Sem licença para dirigir

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Apesar de eu não querer receber privilégios de ninguém, acho que algumas coisas são diferentes para mim. Prova disso foi eu ter ganhado, de surpresa, uma Range Rover de presente de aniversário.

Fala sério!

Estava me sentindo meio patético porque não podia dirigir - eu ainda não tinha carteira de motorista. Dei uma votinha pelo quarteirão certo dia, escondido, e a mamãe ficou irritadissima!
-  Justin! Você sabe que não pode dirigir esse carro. Você nem tirou a carteira. Nem a provisória você tem ainda!
Que ridículo! Eu já tinha 16 anos e ainda não tinha tido tempo de tirar minha carteira provisoria.
- Eu deveria ter tirado ano passado - argumentei com a mamãe. - Se continuar nesse ritmo, so vou ter carteira com trinta anos.
- Ok. Vamos reservar um dia da semana que vem para isso. A prioridade máxima vai ser correr atrás da sua carteira.
Reservei o dia e avisei á equipe. O dia chegou, e envie uma mensagem a todo mundo que tinha telefone celular, contando que tiraria minha carteira: "Uh - hu! Carteira de motorista ainda hoje! A liberdade está chegando!"
- Você estudou para a prova? - perguntou o Scooter.
- Claro. É. Bem...você sabe... Pensei nisso. Pensei em dirigir, quero dizer.
Tranquilo. Não se preocupe, não vou ser reprovado.
- Acho que é melhor você estudar um pouco mais, Justin.
- Eu já disse: não vou ser reprovado.
- Tem gente que é reprovada na prova porque nem passou os olhos pelo livro teórico.
- Cara, não vou ser reprovado.
E lá fui eu, reprovado na maldita prova.
Entrei na sala cheio de esperança de sair com a carteira provisória, sentar no banco do motorista e iniciar minha vida como um homem livre. Em vez disso, tive de encarar a mulher do outro lado do balcão, tentando não escutar o que ela estava dizendo.

- Opa! Por pouco! Você ficou reprovado por uma questão - disse ela, sorrindo.

- Como? Não é possível.

Ela me entregou um papel que não era minha carteira provisória.

- Tire um tempinho para revisar as respostas e volte em trinta dias.

- Trinta dias?

Ela só podia estar bricando comigo. Eu nem sabia em que país estaria em trinta dias. Só sabia que seria trinta dias mais velho, e sem carteira.

Murmurei um "obrigado", coloquei meus óculos escuros e enterrei o boné na minha cabeça. Mamãe me esperava na recepção, e, quando me viu, não precisou nem perguntar o que tinha acontecido.

- Ah, Justin... Está tudo bem, vai ficar tudo bem. Você pode tentar de novo...

- Vamos embora, por favor?

Do lado de fora, no estacionamento, chovia pra caramba, e a mamãe correu para dentro do carro. Para o banco do motorista. Que droga, cara! Aquilo não era justo! Eu não conseguia aceitar. Comecei a andar. Caminhar vinte quilômetros na chuva parecia mais fácil que sentar no banco do corona, quando eu só pensava em voltar dirigindo pra casa.

A mamãe abaixou um pouco o vidro e gritou: - Justin! Você está ficando ensopado! Entre no carro!

Eu estava prestes a chorar, e não ia de jeito nenhum me sentar no banco do corona, choramingando como uma criacinha de dez anos.

Mamãe continuou me chamando enquanto eu caminhava em direção ao fim do estacionamento e me aproximava da rua. Parecia que todos os carros que passavam estavam me caçoando.

Bobão, bobão. A gente pode dirigir, você não!

Uma garota passou dirigindo, tagarelando no celular e retocando a maquiagem enquanto ziguezagueava rua abaixo, mas ela certamente tinha carteira não tinha? Uma velhinha dirigia a trinta por hora. Mal conseguia enxergar além do volante do seu Cadilac, mas obviamente não sofreu para passar na maldita prova. Um cara grandalhão cruzou a avenida em sua picape, fumando um cigarro, e jogou a guimba na rua como se o mundo fosse um grande cinzeiro. Ele pode dirigir, e eu não?

- Ahhhh! Eu te odeio! - berrei para ele. Foi tão revigorante que berrei também para o próximo motorista: - Eu te odeio! E te odeio também! E você também! Odeio!

Mamãe continuou sentada no carro enquanto eu descontava minha frustação no tráfego.

- Justin, já chega. Justin, falando sério, entre no carro... agora. - gritava ela de tempos em tempos, baixando um pouco a janela.

Finalmente entrei, ensopado. Justin Bieber, o mais novo pop star do mundo, sem carteira provisória de motorista. Naquele dia, mais tarde, o Scooter e o Kenny aparaceram para me levar a algum lugar.

- Isso é um saco - disse a eles.

- É um saco mesmo - o Scooter concordou - Mas trinta dias passam rápido. Da próxima você consegue.

- Bombei por uma questão, e quando olhei as respostas: logo aqui, olha só; sabia que tinha marcado a certa - puxei o papel todo amassado do meu moletom. - "Quando é permiitido virar á direita num semáforo, você deve (a) continuar e virar á direita. (b) desacelerar antes de virar á direita, ou (c) para completamente e depois virar á direita."

- Cara você tem que parar completamente e depois virar á direita - lançou o Scooter.

- O quê? Claro que não! Ninguém nunca para completamente.

- Bem, mas deveria.

- Você mesmo nunca para.

- Paro, sim. Sempre paro.

- Cara, já andei no seu carro umas dez milhões de vezes, e você nunca parou completamente antes de entrar á direita.

- É verdade, cara - disse o Kenny, me ajudando. - Você nunca para, Scooter.

- Bem, isso é... Ok. Mas não importanta o que eu faço - disse Scooter.

- O que importa é a lei, e a lei, e a lei diz que você tem que parar completamente, e agora você sabe disso. Você vai fazer a prova de novo,  e dessa vez é bom estudar a cartilha.

Enfie o papel de volta no bolso, perguntando - me por  que não havia estudado para a prova? Mas apesar disso, em voz alta, dizia:

- Isso é besteira, cara. Que saco.

- Eu sei - disse o Scooter. - Também bombei na minha primeira prova.

- Bombei três vezes - acrescentou o Kenny. - Na quarta vez, engatei.

O Scooter e eu olhamos para ele por alguns segundos, e depois todos nós começamos a gargalhar sem parar.

- Quatro vezes... Admiro sua presença, Kenny. Se fosse comigo, ainda estaria andando de bicicleta - comentou o Scooter.

Não conseguíamos para de rir. Acho que nesse dia aprendi que, independentemente do quanto as coisas estejam indo mal, sempre há muita risada no fim do túnel. É só procurar um motivo.

Justin BieberOnde histórias criam vida. Descubra agora