Sentei-me com o cabelo ainda humido do duche acabado de tomar na pequena secretária que se encontrava agora no meu quarto. O livro que o Bibliotecário me deixara levar, Essencia, encontrava-se agora em cima do tampo. Ninguém precisaria dele. Só tinha de reunir a coragem suficiente para abri-lo.
Tomei na capa em couro e passei os dedos pelo titulo em relevo. Obriguei-me a abri-lo no momento em que a porta abriu deixando Nathan entrar. Revirei os olhos. Será que nunca ninguém batia à porta?
--Escusas de vir aqui para me convencer a fazer seja o que for que for.
-E porque é que faria isso? - inquiriu relaxado.
Olhei-o enquanto ele se sentava na minha cama.
-Porque é o que toda a gente faz nos dias de hoje. - respondi baralhada - Não pensas o mesmo que eles?
-Não interessa o que eu penso pois não? Tu fazes o que queres.
Não consigo evitar pensar no dia em que o conheci. Na maneira insistente que não o deixava desistir, mesmo não sabendo a razão pela qual o fazia.
-Também tu.
-Por isso é que sei que não vale a pena. Ainda não sei do que é que isto se trata. O Adam diz que não vale a pena saber de nada enquanto nã concordares. Mas ele fez bastante pressão para eu te vir incutir algum juizo. Só que não vale a pena.
-Não podias ter chegado a essa conclusão à quase três semanas atrás? Ou pelo menos à seis dias?
Seis dias. Estava naquele mundo louco À seis dias e já me pareciam estar preenchidos para uma vida inteira. E no entando ainda nada tinha acontecido comparado ao que podia acontecer.
-Não te conhecia na altura. - retorqui-o
-E sei dias deram-te tudo aquilo que precisavas de saber?
-Talvez.
O que era suposto eu dizer? Tudo aquilo que ele fazia tinha um objetivo mas não conseguia encontrar nenhum para aquela visita.
-O que é que estás aqui a fazer? - perguntei diretamente
-Não sei. Às vezes pergunto-me que nasci para fazer a diferença e esolhi este lugar para abençoar todos aqui presentes. - calou-se olhando para mim agora sério - Sem brincadeiras. Eu vim aqui para te dar isto.
Do bolso tirou uma pequena caixa que fazia lembar uma bola preta compreensada até ficar de forma oval. Abri-a, e notei que era um espelho que de baço não tinha nada. Podia agora controlar a tonalidade dos meus olhos todos os momentos do dia. Tinha-lhe pedido um no caminho para Mirael, mas ele não me prometera nada e eu também não insistira. Senão tivesse tanto que pensar depois da minha visita ao concelho já teria pedido ao Adam para me trazer um mas de momento haviam coisas mais imprtantes a resolver.
-Porque é que mo trouxes-te? Não és propriemente a personificação da simpatia.
-Não. Mas sei que é importante para ti e que tudo isto é confuso. É um mundo novo. Porque não haveria de o fazer? Demorou-me dois minutos a arranja-lo, não fiques convencida. - acrescentou.
Fitei os meus olhos que pareciam ter perdido a vida que ainda lhes restava. O azul, esse sim estava baço como se o brilho lhe tivesse sido arrancado sem piedade. A minha Essência tinha-me arrancado tudo. Uma oportunidade de ter uma vida onde o medo não me assombrasse não iria aparecer. E eu tentava arranjar maneiras de venenos me neutralizasse em vez de eu ser eu a controlar-me. Mas não sabia por onde começar. O livro ajudava-me a entende-la, mas não a para-la. Só queria poder fingir que ela não existia. Nathen já estava com a mão na maçaneta pronto para sair.
-Eu estou perdida. - afirmei. - Preciso de ajuda.
Ele parou e virou-se sem dizer uma palavra.
-Ouve, eu não queria isto. Nunca quis. Só me trouxe problemas e todas as respostas que tenho às minha perguntas não são agradáveis. Eu só quero poder conter isto.
-Nem todos os problemas do mundo são causados pela tua Essência. As pessoas são boas e más. Acho que passaste tempo suficiente com os humanos para entenderes isso. - disse-me calmamente.
-Claro que sim. Não sou cega. A minha mãe custumava dizer que...
As palavras fugiram do meu alcance e a minha boca mantinha-se aberta sem produzir sons. Não queria pensar nisso. Era muito cedo. Demasiado cedo.
As minhas mãos começaram a transpirar até pequenas gostas de formarem nas palmas. Só que não era suor. Era água. As gotas começaram a aumentar até ficarem com uma pequena camada de água a cobri-las. Nathan viu-me as mãos tremerem do choque e aproximou-se. Agarrou-me as mãos e apertou-as ligeiramente uma contra a outra.
-Acabaste de perder a tua mãe. É mais que normal que estejas abalada pelos acontecimentos. Isto tudo aconteceu em muito pouco tempo. Respira. - pediu.
O meu coração acelarou. Começou a bater descompassadamente. Fiquei na dúvida se me sentia assim porque estava nervosa por estar a deixar as minhas emoções controlarem a minha Essência, se por deixar um estranho agarrar-me as mãos.
Nathan notou o meu desconforto e afastou-se casualmente. Os seus olhos estavam calmos e a sua postura descontraida. Abriu-o a porta mas deteve-se.
-Quando o teu problema for com água, o frio ajuda.
Ea porta fechou-se deixando-me sozinha com tempo para reiniciar a minha leitura e a remoer aquilo que não havia maneira de mudar.

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Escondida
FantasyCassie passou anos a tentar encobrir o seu passado. E conseguiu. Mas só podemos fugir da nossa história durante uns tempos até que ela nos apanhe e arraste tudo com ela. Sempre pensou que poderia ser rápida o suficiente para controlar os dados, mas...