Boa sorte

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Em novembro de 2009, fui convidado para abrir o show da Taylor Swift no Wembley Arena, em Londres. Era a maior planeta que eu já tinha visto até então - mais de 12 mil pessoas. Não fiquei nervoso, mas empolgado por estar com a Taylor diante de tantos fãs queridos.

Antes disso, o Usher me ensinou como aproveitar a energia incrível de um público tão grande assim.

- Deixa o público interagir com você. Eles querem cantar junto. Sei que você se esforça para cantar todas as letras direitinho, mas algumas vezes, deixe por conta deles. Deixe eles participaram, sabe? Porque eles fazem parte disso, dessa conexão. Eles estão conectados a você. Pense nisso. Torne isso parte de você. Você está aqui e lá. Esse é o momento deles, aquele toque, aquela relação.

Eu estava eufórico. Subi no palco, fiz meu show e tudo saiu ótimo. O Tay James animou nossa última música antes do bis.

- Quando eu disser "Justin", vocês gritam "Bieber"! Justin! Vocês gritam "Bieber"! Justin!

- Bieber
- Justin!

- Bieber!

- Quando eu disser "One", vocês dizem "Time"! One!

- Time!
- One!

- Time!

Aquela energia de que o Usher falava era uma coisa viva, pulsante - multiplicada por 12 mil. Comecei a descer a rampa. Minha voz estava boa e meus movimentos, firmes; estava dando tudo certo,até eu chegar ao final da rampa, parando a apenas alguns centímetros de onde deveria ter parado. Meu pé escorregou para a direita, na beira da rampa, e parecia que eu estava pisando em um prego. A dor instantaneamente subiu do meu dedão até minha nuca. Eu tinha quebrado o pé andando de skate no ano anterior, então soube imediatamente que aquilo não podia ser coisa boa.

Eu tinha quebrado o pé.

No meio de uma música.

Na frente de doze mil pessoas.

E na frente da Taylor Swift.

Nem vou contar as palavras que vieram à minha mente. No entanto, a música continuou fluindo pelos meus lábios, em parte memória muscular, em parte por ser duro na queda no hockey, em parte no piloto automático do treinamento da Mama Jan. Continuei a cantar, e o público enlouquecia, mas a equipe que estava perto do palco começou a me olhar, desconfiando que algo estava errado. Eu não tinha como dançar da forma como normalmente danço. Provavelmente, eu estava dançando como aquele professor de química desengonçado que eu estava pisando em outro prego. Usei todas as minhas energias para não gritar. Tudo o que eu podia fazer era me esforçar para ter fôlego e terminar a música.

Foram os três minutos mais longos da minha vida. O Dan fez umas firulas quando terminei de cantar, para distrair a plateia. Consegui acenar e agradecer a todos enquanto mancava para fora do palco. Ao chegar aos bastidores, uivava como um cão! Não vou mentir, eu chorei de tanta dor. O Kenny me pegou no colo e ficou olhando pro camarim e gritando:

"Chamem a ambulância!"

As pessoas nos bastidores estavam assustadas, querendo saber o que tinha acontecido.

O Scooter chegou, com minha mãe à sua direita.

- Justin? Meu Deus, o que aconteceu?!

Resmunguei alguma coisa parecida com "quebrei a porcaria do meu pé".

Scooter escancarou as portas do camarim e o Kenny me colocou no sofá.

- Tem certeza? - perguntou ele. - Talvez você tenha só torcido...

- Nãão! Não encosta no meu pé!

- OK, ok. Tá tudo bem. - Ele sacou seu iPhone para saber quais deveriam ser os primeiros socorros e descobrir como um empresário americano deveria proceder com um cantor canadense acidentado na Inglaterra.

A Taylor foi muito gentil. Ela subiria ao palco dentro de segundos, e os fãs estavam esperando por ela - doze mil pessoas gritando seu nome -, mas antes ela deu uma passada no camarim para saber se eu estava bem. Ela é uma pessoa admirável e uma verdadeira profissional. Ela ficou preocupada de verdade com a minha situação toda. Localizamos um hospital onde eu poderia tirar uma radiografia e engessar o pé. Não era exatamente o que eu sonhava fazer depois do meu maior show até então.

No dia seguinte, fomos a um ortopedista que me deu uma botinha que parecia ter sido tirada de um solado clone de Guerras nas estrelas. Por dentro, tinha bolhas de ar infladas que mantinham meu pé e meu tornozelo firmes e imobilizados. Isso permitiu que eu continuasse me apresentando, mas ainda assim devo dizer que imobilidade não combina nada comigo: fiquei doido por não poder andar de skate, jogar futebol ou fazer quase nada por oito semanas. Cumpria todos os compromissos de imprensa e shows, mas estava mancando com o pé saudável, como um pirata perna de pau.

Resumindo toda a situação: foi uma droga.

Em primeiro lugar, doeu pra caramba. Em segundo lugar, eu estava escalado para me apresesentar no "Christmas in Washington 2009", junto com o Usher, a Mary J. Blige, o Neil Diamond e mais um monte de artistas gabaritados. Na noite da apresentação em Washington - admito -, fiquei nervoso. Era uma grande honra, e eu não estava gostando muito da ideia de cantar diante do presidente Obama e de milhões de espectadores com minha botinha.

- Vou tirar a botinha - disse à mamãe e ao Scooter.

- Não vai, não! - responderam, em uníssono.

- OK - falei.

Assim que eles sairam do camarim, tirei a botinha e apanhei o outro pé do sapato na minha mochila. Foi meio estranho no começo, mas já nem pensava nisso quando comecei a cantar na frente do presidente e da primeira - dama. Cantei a bela e antiga música de Stevie Wonder, "Someday at Christmas", e, de volta ao camarim, rapidamente pus a botinha de volta no pé, antes que a minha mãe pudesse ver. Essa é ou não é a maior trapaça de todos os tempos? "Foi mal, mãe. Não posso falar agora estou batendo um papo com a Mary.J.Blige e a Michelle Obama".

Mesmo em meio a toda essa loucura, mamãe e eu fizemos questão de passar o Natal em Stratford, prontos para jogar a brincadeira de troca de presentes e devorar o peru com molho da vovó. Viu? Algumas coisas mudam...

Esse foi o Natal em que conheci aquela garota que beijei apaixodamente por dias seguidos e com quem tive o relacionamento mais romântico da história da humanidade. Espera...isso não aconteceu.

Mas eu me diverti pregando essa peça em vocês enquanto vocês devem ter ficado supercuriosos em casa! Foi mal, precisava tirar um sarro. Próximo capitulo. Uh - hu!

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Justin BieberOnde histórias criam vida. Descubra agora