Capitulo 13

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A sala do concelho era ampla. As paredes eram decoradas com promenores em pedra que tinham as mais variadas cenas. Senti um arrepio percorrer-me quando o frio da sala me chegou como um chicote. Avancei com os olhos postos na mesa de madeira com sete lugares todos eles ocupados. Todos envergavam mantos em tons de azul escuro, cinzento ou preto. A cara estava a descoberto e a mesa não me deixava ver a parte de baixo nem o calçado.

O unico que destoava a imagem era a figura que se encontrava no meio. Esta tinha um capuz que lhe tava a cara com execepção dos seus olhos verdes que brilhavam como duas esmeraldas.

-Cassandra.- saudou-me a figura encapuzada com voz de mulher.

Baixei ligeiramente a cabeça durante uns segundos. Mesmo chateada não podia desrespeitar aqueles que nada tinham a ver com a morte da minha mãe e a minha presença ali. A minha raiva tinha se ser concentrada naqueles que a mereciam.

Esperei pacientemente que alguém começasse a falar. Que consiguisse entender o propósito de tudo aquilo. Demorou cerca de um minuto até o ancião se pronunciasse.

-Precisamos que nos ... Auxilies. - disse depois de uma pausa longa para ponderar na palavra certa. - Foi por isso que pedi para que viesses.

Senti-me o sangue subir-me à cabeça. Nem eram capazes de admitir que estavam a enterrar-se e a precisar de ajuda. O orgulho a cima de tudo. Um ardor instalou-se no meu peito e quis gritar. Gritar para que parassem os jogos e berrar para que me deixassem ser livre. Não como me fora prometido anos antes, mas verdadeiramente livre.

-Posso garantir-lhe que não classifico arrastarem-me de casa e matarem a minha mãe no processo um pedido de auxilio. - Não consegui esconder o tom amargo na voz. - Porque alguém a matou.

Senti um vento afastar-me os cabelos para longe da cara. Naquele momento era indiferente se criava uma brisa ou um furacão. Contudo, fechei os olhos e concentrei-me para a apagar. Precisava de respostas, e recriar uma cena do feiticeiro de Oz não era a melhor maneira. Cerrei os dentes e evitei pensar na minha mãe.

-Nós não tivemos qualquer interferência  na morte lamentável da Amelia Collins. Mas sabiamos que irias ser um alvo. Foi por isso que enviamos o Nathan.

-Sabiam que eu ia ser atacada mas não foram vocês que ordenam os ataques. Honestamente esperam que eu acredite nisso? - Perguntei septica.

-Não. - retorquiu para minha surpresa - Estou a relatar o que aconteceu. Agora Cassandra, acreditas no que quiseres.

As pesadas portas abriram para deixarem passar Nathan. Tinha uma swet e umas calças pretas. Parou ao meu lado e baixo a cabeça em sinal de respeito.

-Madaram chamar-me? - questionou a ninguém em especial.

-Sim. Achamos que devias de ouvir o que temos para dizer.

Nathan acenou em concordância. Os seus olhos estavam atentos mas ele parecia pronto a duvidar do que lhe poderiam dizer. Lembrei-me da minha mãe. Amelia Collins, a mulher que provara que me amava mais do que amava a própria vida. Também ela tinha dificuldade em acatar ordens. Não me surpreendi por a conseguir ver nele. Cada pessoa que passara nas ruas de Mirael e se cruzara comigo que tivesse qualquer semelhança com ela, o cabelo, a altura, a voz, idade, me fazia ve-la. Mesmo quando não havia nada remotamente parecido, eu procurava por alguma coisa que me desse esperanças de que tudo aquilo fosse uma teia de mentiras que a qualquer momento podesse ser desfeita.

-Cassandra - o ancião olhava diretamente para mim. - procuramos-te, porque a tua Essencia está mais forte. Muito mais forte. Sabiamos que haveria de chegar o dia em que o colar já não seria capaz de libertar veneno suficiente para conter a tua natureza, mas julgamos que tinhamos mais uns anos. 

-Espere. - pedi levantando uma mão à altura da cara. - Sabiam que o efeito do colar ia passar? Sabiam que eu teria de voltar para esta vida quando eu o coloquei pela primeira vez?

O ancião anuiu afirmativamente. O meu cereboro congelou. Estava preso no momento em que todas as palavras deixaram de ter significado. 

-Não acredito... - sussurei.

Como é que podiam ter-me enganado de modo a pensar que tudo aquilo tinha acabado? Não tinha planeado ficar ali muito tempo. Talvez só resolver um problema ou outro e sair. Que estúpida! Claro que isso não ia acontecer. Tinha de fugir. Tinha de fugir.

-Cassie. 

Nathan chamava-me com voz grave. As minhas mãos ardiam. Um fogo parecia crespitar-me nas palmas das mãos. Não tinha dor nem queimaduras, o terror parecia dominar-me.  Fechei os punhos e enguli em seco. O ritmo do meu coração estava tão acelarado que me ia saltando do peito. Conseguia ouvi lo pulsar-me nos ouvidos como se alguém o tivesse arrancado. A chama estinguiu-se como se nunca tivesse existido.

-Estou cansada. - confessei com a voz arrastada. - e não vou fazer nada por vocês. Espero que seja clara. Não confio em nenhum de vocês.

Quase me arrastei até à pesada porta. As portas abriram-se sozinhas. Olhei para trás e vi Nathan a olhar-me com uma expressão preocupada.

-E eu vou descobrir a verdade sobre a morte ds minha mãe. Garanto-vos. E quando o fizer, não vão gostar de estar por perto. - assegurei-os enquanto a porta fechava atrás de mim, consiente de que todos tinham ouvido cada palavra.

O terror abandonou-me e uma força invadir-me. Já não tinha medo. Só raiva. Uma raiva que me teria feito atirar alguém contra uma parede se se pusessem entre mim e os meus objetivos.

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