Capitulo 19

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Vi os dentes aproximarem-se. O medo fugiu-me do corpo como se também ele estivesse assustado. Conseguia ouvir uma voz a dizer-me para erguer a mão com o punhal para me poder defender. Assim o fiz. Estava pronta para me defender. Estava pronta para morrer se isso desse uma oportunidade ao miúdo de fugir ou de alguém para o ajudar. Mas onde estavam todos aqueles que deviam estar a lutar? Um vislumbre deu-me a resposta. Estavam de costas para aqueles que estavam com a atenção pousada em mim lobisomens e vampiros a impedirem-nos de nos auxiliarem.

Tudo parecia em camara lenta. Eu já devia de estar com a garganta aberta e ele com um punhal no peito mas o tempo parecia gozar comigo. Só podia para se arrastar tanto.

Mal senti o toque frio do vampiro a minha mão voou para lhe acertar. Antes que tivesse hipotese de o fazer senti-a  tremer. A mão fria do assassino ainda me agarrava com força mas ele não estava  atacar. Ouvi um grito que não sabia se vinha de mim ou não. Tudo estava confuso. Apercebi-me de que era ele que gritava. Um som horrivelmente alto com se estivessem a tortura-lo.

O circulo alargou e ninguém lutava na tentativa de entenderem o que se passava. O ar parecia ter sido sugado e estava a respirar com dificuldade enquanto os gritos continuavam a ecoar agora num silêncio absoluto. A curiosidade suplantava tudo.

Todos davam um passo atrás numa fusão de terror e espanto dando espaço a mais gente de ver o que se estava a passar.

O vampiro afastava-se agora de mim, apavorado. Não conseguia entender o que é que estava a acontecer. Porque é que ele se afastava se eu não tinha feito nada? E dai, talvez tivese. As minha mãos tinham um leve nevoeiro a cobri-las. Mas o que é que isso queria dizer?  Que eu tinha evaporado água?

O vampiro caiu de joelhos. A mãos cobriam-lhe a cara e estavam agora manchadas e enrugadas. Como se em apenas um minuto se tivesse tornado dezenas de anos. A pele começoua a esboracar mostrando o osso. O cabelo caiu-lhe da cabeça depois de ter esbranquiçado. Mas isso era impossivel. Eles não envelheciam. 

Num piscar de olhos todo ele era ossos para depois passar a pó e as roupas que tinha trazido. E com isto todos me olharam e o inimigo fugiu sem dizer uma palavra. Os homens e mulheres que estavam a lutar do meu lado pareciam paralisados. Eles sabiam que tinha sido eu a causar aquilo e agora também eu. O que tinha eu feito para merecer aquilo?

Virei-me para trás  e tentei tocar no rapaz que tinha a cara ainda molhada mas ele deu um passo atrás devagar e repetiu o mesmo até estar na fileira com os outros. Senti um ardor no peito. A criança fugia com medo. Tratara-me como se eu fosse um animal perigoso e selvagem. Todos eles estavam a apavorados com o que tinha acabado de fazer.

Olhei para minhas mãos. O que é que eu tinha feito? A minha respiração descontrolou-se. Tanto ar e não conseguia encher os pulmões. Eu não sabia se era seguro eu tocar em mim própria. O nevoeiro desaparecera mas que mais conseguia eu fazer?

Nathan cortava a fileira de pessoas com Adam atrás. Eles estavam mal tratados com algumas nódoas negras e cortes mas nada de demasiado grave. Pelo menos que se coseguisse ver.  Baixei a cabeça  a sentir-me envergonhada, culpada e repugnada.  Eles tinham estado a combater e eu podia tirar a vida de alguém com um simples toque? Aberração era o único adjetivo que tinha para me descrever.

-Cassie. -Sussurou Adam ao meu lado.

Vi-o a meio passo de distância de mim. Nem ele se conseguia aproximar de mim sem temer pela vida. Nathan também olhava da mesma maneira. Vi-o vacilar e no entanto estendeu-me a mão. Só que Adam já estava a encostar a dele ao meu braço.

-Não me toques! - exclamei horrorizada. - Eu não controlo isto.

Só queria correr dali pra fora e esconder-me. Esconder-me num buraco algures na terra e não voltar a sair até ter a certeza de que tudo tinha sido um sonho. Como poderia viver comigo mesma sabendo que podia fazer aquilo a qualquer pessoa?

-Cassie, eu não tenho medo de ti. - assegurou-me Adam.

-Mas devias. - afirmei com a voz a falhar.

O meu coração portava-se como uma ferida aberta. A minha cabeça pensava mais rápido do que eu podia processar. O meu corpo não me respondia. A minha Essência estava descontrolada. A mãe estava morta. A minha vida estava desfeita. 

Arrastei-me até ao ponto do circulo mais perto do portão. As pessoas afastavam-se para me deixar passar com medo que eu me virasse contra elas. Exausta a um novel que nunca achei possivel, segui em direção ao meu quarto com Adam e Nathan a meu lado.

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