Após contar a ele (que não havia se apresentado, mas pela voz eu imaginava que era o Noah) sobre os problemas com o currículo, fui levada para dentro da casa. A decoração era moderna e bem planejada, parecia coisa de novela. Havia uma escadaria no centro da sala que dava origem a dois corredores no primeiro andar. Aquela era a casa que qualquer pessoa sonharia em ter.
Ele me guiou para uma sala, uma espécie de escritório\biblioteca. Lá encontrei com a Sra. Moscovis.
- Mãe, esta é uma das candidatas ao emprego.
- As entrevistas já foram encerradas – Disse ela, olhando por cima dos óculos de leitura. A Sra. Moscovis era uma mulher jovem, tinha no máximo 40 anos, a idade que minha mãe teria se estivesse viva. Era alta, magra e tinha os cabelos castanhos presos em um coque bagunçado que eu desconfiava ter sido feito agora. Apesar de jovem, tinha uma aparência cansada.
- Por favor, mãe – Disse ele e em seguida se aproximou dela e sussurrou algo em seu ouvido.
- Está bem – Cedeu – Espere lá fora, filho.
Ele se dirigiu para fora da sala, mas não sem antes de me lançar um olhar que eu não consegui decifrar.
- Então, qual seu nome? - Perguntou fazendo sinal para que eu sentasse na cadeira à sua frente.
- Elisabete Oliveira – Seu olhar endureceu com minha resposta.
- Filha de Eleonor Oliveira?
- Sim – respondi com um sorriso – A senhora a conheceu?
- Não exatamente. Digamos que ela já teve uma pequena ligação com a família.
Abri a boca para questionar isso, mas fui interrompida:
– Quantos anos você tem, Elisabete? - Perguntou, segurando papel e caneta, pronta para anotar tudo.
- Tenho dezesseis – respondi, mas meu cérebro ainda questionava todas as possibilidades de uma relação que minha mãe poderia ter tido com essa família.
- Bastante nova. Então... Qual o motivo de você querer este emprego?
- Preciso de um emprego para cuidar do meu irmão. Depois que minha mãe morreu tudo ficou mais complicado. Há dias que praticamente não consigo pôr comida na mesa. Mas se a senhora me der esse emprego tudo vai mudar.
- Entendo, entendo. - Ela claramente não entendia. Nunca passou necessidades na vida - Qual a experiência que você tem com crianças?
- Cuido do meu irmão desde que eu tenho 10 anos e ele 4. Também já cuidei de várias crianças da cidade para ajudar as mães.
- Até que é bastante experiência para alguém da sua idade.
Fomos interrompidas por uma batida na porta e Noah entrou segurando a mão de uma criança que eu imaginei ser Alice.
- Sinto muito por atrapalhar mãe, mas ela insistiu em vir até aqui.
- Essa é a moça bonita que você falou? - Perguntou Alice, sua voz de criança era extremamente doce.
Olhei para Noah e nossos olhares se encontraram por dois segundos. Ele estava constrangido, isso era inegável. Fui a primeira a desviar o olhar, mas pelo canto do olho percebi que ele ainda me olhava.
A Sra. Moscovis pigarreou desfazendo o silêncio desconfortável causado pela pergunta de Alice – Elisabete, receio que nossa entrevista já tenha acabado. Vou pedir para o motorista lhe levar para casa. Está tarde para ir andando desacompanhada.
- O turno do Mário já terminou, mãe. Eu posso levá-la em casa.
- Não – disse desesperadamente – Não precisa, muito obrigada, mas não precisa disso. Não quero atrapalhar. - Tudo o que eu menos queria era ficar num carro sozinha com Noah.
- Você não vai atrapalhar – Insistiu – Eu não estava planejando fazer nada agora. Vamos – Disse já pegando minha bolsinha de couro desgastado e se dirigindo à porta.
- Muito obrigada por tudo, Sra. Moscovis. - disse apertando sua mão e ela deu um sorriso meigo assentindo.
- Tchau, princesa – Me despedi rapidamente de Alice e recebi um sorriso.
Saí pela porta seguindo Noah, estava praticamente correndo para acompanhar seus passos largos.
- Eu realmente não preciso que você me leve em casa – Disse, tomando minha bolsa de volta.
- Tudo bem, então eu só vou passear com o Almofadinhas. Vem garoto – Ouvindo isso, o cachorro avançou na direção do dono, abanando o rabo.
Saímos da casa ao mesmo tempo. Estávamos caminhando quando Noah quebrou o silêncio que havia se instaurado entre nós.
- Sobre o que a Alice disse... Sinto muito se ela te deixou constrangida, ou alg...
- Você não deveria estar indo para o leste? - Interrompi.
- Por que acha que eu deveria estar indo para o leste? - Perguntou enquanto sua sobrancelha esquerda se erguia.
- Por que o leste é a parte da cidade frequentada por pessoas como você. - Respondi de uma forma que pareceu um tanto rude.
- Pessoas como eu? - Indagou, fingindo estar ofendido.
- Você entendeu o que eu quis dizer. Pessoas ricas não frequentam o oeste.
- Diferentemente do que algumas pessoas pensam, acho um erro terrível o fato dessa cidade se dividir entre moradores do leste e moradores do oeste. Somos apenas moradores. Apenas pessoas.
Parei ao ouvir isso. Eu concordava plenamente, é claro, mas fiquei abismada com sua opinião, considerando que ele fazia parte da família mais rica da cidade. Provavelmente ele só disse isso para ser educado afirmei em pensamento.
- Então quer dizer que você frequenta o oeste? - Perguntei em tom duvidoso.
- Sim, eu e esse cão pulguento – Disse afagando a cabeça do cachorro.
- Prove. - Pedi e ele me olhou como quem dizia é sério isso?
- Toda sexta-feira a Conceição serve torta de cereja no café dela, por isso é meu dia preferido na semana.
- O que? Não acredito que você frequenta o Café da Conceição! - exclamei – Eu não vou com tanta frequência, mas nunca te vi lá.
- Faz 1 ano e meio que eu não vou mais lá. Eu ia com meu pai – Disse baixando os olhos.
- Sinto muito – murmurei, contendo uma vontade enorme de dar um abraço nele e dizer que estava tudo bem.
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Ouro e Esmeralda
RomanceElisabete Oliveira é uma garota de 16 anos que mora em uma pequena cidade dividida entre a parte rica e a parte pobre. Pensando em seu irmão mais novo, sua única família, Elisabete aceita um emprego de uma das famílias mais ricas da cidade. Acredita...