Cap. 12 - Falei Palavrão

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Pov Lauren Jauregui
Quinze anos atrás

─O que ela está fazendo?

Escondi-me atrás de um pilar largo de mármore para observar.

Estava mais atrasada do que o normal, porque Liam tinha causado no ensaio da banda e todos perdemos a noção do tempo tentando
aprender uma música nova que ele tinha escrito na noite anterior, enquanto estava bêbado.

Metade do que ele tinha rascunhado em um
saco de papel marrom estava engordurada e ilegível. Mas a outra metade estava muito boa. Então, tocamos por bastante tempo, tentando fazer o otário se lembrar das palavras que tinha escrito.

Normalmente, eu aparecia ao meio-dia e meia e me ajeitava no confessionário para aguardar.

Minha amiguinha costumava entrar um
pouco antes da uma hora. Mas hoje eu estava atrasada e ela, adiantada. Pelo menos pensei que estivesse adiantada. Nunca a tinha visto claramente para afirmar que era ela.

Até onde sabia, podia estar me escondendo de alguma garotinha aleatória que entrou na
igreja em um sábado à tarde.

O velho confessionário de madeira era escuro, para começar, e a grade que nos separava dificultava ainda mais a visão de qualquer
detalhe além de seu rabo de cavalo. Sabia que ela tinha cabelo escuro e era pequena ─ assim como a garotinha que estava xeretando na parte do padre do confessionário. Observei com curiosidade, de longe, quando ela olhou e, depois, abriu a porta. Entrou por meio segundo, recuou e entrou no lado do paroquiano ─ o lado do pecador.

Cinco minutos se passaram e ela não abriu a porta de novo, então, quando a barra estava limpa, fui até lá para interpretar meu papel de
padre. A cabine estava normal, como sempre, exceto por duas moedas no chão. Pensei que talvez ela estivesse querendo ver o padre.

─ Me abençoe, padre, porque eu pequei.

Devia estar completando umas seis semanas agora que fazíamos isso. Mesmo assim, toda vez que ela dizia essas palavras, meu peito
doía. Ela estava carregando um fardo muito grande para uma criança.

Ultimamente, nem conversávamos sobre os pecados que ela pensava que estava cometendo. Ela só aparecia e batíamos papo por meia hora, mais ou menos. Eu tinha a sensação de que era a única adulta na qual ela confiava, o que era irônico pra cacete, considerando que eu nem adulta era ainda, e que estive mentindo para ela desde o
primeiro minuto em que ela entrou no confessionário.

Empostei a minha voz, para parecer mais grossa:

─ Como foi a sua semana?

─ Me meti em encrenca na escola.

Sorri para mim mesma.

─ Ah, é? O que você fez?

─ Também foi um pecado.

─ Me conte.

─ Bom, sabe o menino que senta ao meu lado que te contei? Tommy?

─ Aquele que sempre está com as mãos dentro das calças?

─ Esse mesmo. Ele me fez falar um palavrão, e tomei advertência. Nós dois levamos advertência.

─ Como ele te fez falar um palavrão?

─ Estávamos revisando formas geométricas na aula para alguma prova do estado. A professora desenhou um diamante na lousa e perguntou qual era sua forma. Aprendemos sobre acutângulos há alguns anos, mas, quando ela me chamou para responder, esqueci a palavra.
Para tentar me ajudar, a professora deu uma dica: disse que começava com a letra A. Fiquei empolgada porque pensei que tinha me lembrado, mas acabei falando a palavra errada.

─ O que você disse?

─ Disse ânus.

Precisei conter a risada.

─ Você sabe o que isso significa?

─ Agora eu sei. Tommy me explicou, gritando que eu era uma adoradora-de-buraco. ─ Ela pausou. ─ Ele disse o palavrão também.

Tentei orientá-la do modo que um padre faria.

─ Seu erro foi normal. Parece mais que foi Tommy quem pecou ao usar o palavrão de forma intencional. Não você.

─ Bom... Eu usei também.

─ Oh?

─ No intervalo, algumas crianças ainda estavam me zoando, me chamando de adoradora-de-buraco. Então disse a elas que aprendi a palavra ânus com Tommy, porque quando ele está com as mãos dentro das calças durante a aula, às vezes enfia o dedo no ânus. Só não usei a palavra ânus quando disse isso.

O que eu queria dizer era "Isso aí, garota", mas, em vez disso, permaneci com os modos de padre.

─ Vai rezar três ave-marias por falar palavrão. Mas, cá entre nós, parece que o Tommy é um babaca e mereceu.

Minha cordeirinha deu risada.

─ Mais alguma coisa?

Na semana anterior ela não tinha falado sobre o seu lar, e eu estava ansiosa para descobrir como as coisas estavam indo. A única coisa que consegui tirar dela, além do que ela mesma admitiu sobre ter pensamentos ruins sobre seu padrasto, era que ele bebia e gritava demais.

─ Como estão as coisas em casa? ─ perguntei de repente. ─ Aconteceu alguma coisa que te fez ter pensamentos ruins?

─ Usei os fones que me deu.

Duas semanas atrás, ela havia me dito que ficava com medo quando seu padrasto gritava à noite. Tinha dificuldade para dormir às vezes. Sugeri que colocasse fones de ouvido e escutasse sua música preferida para abafar o som. Mas ela não tinha fones. Então, na
semana anterior, coloquei um par de fones extra no confessionário, antes de ela chegar, e disse para ela levar para casa. Expliquei como
iria ajudá-la a dormir se fechasse os olhos e cantasse em silêncio, com a música.

─ Ajudou?

─ Sim. Dormi depois da quarta vez.

Provavelmente, eu estava delirando, mas senti que estava ajudando a criança de um jeito bem confuso.

─ Isso é bom.

─ Falei pra minha irmã tentar, mas ela disse que não podia.

─ Ela não tem fones de ouvido?

Ela não respondeu por alguns minutos.

Comecei a perceber que seu silêncio falava mais alto que sua própria voz.

─ Ela tem fones de ouvido. Ganhou de Natal, no ano anterior à morte de nossa mãe. Eles estavam no armário dela.

Aquela sensação de pavor se acumulou na boca do meu estômago.

─ Então, por que sua irmã acha que não pode usar? Ela não gosta de música?

─ Ela precisa escutar Benny.

─ O que isso quer dizer?

─ Às vezes, quando ele está bravo, ou quando já bebeu bastante, entra no quarto dela à noite.

******

CAMREN: Encontre Uma Moeda (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora