Capítulo 1

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Eu estava tarde da noite esperando Carlos, meu irmão mais novo, pegar no sono para poder ir atrás de alimento para nós. Há cerca de um mês, nossa mãe havia falecido e eu passei a me virar para cuidar não só de mim, mas dele também.

Quando ouvi sua respiração cansada, soube que ele estava dormindo. Desentrelacei cuidadosamente nossos dedos e dei um beijo cauteloso em sua testa antes de sair de casa. Era uma casa de madeira com quatro cômodos: uma sala, que era, na verdade, só um sofá de dois lugares e uma mesa velha de centro; a cozinha, resumida em uma mesa com um pé quebrado, e um fogão e geladeira de segunda mão; um banheiro muito apertado e um quarto com uma cama de casal que até pouco tempo era dividida por três pessoas.

Saí da casa, tentando fazer o piso de madeira não ranger, mas sem obter sucesso, e fui em direção à parte nobre da cidade, eu morava em uma cidade pequena. Assim como haviam casas simples, também haviam casas enormes, com jardins verdes e floridos, frequentadas pelas pessoas ricas. Era para lá que eu iria. Já fazia um tempo que eu vinha observando um casarão em específico, a casa dos Moscovis. Os Moscovis eram uma família muito rica e importante da região. O sr. Moscovis já foi prefeito da cidade, mas renunciou algum tempo antes de ficar doente e falecer. Sua esposa ficou de luto por um bom tempo. O casal tinha dois filhos mais velhos e uma menina pequena. Eu nunca vira a família de perto, muito menos chegara a falar com algum deles, mas provavelmente eram mesquinhos como a maioria dos ricos da cidade.

Pelo que eu tinha observado, a casa não tinha seguranças durante a noite e nem câmeras, ou seja, era a oportunidade perfeita para arrumar algum alimento para mim e Carlinhos.

Quando cheguei na frente da casa hesitei por um momento, mas então segui em frente. Por mais que eu soubesse o quão errado aquilo era, precisava fazê-lo por meu irmão. A casa era enorme, era composta por uma arquitetura antiga, provavelmente barroca. E tinha, na frente, uma elegante grade dourada. Abri a grade, que por incrível que pareça estava destrancada. - Como essas pessoas podem ser tão ingênuas? - A cidade pode ser pequena e pacata, mas deixar a grade aberta era extrema burrice.

Segui pela lateral da casa, em direção à parte de trás, onde ficavam a piscina e uma espécie de cozinha ao ar livre, algo que eles, com certeza, acrescentaram após comprar a casa, considerando o aspecto antigo.

Quando cheguei na parte de trás da casa, me surpreendi com a piscina. Era enorme e iluminada. Era linda. Desejei internamente um dia ter aquilo para mim e Carlos. Eu amava ele mais que tudo nesse mundo. Ele parecia um anjo, tinha cachos loiros e olhos iguais aos meus, de um verde-esmeralda. Além de ser uma criança extremamente gentil e compreensiva. Por isso eu e mamãe sempre o chamamos de anjinho.

Comecei a vasculhar os armários da cozinha externa, até que ouvi vozes. Meu corpo congelou. Vi a silhueta de duas pessoas saindo pela porta dos fundos da casa, mas não consegui identificar. Rapidamente me abaixei atrás do balcão e tive cuidado para não fazer nenhum barulho respirando, apesar de estar ofegante

- Você não tá entendendo - exclamou, ele tinha uma voz rouca e doce, apesar de estar levemente alterada.

- Você que não entende, cara. Ela não vai saber. O que os olhos não veem o coração não sente.- Ele deu uma risada em tom superior.

- O que os olhos não veem?- perguntou indignado – você não pode mais fazer a Joana pagar papel de besta! Todos nessa cidade sabem como você a trata. Ela não acredita em ninguém porque está cega! Ela está apaixonada por você e pensa que você é um santo. Pare de brincar com os sentimentos dela!

- Noah, escuta, eu realmente sinto muito que a Joana tenha me escolhido - mas pelo tom da sua voz, eu notei que ele não sentia nada – mas já está na hora de você esquecê-la e parar de tentar se intrometer.

- Eu que sinto muito, Vicente. Sinto muito por você ser tão imaturo que depois da morte do papai virou essa pessoa que não liga pra mais nada, inclusive o sentimento dos outros. Você está magoando todos à sua volta, está fazendo a mamãe sofrer. Ela não merece isso, ela não merece sofrer por causa do seu egoísmo.

Nesse momento percebi que Noah, o filho mais novo dos Moscovis tinha tocado na ferida de seu irmão, pois Vicente ficou calado, parecia indignado.

- E se você é tão covarde que não consegue contar pra Joana que a traiu, então pelo menos termine com ela! Ela merece muito mais que isso. - Gritou Noah, se dirigindo de volta para casa.

- Vai se ferrar! - Gritou Vicente e depois de algum tempo entrou também.

Ouro e EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora