Capitulo 20

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Obriguei o Adam a deixar-me ficar sozinha a processar tudo aquilo quando lhe fechei com a porta na cara depois de ele me ter gritado que "não podia lidar com tudo sozinha" e eu lhe ter gritado "observa" em resposta.  Mais tarde ouvi bater à porta.

-Sai daqui. - disse alto.

Nathan entrou bastante descontraido como se lhe tivesse dito exatamente o oposto. 

-Começo a desconfiar que não falamos a mesma língua, Nathan.

A minha cabeça estava pronta a explodir e se ele ali ficasse ia ser apanhado na explosão. Mas eles estava ciente das consequências. Só tinha de controlar aquilo que fazia.

-Tu não estás mesmo a considerar a hipotese de te esconderes aqui para sempre pois não? Como medo de que um espirro mate alguém.

- Como é que julgas sempre que tens piada? - perguntei irritada.

As minhas mãos não paravam me mexer como se estivessem a explicar a frustração que sentia e que não conseguia verbalizar.

-Queres explicar-me o que é que se passa contigo ou queres que continue à espera?

E algo em mim rebentou.

- O que é que é preciso explicar? A sério, o que eu posso dizer que tu já não tenhas entendido? - inquiri honestamente-  A minha mãe morreu por minha causa. Talvez não tenha tido culpa, talvez tenha mas morreu por minha causa. - as palavras saiam bastante marcadas de modo a ter a certeza de que cada uma lhe ficava gravada . - Entendes isso? Não há palavras no mundo suficientes para consertar isto.

-E dai?

-Eu não quero sentir-me assim!- exclamei exasperada

-E dai? - repetiu calmantente

-E dai o quê?

Não estava com paciência para repetições. Só me apetecia partir alguma coisa. Dizer qualquer coisa mas nem eu própria era capaz de compreender o que é que se estava a passar comigo. A minha cara estava a arder. Eu sabia que o que ele tentava fazer. Estava irritada mas era claro que estava a tentar levar-me ao limite. Então porque é que resultava?

-E dai? - gritou. - E dai? 

-E dai tenho medo de sentir. A minha Essência e o que sinto estão ligados como se fossem um só. Se eu me descontrolo podem acontecer centenas de coisas. E nenhuma delas é boa. - Não podia parar de falar. Não podia senão nunca seria capaz de admitir a mim própria. - Quando ela morreu eu quis matar seja quem for que lhe fez isso. Controlei a raiva porque ela é como uma chama e eu posso muito bem conjurar uma. Não posso ser eu. Sabes quão dificil é existir sabendo que não podes ser tu próprio? 

E a força fugiu-me por entre os dedos. Consegui senti-la a abandonar-me enquanto me deixava cair no chão. Se antes pouco me importava o que Nathan pensava porque estava cega com a dor, agora mesmo que não fosse dor mas amargura aquilo que me ocupava o peito ainda me importava menos. Durante alguns dos momentos em que sentia a minha alma a afogar-se e tentava chorar os meus olhos pareciam secos mas já não. As lágrimas escorriam sem qualquer inibição. O meu peito tinha algo cravado que teimava em não me abandonar.

O chão frio estava a gelar-me as pernas. Era a unica coisa que sabia. Levei as maos a cara para a esconder. Não de Nathan mas de mim própria.

A mão quente de Nathan tocou-me nas costas que rapidamente passou para o braço do lado oposto onde estava empurrando-me ligeiramente na sua direção. Deixei-me levar e encostei a minha cabeça ao peito dele. Apoiei mão esquerda no peito dele para lhe sentir o coração. O coração que batia num ritmo constante. A minha orelha estava encostada a camisola dele ainda ensaguentada e rasgada mas não importava. Eu também estava uma lastima. 

As lágrimas manchavam-lhe a camisola, tornando-a cheia de circulos escuros. Continuava a soluçar violentamente e ve-las era relembrar-me da dor que sentia, o que me fazia chorar mais. O meu corpo estava mole e desconectado do resto. Fechei os olhos e tentei domar o meu mundo mas era impossivel. Nada estava dentro do meu controlo. Nunca nada estaria pois o controlo é só uma ilusão que existe quando é conveniente pensar assim.

-Estou cansada. - admiti entre soluços - Só gostava de puder dormir descançada. Sem ter de olhar por cima do ombro todos os dias para o resto da minha.

Nathan nada disse. Levou a outra mão ao meu cabelo e afegou-o enquanto me esfregava suavemente o braço para me confortar. Comecei a sentir-me mais calma passado uns minutos quando as lágrimas secaram, mas o meu coração continuava dormente como se fosse melhor que a angustia e a magoa que viviam lá antes.

-Nathan?- chamei baixinho.

-Cassie. -sussurou em resposta

-Estou tão cansada - sussupirei com voz arrastada - Não sei se consigo passar por tudo isto sozinha. 

-E dai? Qual é o problema de teres ajuda?

Foi a última coisa que ouvi quando adormeci ainda com ele a envolver-me nos seus braços.

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