Prólogo

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Nova York ­— 8 de Março de 2019

— Porque eu estou namorando!

Ao terminar de falar, Bella Downey sequer imaginou que quatro palavrinhas eram capazes de fazer o estrago que fez. E, muito menos, que uma pequena mentira estava trazendo ainda mais problemas para a sua vida.

Ela estava sentada à mesa e encarava o pai furiosamente depois da sua declaração. Uma declaração mentirosa, diga-se de passagem, porque Bella não tinha namorado algum. Mas aquela havia sido a ideia mais brilhante que encontrou para se livrar das tentativas de Robert Downey Jr. para juntá-la com Índio Foster — um rapaz magricela, esquisito, que quase nunca falava e que era afilhado de seu pai.

— Você está o que? — Robert a questiona, largando o garfo e a faca sobre a o prato de bacon com ovos e arqueando uma das sobrancelhas, incrédulo.

— Estou... Bem... Eu estou namorando. — Bella respondeu, rezando para que suas bochechas não estivessem ficando vermelhas e a denunciasse pela mentira.

Robert estreitou os olhos, analisando atentamente o semblante da sua única filha. Conhecia muito bem as expressões de Bella, afinal desde que a mãe dela foi embora para a Itália quando a menina só tinha 3 anos de idade, Robert a criava sozinho, e por isso ele tinha certeza: havia alguma coisa que ela não estava lhe contando.

— Sério? — ele fala, um tanto sarcástico, um tanto surpreso — Achei que depois do Chris...

— Faz seis meses que o Chris me deu um pé na bunda. Eu já superei. — ela mente, com a voz dura e sem vacilar, e seu pai sorri de lado.

— Superou? Porque até onde eu me lembro, você precisou sair de Los Angeles para conseguir parar de chorar, pelo menos. Bem, eu avisei que aquela bobagem de namorar um homem 11 anos mais velho que você daria nisso...

Bella fuzilou o pai com os olhos, levantando-se da mesa e andando até a janela panorâmica com vista para a Quinta Avenida. Odiava tocar nesse assunto, tanto que restringia o nome de Chris apenas à sua terapeuta, mas parece que seu pai estava disposto a espezinhar-lá.

— Eu estou bem. Já está na hora de eu voltar para Los Angeles. Toda minha vida está lá. — ela responde, com os olhos perdidos em direção ao trânsito caótico há trinta metros abaixo. Bella amava Nova York, mas sentia-se sozinha na maior parte do tempo. Sentia falta das praias da Califórnia, do calor, dos seus amigos, do seu pai...

Bella ouviu Robert soltar um suspiro e pôde sentir os olhos dele grudados nas suas costas.

— Quem é o rapaz? — ele a questiona, curioso — Quanto tempo faz? — ele emendou, e Bella sentiu suas bochechas ficando vermelhas novamente. Achou melhor voltar a mesa e encarar seu pai de uma vez. Teria de ser uma boa atriz.

A jovem sentiu suas pernas balançarem. Que brilhante ideia, pensou idignada consigo mesma. O que vai fazer agora? Inventar um namorado imaginário?

— Bem... Faz pouco tempo que estamos juntos. Prefiro ainda não dizer quem é.

Robert soltou mais um risinho, terminou de comer seu bacon e olhou para a filha, os olhos cintilantes por detrás do excêntrico óculos de lentes roxeadas, que era a marca registrada do homem.

— Isso é novidade. Desde seus 17 anos você sempre gostou de se gabar dos seus namorados.

— Pois eu estou indo com calma, dessa vez.

O coração de Bella palpitou mais forte quando flagrou seu pai acenando com a cabeça que sim.

— Ele é daqui? Ou de Los Angeles...?

— Hm.... Los Angeles. A gente meio que já se conhecia...Estou esperando meu retorno para Califórnia, ai verei como as coisas ficam.

Bella sustentou sua mentira, enquanto tentava decifrar o que poderia estar passando pela cabeça de seu pai naquele momento.

— É bom ir com calma... Você é intensa, gosta de se jogar nas relações, como eu. Precisei me separar da sua mãe para aprender a ir com calma. A gente se machuca menos quando não apressamos as coisas, sabe? 

Bella acenou que sim e sorriu, aliviada, em partes percebendo que seu pai enfim acreditara na grande mentira que acabara de contar, e em partes sempre agradecida por Robert ser quem ele era. Apesar de completamente maluco às vezes, seu pai era sua pessoa favorita no mundo.

— Bom, estou pensando em ir a Barnes. Vamos comigo? — ele a pergunta, mudando completamente de assunto. Uma das coisas que Bella mais adorava em seu pai era a sua sensibilidade em não se intrometer demais.

— Você sabe que eu nunca nego uma ida a Barnes. — ela afirma, levantando-se da mesa, pronta para abandonar a sala de jantar e subir para o quarto, mas antes que pudesse se afastar, Robert chamou sua atenção.

— Quero conhecer o seu namorado, quando voltarmos para Los Angeles. Você pode convidá-lo para acompanhá-la na Premier do último filme.

Bella engoliu seco.

Aquela situação estava se complicando.

Ela sustentou o olhar do pai por mais alguns segundos, antes de acenar com a cabeça que sim e correr escada acima. Ela abriu a porta do quarto e se jogou na cama, tentando desfazer a burrada que tinha feito. Isso que dava ser orgulhosa demais para admitir que ainda tinha fortes sentimentos por Chris Hemsworth.

Desesperada, Bella pegou um dos travesseiros e afundou no próprio rosto. O que ela iria fazer? A única coisa que sabia é que teria que apresentar alguém ao seu pai, caso contrário ele daria um jeito de mantê-la longe de Los Angeles. A jovem não gostava nem de lembrar da cena de seu pai socando a cara do Chris no meio do set de gravação.

Eles ficaram dois meses sem se falar por isso.

Decidida, Bella se sentou na cama, respirando fundo e organizando seus pensamentos. Foi então que ela teve uma ideia, e no momento, aquela lhe pareceu a ideia mais brilhante do mundo: Contrataria um namorado de aluguel! Já vira pessoas em Los Angeles fazerem isso antes. Era perfeito. Ela só teria que arrumar alguém que fizesse Chris querer se comer vivo de ciúmes...

Mas a questão era: Quem ela contrataria? 

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