Pra Valer

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Tinha assistido ao filme O som do coração alguns dias antes, e tinha adorado a parte em que o garoto toca violão dee uma forma totalmente bizarra, dando umas pancadas nas cordas com os dedos, com a frente do instrumento virada para cima, tocando como se o instrumento fosse um violão, uma bateria e um piano, tudo ao mesmo tempo. (Confiram no You Tube, é bizarro!)

Canalizei todo o meu nervosismo para tentar descobrir como fazer aquilo. Na manhã da reunião, não consegui parar quieto. Comecei a espancar o violão daquele mesmo jeito, e o Scooter filmou um video para que pudéssemos postar no You Tube e compartilhar com os meus fãs.

No carro, a caminho da reunião, eu ainda estava batucando nas minhas pernas, cantarolando, contando piadinhas péssimas e deixando minha mãe maluca. Finalmente, andamos em direção ao escritório do L.A. Reid e do Chris Hicks, da Def Jam. O Chris é um cara que teve um grande papel na formação da minha carreira e que hoje me auxilia em cada passo. O escritório do L.A. parecia uma catedral - se é que uma catedral tinha charutos sobre a mesa. As paredes são cobertas de fotos da história da música: L.A. rindo com o Stevie Wonder e o Lionel Ritchie; ele na cerimônia do Grammy com um monte de artistas; cumprimento o presidente Obama. As janelas gigantescas do escritório tinham vista para toda a cidade de Nova York. Os sofás eram brancos com as teclas de um piano. Tinha até medo de me sentar.

O L.A. Reid é, sem dúvida, o cara mais elegante do mundo. Seu terno de grife era de um requinte só.

- Entre. Prazer em te conhecer, rapazinho.

Ele se sentou à mesa, que era maior do que o carro do vovô. O Scooter e o Usher afastaram as cadeiras, e eu fiquei bem no meio da sala com meu violão. Cantei uma duas músicas.

- Toca a música daquele filme - pediu o Scooter.

Toquei essa também, e então fiquei esperando, de pé.

- Uau - disse o L.A., finalmente.

Ele pegou o telefone e começou a fazer algumas ligações. Em uns trinta segundos, mais seis pessoas entraram no escritório e se sentaram nos sofás brancos.

Agradecemos a todos. Todos agradeceram e saíram. Saímos também.

Acho que, se a minha vida fosse um filme, o diretor diria nesse momento:"Corta,corta! É só isso? Cadê o drama? Cadê o clímax?" Mas simplesmente não funciona assim. A verdade é que você vai para essas reuniões, depois volta para casa e espera um milhão de anos... E ainda espera mais um pouco até o telefone tocar pra saber que você vai dar o próximo passo de formiguinha. Ou não.

Mamãe e eu voltamos para Stratford, e quase morriamos do coração a cada vez que o telefone tocava, até que, finalmente, - aleluia! - recebemos as tão aguardadas boas notícias: a Island Def Jam queria assinar um contrato comigo. Fiquei eufórico, mas o Scooter aconselhou:

- Não deixe isso subir à cabeça. Isso é fantástico, mas precisamos acertar alguns detalhes antes de comemorar.

Eu teria que escrever outro livro para tentar explicar o lado empresarial disso tudo, mas o Scooter queria que eu entendesse tudo direitinho, então sentou comigo e me explicou detalhe por detalhe. Ele não estava nem aí se eu estava caindo de sono, batendo o pé de impaciência ou morrendo de tédio; ele queria que eu soubesse o que estava acontecendo. Mas eu só queria saber uma coisa:

- Vou ter ônibus só para a turnê?

- Mais pra frente, sim. É muito pro provável.

- EBA! Vai ter um Xbox no ônibus?

- Esse é o plano - respondeu Scooter, rindo,

Resumindo: a papelada ficou pronta, e eu e mamãe fomos pra Atlanta. Na noite em que assinamos o contrato com a Def Jam, Scooter nos levou para o Straits, o restaurante do Ludacris. Asher Roth, cuja carreira também estava sendo administrada pelo Scooter, apareceu junto com seu amigo Boyder. Os dois ficaram me zoando por eu ter que brindar refrigerante, enquanto todo mundo estava bebendo champanhe. Também diziam que acabariam comigo no Rock Band e no Guitar Hero, mesmo que agora eu fosse alto nivel. O Asher estava bombando no meio do rap naquela época; todo mundo estava falando dele, inclusive o Emine.

- Estou de olho em você. Não quero que você torre dinheiro com besteiras. Você tem que manter o pé no chão - disse Asher.

- Tranquilo, Asher. Só vou contratar um pessoal para jogar pétalas de rosas atrás de mim aonde eu for - brinquei.

O Scooter pediu que trouxessem da cozinha um bolo de chocolate enorme, e, quando o doce chegou à mesa, ele levantou e anunciou a todo o restaurante:

- Atenção,pessoal! Eu queria fazer um anúncio. Esse moleque aqui acabou de assinar um contrato com a Island Def Jam!

Eu estava em Atlanta, a capital musical do universo, no restaurante do Ludacris. Todos sabiam da importância daquilo. Todo mundo aplaudiu e assobiou.

Fiquei superenvergonhado - do mesmo jeito que as pessoas ficam quando estão num restaurante e os garçons chegam na mesa para cantar parabéns. Mas, depois de tudo pelo que passamos, era um momento merecido. Nos transformamos mesmo numa família.

Isso tornou um pouco mais fácil sair de Stratford. Mamãe e eu fomos para casa e começamos a planejar a mudança para Atlanta. Nenhum de nós conseguia acreditar que tínhamos chegado lá. E ficamos loucos só de pensar que poderíamos chegar ainda mais longe.

Eu estava louco para tudo começar logo. Escrevia e tocava minhas músicas o tempo todo, doido para entrar em estúdio, ansioso com aquela sensação pré - bungee - jumping. Tentava não falar nada sobre o assunto no colégio, porque o problema de contar às pessoas que você vai fazer bungee - jumping - ou qualquer outra coisa que seja diferente, importante ou pouco convencional - é que os seus amigos de verdade vão ficar surpresos e admirados. Porém, outras pessoas vão te olhar torto e ficar falando sobre tudo que pode dar errado. E aquelas pessoas que estão menos satisfeitas com as suas próprias vidas vão torcer para que os cabos arrebentem e você tenha um traumatismo craniano.

Mas, com o Scooter diz, isso é problema deles, não seu.

Justin BieberOnde histórias criam vida. Descubra agora