Capitulo 21

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Entrei na sala do concelho com uma passada firme. Todos olhavam para mim na tentativa de entenderem o que estava a fazer. Não tinha sido convocada, não devia de estar ali. 

A ampla sala tinha a mesma mesa que já tinha visto anteriormente com a pequena diferença de que agora tinha de levantar o pescoço para puder ver-lhes os rostos. Todos os membros do concelho estavam envoltos nas mesmas capas. A mulher no centro continuava com o capuz a esconder-lhe a identidade e com as mãos entrelaçadas em cima do tampo.

Todos os restantes presentes estavam de pé a fitar-me num misto de surpresa e espanto. Era claro que tinham participado na batalha pelas feridas ou pelos braços ligados. Obviamente já sabiam do que tinha acontecido e daquilo que eu era capaz de fazer. Conseguia sentir a tensão em cada um dos olhares cuidadosos que me deitavam. Encostados à parede estavam Adam e Nathan que tinham uma expressão confusa. Claramente estava lá apenas como observadores. Os menores não tinham qualquer tipo de opinião nestas reuniões, no entanto eles eram brilhantes naquilo que faziam. Tinham merecido o lugar. 

Consegui destinguir entre os vinte desconhecidos que estavam à frente da mesa do concelho o Bibliotecário. Peguntei-me qual seria o seu nome verdadeiro, mas seria uma perda de tempo. Senão mo tinha dito era porque responderia algo como "o nome é apenas um rotulo" e ficaria na mesma.

Parei no meio. No meio da sala, no meio das pessoas, alinhada com o centro da mesa. Parecia-me o local mais poético para fazer um discurso que ainda não estava completamente formado na minha cabeça.

-O que a trás aqui, Cassandra? - Perguntou-me a mulher no centro do concelho. 

-Certamente já sabe o que é que aconteceu. O que eu fiz. - especifiquei - Eu não fazia ideia que era capaz de o fazer. E depois do que aconteceu eu percebi que precisavam de ajuda.

-Precisava-mos de ajuda da última vez.- informou-me com a voz despromovida de emoção.

-Da última vez não tinham o cemitério à beira da rutura. 

Ninguém se atreveu a dizer uma palavra. Todos sabiam que precisavam de todo e qualquer auxilio que lhes fosse oferecido e no entanto o medo que nutriam por mim fazia os vacilar.

- Digam-me como posso ajudar e farei o meu melhor. No entanto preciso de saber o que se passa comigo e da razão pela qual o vosso mundo esta a ruir.

Os murmurinhos começaram a surgir. Pareciam debater a questão. Tentei fingir indiferença. Setia-me como a criança pequena sentada na mesa dos adultos à espera que tomassem uma decisão.

-Como é que sabes que ela não nos vais matar com aquelas mãos demoníacas? - perguntou alguém por entre os elementos. Virei-me mas não conseguir entender quem falara.

-Ela e demasiado perigosa. Não vamos arriscar forjar uma aliança com ela para depois a sair-mos queimados com isso.

Claro que tinham medo. Eu era a desconhecida, a incógnita. Provavelmente se alguém estivesse na posse de qualquer tipo de informação sobre aquilo que eu era capaz estava sentada na mesa entre os restantes seis membros do concelho.

-Sabemos lá se ela lhe tocarmos sem querer não morremos também?-perguntou uma mulher com longos cabelos castanhos entrancados. Os bracos estavam firmemente cruzados sob o peito e a sua expressão mostrava-se seria e decidida. - Mandem-na embora.

Matem-na queria ela dizer. Só não o fizera por não saber o que eu lhe faria se o dissesse.

- Isto é ridiculo. - exclamou Adam virando todas as atenções para ele próprio. - Eu conheço-a. Garanto-vos que ela não fará mal a ninguém. Está a ceder ao vir até aqui e vocês atacam-na como se fosse um qualquer animal selvagem.

- Achas mesmo que sim? - perguntou a mulher que falara anteriormente com um tom desafiador - Então toca-lhe se tens coragem.

-Por amor de Deus... - suspirou em voz alta Nathan que ainda não se tinha mexido desde que tinha entrado.

Desencostou-se da parede e com um passo descontraído mas apressado aproximou-se de mim. Parou a poucos centímetros de mim e agarrou-me delicada mas firmemente no braço.

-Satisfeitos? - inquiriu para ninguém em especial.

E com uma cara aborrecida e cansada por ter de se ter mexido voltou para o lugar na parede que tinha abandonado.

-Agora, podemos avançar ou cada um de vocês quer tocar-me no braço? - o silêncio deu-me a resposta - Óptimo. Temos um acordo ou não?

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