Cap. 33 - Maldito Benny

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Pov Lauren Jauregui
Quinze anos atrás

Essa era a quarta vez que ela parava para colher flores do lado da estrada, a caminho de casa. Sua vida parecia um amontoado de merda, e ela ainda via beleza no meio das ervas daninhas e do mato alto.

Permaneci pelo menos dois quarteirões para trás e ela não parecia ter notado. Isso me lembrou de que precisava ter uma conversa séria com minha cordeirinha sobre estar consciente do que acontece ao redor. Qualquer psicopata poderia segui-la sem que ela percebesse.

Enfim...

Depois de uns bons três quilômetros, ela finalmente virou em uma travessa. A casa era na verdade bem legal. Eu tinha imaginado que
ela morava em um trailer detonado, no fim de uma rua comprida e suja, com lençóis pendurados para esconder as janelas e uma moita enorme para camuflar qualquer sinal de vida ─ provavelmente três ou quatro carros caindo aos pedaços e sem funcionar no gramado. Mas a travessa na qual ela virou era pavimentada e levava a uma casa pequena, mas bem-arrumada, com um estilo típico da península de Cape Cod. O gramado estava cortado, as cortinas abertas emolduravam as janelas e os vizinhos estavam do lado de fora, por perto, fazendo suas coisas.

O único carro na garagem era apenas de alguns anos atrás e tinha um daqueles símbolos de peixe de Jesus na traseira. Nada como eu tinha imaginado.

Observei quando a garotinha desapareceu pela lateral da casa e voltou para a porta da frente, sem a bicicleta, um minuto mais tarde. Sem hesitar, ela entrou.

Fiquei ali, olhando em volta por mais ou menos meia hora depois disso. Pela primeira vez, questionei se ela poderia estar inventando tudo. Ela poderia ter uma imaginação fértil. A semente da dúvida foi plantada, mas minha intuição dizia que ela não estava inventando
uma história. Olhei uma última vez para aquela casa antes de ir embora. Pelo menos não precisaria esperar muito para descobrir ─
somente até ela aparecer com a irmã no dia seguinte.

Esperei por seis horas. Um pouco depois da uma da tarde, me convenci de que ela não apareceria naquela manhã. Antes de segui-la
até em casa no dia anterior, eu não tinha nenhuma dúvida de que alguma coisa estava acontecendo. Mas agora, depois de ver a casa
comum, em um bairro normal, a dúvida pairava sobre mim.

Por outro lado, Ted Bundy, o assassino em série, também parecia normal pra caralho.

Resmunguei e me levantei do banco dos fundos, onde tinha ficado ouvindo a três bandas naquela manhã, enquanto olhava para a porta. Não tinha ideia do que fazer, mas sabia para onde iria.

A quatro quarteirões da casa dela, percebi que precisava de combustível. Também precisava bolar um plano, então fiz uma parada em um posto com uma loja de conveniência e entrei para pagar. Minha mão estava na maçaneta da porta quando, de canto de olho, vi alguma coisa que chamou minha atenção. Parado ao lado do posto, estava um carro que era muito familiar ─ o mesmo modelo e marca daquele parado na garagem da garotinha no dia anterior.

Benny era um maldito mecânico.

Fui até lá e dei uma olhada na parte de trás do carro. Com certeza, havia um símbolo de peixe de Jesus. Olhando para a loja de conveniência, vi uma garagem de duas portas anexada a ela. Uma delas estava fechada, mas a outra estava aberta com uns dois metros de altura. As luzes também estavam acesas.

Entrei de mansinho na loja, fingindo ler atrás de um pacote de salgadinho enquanto os dois clientes terminavam de pagar. Quando
estavam apenas eu e a mulher que trabalhava no caixa, peguei uma lata de refrigerante e uma barra de Snickers e levei para o caixa.

─ A mecânica ainda está aberta? Meu carro está fazendo um barulho e eu gostaria que dessem uma olhada.

Ela olhou para o relógio.

─ Fecha ao meio-dia hoje. Mas acho que Benny ainda está lá.

Meu corpo ficou tenso.

─ Obrigada. Tem um escritório ou uma sala?

A moça acenou em direção à porta dos fundos.

─ Vá por aquela porta. Provavelmente ele está em uma das garagens.

Minha respiração se tornou mais profunda a cada passo, enquanto eu seguia para a garagem escura. Havia uma chave de fenda em cima de uma caixa vermelha de ferramentas. Peguei-a e a guardei no bolso de trás da minha calça.

─ Olá?

A garagem tinha quatro carros, mas parecia que não havia ninguém lá.

Um homem apareceu com a cabeça debaixo do capô de um dos carros na outra garagem e quase me matou de susto.

─ O que posso fazer por você?

Encarei-o. Eu não tinha um plano.

Ele puxou um pano do bolso e começou a limpar as mãos enquanto avançava em minha direção.

─ Estamos fechados. Preciso ir para casa, para as minhas garotas. Há uma oficina a mais ou menos um quilômetro ao norte daqui, se seu carro estiver com problemas.

Suas garotas.

─ Você é o Benny?

─ Sou. Quem está perguntando?

Eu precisava de uma vara para cutucar o urso.

Uma lâmpada se acendeu na minha cabeça.

─ Sou amiga da sua filha.

De repente, eu tinha a atenção dele. Seu comportamento mudou totalmente. Parou de limpar as mãos e me encarou.

─ Minha filha não pode ter nenhuma amiga, ainda mais uma aberração com isso aí no meio das pernas.

─ Por quê?

Sua expressão se contorceu de raiva.

─ Porque ela é uma putinha.

Estávamos parados um de cada lado do carro, mas ele começou a dar a volta em minha direção.

─ Está querendo a minha filha? Deixe eu te dar um conselho. Você quer uma garota boa. Aquela ali... ela não é boa. Quinze anos e nada
além de problema.

─ Fique longe das duas. ─ eu disse com firmeza.

Benny pareceu momentaneamente surpreso. Ele parou de avançar em minha direção. Um sorriso lento e diabólico se abriu em seu rosto.
Me deu um arrepio. Eu estava olhando para a cara de um monstro.

─ Acha que sabe alguma coisa? Por que não vai em frente e fala tudo de uma vez?

─ Você gosta de garotinhas. Entra no quarto da mais velha à noite e a ameaça para ficar quieta ou vai fazer a mesma coisa com sua irmãzinha. Fique longe das duas ou eu vou até a polícia.

Ele semicerrou os olhos, seu olhar ficou penetrante, parecia que tentava montar um quebra-cabeça. Ao entender tudo pela primeira
vez, um sorriso sarcástico aumentou em seus lábios. Seu tom combinava com a expressão diabólica.

─ Você tem alguma coisa a ver com o fato de elas terem feito as malas e planejado fugir, não tem?

Eu não disse nada.

Ele deu um passo à frente.

─ Elas não vão fugir para lugar nenhum depois de ontem à noite. Ensinei uma lição a elas, assim como vou ensinar a você.

Benny começou a vasculhar seus bolsos e tirou um controle pequeno. Me encarando, apontou para o portão parcialmente aberto da garagem, que começou a descer. Segui seus olhos quando eles focaram em uma bandeja cheia de ferramentas ao seu alcance. Tudo depois disso pareceu acontecer em câmera lenta.

Ele pegou uma chave inglesa.

Eu peguei a chave de fenda do meu bolso de trás. Estava me cagando de medo, até ele falar de novo.

─ Vá atrás da sua própria boceta.

* * *

Nojento! 🤢

CAMREN: Encontre Uma Moeda (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora