e mais.

Hoje com 19 trabalho na barbearia de um dos meus parceiros, o Jhony. A renda que sai de lá é baixa, mas é o suficiente pra ajudar nas contas.

Todo dia oito e vinte tenho que tá abrindo o estabelecimento, depois de levar o Lucas pra escola, como estou fazendo agora.

Borges: se você não andar no canto eu vou te levar no colo igual uma criança, entendeu moleque?

Lucas: larga de ser chato, parece a mãe. -disse todo embolado do jeito dele e foi pro canto da pista.

O moleque é pra frentão, todo desbocado, fala o que vem na mente, mas sendo educado, ta ligado? isso ele puxou a mim.

A escolinha dele nem é tão longe, cinco minutinhos na paleta, nós já chega.

Borges: toma a mochila. -tiro das costas e entrego a ele- se comporta, ein feio?

Lucas: pode deixar feioso -fez um toque comigo e logo passou pela porta.

Cumprimentei umas professora que ficavam la na frente e continuei andando em direção a barbearia que era na esquina da rua.

- já ta ai né, meu cria. -olhei pro lado e vi o Bruno vindo na minha direção.

Borges: porra, como sempre, né parceiro? -fiz um toque com ele.

Maquiny: sempre na função. -deu um sorriso ajeitando o fuzil nas costas.- como ta as coisas em casa? tia Nina ta como?

Borges: ta tudo na paz graças a Deus, dona Nina ta daquele jeito de sempre. -falei enquanto destrancava a porta da barbearia.

Maquiny: malucona, então? -nós rimos.- vai colar na pelada mais tarde?

Borges: claro, hoje seu time ta salvo.

Maquiny: quem salva aquilo ali é nós. -fez um toque comigo novamente.- qualquer coisa ai só acionar, tu ta ligado que to sempre a disposição.

Borges: só a agradecer a tu pai.

Ele logo saiu dali e eu entrei, coisa de minutos já tinha até cliente. Fiquei até impressionado, esse final de semana tem pagode, normalmente movimento é só apartir de sexta.

Mas já aproveitei e alinhei o cara enquanto o Jhony e os outros caras não chegam.

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