Fechei os olhos e abri-os. Conseguia ve-lo do outro lado da estrada. Já há uma semana que me seguia e comecei a ficar preocupada. Todos os dias se sentava no café do outro lado da rua onde eu morava. Todos os dias eu sai as 5:00 em ponto para me encontrar com a Alexa. Não podia entrar em pânico. Tinha de fingir que tudo aquilo não me incomodava. Não valia a pena fazer grande alarido. Uma vez mencionara a Alexa os habitos daquele rapaz com um cabelo castanho cor de mel que se sentava de perfil para me poder observar mais discretamente. Talvez tivesse a minha idade ou fosse um ano ou dois mais velho. Não interessava. "Se é giro vai lá falar com ele" dissera-me ela.
Respirei fundo e decidi atravessar a estrada. Tinha de confronta-lo. Se soubesse aquilo que ele queria era mais fácil livar-me dele.
O ar estava frio e sempre que respirava o ar condensava à minha volta. Apertei o casaco até a cima e ajustei o cachecol. O nervosismo começava a fazer as minhas mãos tremer. Algo dentro de mim tremia na expectativa de conseguir entender tudo aquilo. Porquê a mim? Como se não tivesse coisas suficientes para pensar.
Não parava de me perguntar se tudo aquilo não estava na minha cabeça. Provavelmente era um rapaz que simplesmente gostara daquele café que ficava apenas a um quarteirão do único parque com espaços verdes que tinhamos na nossa pequena cidade no meio do nada. Podia estar apenas paranoica.
Mas havia qualquer coisa nele que me incomodava. Uma comichão estranha por debaixo da pele que só me apetecia gritar-lhe para ir para outro lado beber seja o que for que estava sempre a beber as 5:00 da tarde durante todos os dias da semana no único lugar do café que lhe dava uma vista não obstraida e no entanto discreta para puder ver-me sair de casa.
Mais confiante, abri a porta e dirigi-me à caixa onde pedi um café que me estendera num copo de plástico com tampa para conservar o calor e sentei-me à frente do estranho que agora me olhava de frente. Pousei o copo na mesa de madeira envolvendo nele as minhas mãos numa tentativa de as aquecer enquanto o observava. Tinha as feições bem definidas e o olhos de um verde acastanhado que me olhava decidido. Não percebi se me encolhia do frio ou do seu olhar duro. Dei um golo e senti-me aquecer.
Tentava decidir se me aproximava ou se continuava à espera que ele fosse o primeiro a falar quando o meu telemóvel tocou.
-Cassie? Onde estás?- perguntou-me a outra voz do lado da linha.
-Desculpa estar atrasada. Posso ligar-te daqui a bocado?
-Claro. - Respondeu Alexa preocupada. - Passa-se alguma coisa?
-Nada de especial. - Assegurei-lhe - Eu depois passo por tua casa.
-Okay. Até já.
-Adeus. - Disse-lhe
Desliguei o telemóvel e devolvi-o ao bolso. Ao levantar o olhar vi que o estranho já estava a puxar a cadeira à minha frente para se sentar.
-Não és dado a cordialidades. - Observei.
-E tu pareces bastante frontal. - Ripostou inclinando-se com a bebida na mão.
-Só quando espero que o sejam. O que é que queres?
Algo dentro de mim estava aquecer. O receio de que a resposta me assustasse preparou-me para fugir a qualquer momento. Os meus musculos contrairam e estava pronta para me levantar ao minimo sinal de problemas.
-Relaxa.- Pediu-me com um esboço de um sorriso divertido. - Não sou um psicopata.
-Desculpa se não acredito em ti tendo em conta de que me presegues à uma semana.
-Duas. -Corrigiu-me. - Mas não é relevante.
-Claro que não. - Murmurei ao levantar-me.
A sua mão quente e forte prendeu-me o pulso da mão direita. O meu coração começou a martelar-me no peito e uma picada de adrenalina começou a pulsar dentro de mim. Mas não tinha força suficiente para me soltar. Encarei-o tentar esconder o pânico. Olhou-me nos olhos com uma expressão determinada.
-Vais querer ouvir o tenho para dizer. Acredita.
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Escondida
FantasyCassie passou anos a tentar encobrir o seu passado. E conseguiu. Mas só podemos fugir da nossa história durante uns tempos até que ela nos apanhe e arraste tudo com ela. Sempre pensou que poderia ser rápida o suficiente para controlar os dados, mas...