Capítulo 24

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Tudo aconteceu muito rápido, acordei assustada com batidas na janela do meu quarto. Abri a cortina e me deparei com uma Natália vermelha e histérica.

- Você não me ouviu te chamando? - Perguntou, quase gritando, e saiu correndo para a porta da frente, eu fiz o mesmo e abri para ela.

- O que aconteceu, Natália? - Perguntei preocupada – Já passa da meia-noite!

- Vá se trocar, precisamos ir para o hospital agora, Noah sofreu um acidente.

- O quê?! - Meu coração alcançou um ritmo que eu julgaria impossível – O que aconteceu?

- Vamos logo, Elisabete, eu te explico no caminho.

Atordoada, vesti minha calça jeans e joguei um moletom por cima da blusa do pijama. Natália explicou a situação para Carlinhos, que estava de pé, confuso.

- Carlinhos ficará na casa de dona Tereza – Avisou Nat.

Deixamos ele lá e Nat dirigiu até o hospital, no caminho ela disse que só sabia que Noah havia perdido o controle do carro e colidido com uma árvore.

Na metade do caminho, as minhas lágrimas deixaram de rolar, eu fui tomada por um medo que só havia sentido uma vez antes: quando descobri que minha mãe estava doente.

Meu cérebro estava formando as mais terríveis imagens e possibilidades, enquanto eu tentava fugir disso, mas faltava fôlego para fugir, o ar não chegava mais em meus pulmões e o meu desespero aumentava a cada segundo.

Percebendo isso, Nat encostou o carro e se virou para mim. Tentei protestar, mas as palavras não saíam da minha boca, eu não conseguia mais controlar minhas ações.

- Você precisa se acalmar, Bete – Disse, buscando minha mão – Não pode chegar no hospital assim. Eu sei que você está com medo, eu também tô, mas você tem que respirar fundo e acreditar que está tudo bem.

Ela me envolveu em um abraço reconfortante, aos poucos eu consegui respirar fundo e lutar contra minha própria mente, contendo os monstros que ela criava para me aterrorizar. Então as lágrimas voltaram e Nat permitiu que eu chorasse em seu ombro por alguns minutos e, quando me contive, voltou a dirigir.

                                                * * *

Quando chegamos ao hospital, Nat me levou até Joana e Vicente. Ela estava sentada com um copo de café na mão, enquanto Vicente andava de um lado para o outro, falando com alguém pelo celular.

- Como ele está? - Perguntei, sentando-me ao lado de Joana, com esperança de parecer calma.

- Dormindo, não nos deixaram entrar ainda – Ela parou para respirar – Ele sofreu uma concussão leve e alguns cortes, mas está tudo bem.

Apenas balancei a cabeça e Vicente veio em nossa direção.

- Finalmente consegui falar com minha mãe, o celular dela estava desligado, mas ela disse que vai pegar o primeiro voo que conseguir – Então ele me notou e acenou com a cabeça.

Aquela foi a primeira vez em que eu vi Vicente daquele jeito. Seu cabelo, sempre penteado para trás e sem um fio fora do lugar, estava apontando para todos os lados, seus olhos estavam vermelhos e sua expressão era um misto de cansaço e desespero.

Nat, que havia sumido por alguns minutos, voltou e me entregou um copo de água. Agradeci, mas sentia que vomitaria se ingerisse algo.

De repente, um homem passou como um vulto pela minha frente e envolveu Vicente em um abraço. Ele se afastou um pouco e segurou o seu rosto entre as mãos, sua pele negra contrastando com a face muito pálida do outro.

- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem – Ele repetia enxugando as lágrimas que desciam pelas bochechas de Vicente.

Joana assistia à cena com um ar de surpresa e confusão, mas logo fixou seu olhar no chão, escondendo-se em meio aos seus cachos.

Ficamos sentados lado a lado por algum tempo, eu descansava a cabeça no ombro de Nat e segurava com firmeza a mão de Joana. Já Vicente estava ao lado do homem que nos foi apresentado como Luís Felipe e trocava mensagens com a mãe, que estava em São Paulo, tentando embarcar em um voo logo.

                                                  * * *

Em pouco menos de uma hora, fomos liberados para ver Noah em duplas. Depois de Vicente, que entrou sozinho, era a minha vez e de Joana. O quarto mesclava entre branco e verde e Noah estava acordado, ligado a fios e aparelhos. Ele estava coberto de curativos e era difícil achar uma parte de seu rosto em que não houvesse hematomas.

- Jo – sussurrou Noah, com a voz rouca, quando Joana aproximou-se da maca. Ela sorriu e pegou sua mão.

- Eu e sua Lizzy – Disse, virando o rosto em minha direção, que ainda estava na porta.

Noah ergueu a cabeça com dificuldade e fez uma careta de dor, mas quando me viu abriu um sorriso, ou quase isso.

- Oi, Noah – Me aproximei e toquei seu cabelo.

- Oi, Lizzy – Respondeu com dificuldade.

- Não fale, você tem que descansar. Eu estarei ao seu lado o tempo todo, não se preocupe.

Noah não disse nada, mas me lançou um olhar que eu sabia que era de agradecimento.

- De nada – Respondi e os cantos de seus lábios se ergueram em um sorriso.

Ele estendeu sua mão para mim e eu arrastei uma cadeira para perto da cama, sentei-me e entrelacei meus dedos nos dele. Em seguida, Noah fechou os olhos e, apesar dos hematomas e faixas no rosto, sua expressão era de paz.

                                                * * *

Eu havia pego no sono naquela cadeira desconfortável e ainda estava segurando a mão de Noah quando ouvi a porta abrindo e a Sra. Moscovis entrando no quarto.

- Sra. Moscovis – Cumprimentei e estava me levantando quando ela me interrompeu:

- Não precisa se levantar, Elisabete – Disse, sua voz era baixa e ela apresentava olheiras embaixo dos olhos e o cabelo preso num coque assanhado – Obrigada por cuidar do meu filho, querida. Não sei como posso agradecer – Ela se aproximou de Noah e alisou os fios de seu cabelo.

- A senhora não precisa agradecer, não foi nada – Respondi.

Ela sorriu com os olhos para mim e contornou a maca de Noah para chegar a mim.

- Você é muito importante para ele, Elisabete – Disse, segurando minhas duas mãos – Vicente lhe contou que quando os paramédicos foram socorrê-lo ele estava sussurrando seu nome?

- O quê? - Perguntei surpresa – Eu não sabia disso.

- Bom, agora você sabe – Ela abriu um sorriso de gratidão que eu retribuí.

Em seguida, eu os deixei sozinhos no quarto fui para o corredor. Vicente e Luís Felipe ainda estavam lá, mas Joana e Natália não.

Sentei-me ao lado deles e perguntei onde elas estavam.

- Natália achou melhor ir pegar seu irmão, acho que ela está na sua casa com ele. E eu insisti que Joana fosse para casa dormir – Respondeu Vicente – Você também deveria ir, já passa das quatro horas. Eu tenho que ficar aqui com minha mãe, mas Luís pode te dar uma carona.

A princípio, protestei contra a ideia, mas os meninos me convenceram a ir e voltar mais tarde. 

Ouro e EsmeraldaOnde histórias criam vida. Descubra agora