Capitulo 8

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Nathan tirou o punhal de dentro da barriga da perna de um vulto para depois lhe acertar nas costas. Aproximei-me dele quase a arrastar-me.

-Brilhante. Simplesmente fantástico. Como é que conseguimos cair na zona para onde os criminosos são despejados? - perguntei com um tom cansado.

-Pelo menos senão podemos usar a nossa Essência, eles não podem usar a deles.

-Isso não me ajuda muito tendo em conta que tu és o único que tem qualquer tipo de arma. - Observei revirando os olhos.

Os meus músculos ardiam de caminhar-mos à tantas horas. O entardecer dava àquele cenário uma imensa beleza. O sol punha-se por detrás dos campos verdes e dava um tom alaranjado ao céu. Flores selvagens cresciam em grupo e florestas pareciam distribuidas por todo o terreno. Nunca se sabia que criatura poderia sair dali.

Com execpção da pequena pausa de umas 3h para dormitar, estavamos a caminhar desde a noite anterior. Paramos a meio caminho para beber água num riacho algures pela madrugada, mas desde então a água parecia inexistente. O meu estomago roncava por só ter comido umas bagas. Parecia que tinha um buraco e no entanto pesado, dentro de mim.

-Temos de nos despachar. Está a anoitecer e é nessa altura que ficamos mais vulneráveis. - avisou Nathan.

-Quanto mais tempo temos de andar? - inquiri com um tom suplicante.

-Meio dia, talvez. Um dia, se sofrer-mos algum contratempo. Fica atenta, Cassandra.

-Cassie. - corrigi-o.

-Mas o teu nome é Cassandra não é?

Suspirei.

-Sim. - confirmei embora fosse desnecessário. -Sabes bem que sim.

Passou-se um longo silêncio antes de eu retornar a falar.

-Diz, sabes de alguma coisa? Ouviste alguma coisa vinda do Concelho?

-Porque é que te haveria de dizer seja o que for? Tanto quanto sei podes espetar-me uma faca nas costas quando chegar-mos, ou tentares incenerar-me.

Sustive a respiração. Não conseguia sequer controlar a minha essência ou usa-la. O colar prateado que repousava um pouco abaixo do meu pescoço envenenava-me a cada segundo do dia para me impossibilitar de fazer tais coisas. Mas Nathan não precisava de saber isso.

-Posso daqui a umas horas estar a domir e tu matares-me.

-É justo. -cedeu- Mas se te quisesse matar já o teria feito. Eu respondo-te a uma pergunta tua se responderes a uma minha.

-Quem me garante que não me enganas e me mentes para obteres informação? - olhei para ele com uma expressão descofiada.

-E quem me garante que não fazes o mesmo? - retorquio em resposta.

Ponderei durante instantes. Tudo que lhe iria contar ele chegaria a saber eventualmente pelo Concelho ou por Adam quando chegassemos.

-Está bem. Que queres saber?

-O que é que estavas à procura no rio?

A pergunta apanhou-me desprevenida. Estaria ele assim com tanta atenção àquilo que fazia? 

-Estavas um bocado ansiosa. - comentou.

Enguli em seco e tentei parecer o mais natural possivel antes de lhe responder.

-Na verdade, estava a tentar ver o meu reflexo. - vi a admiração passar-lhe pelo rosto. - O reflexo dos meus olhos. Conheces a expressão "os olhos são a janela da alma"? A minha é literalmente a janela da minha alma. Quando mais azuis estiverem, melhor. Se alguma vez chegarem ao cinzento é porque a minha alma... digamos que já tinha visto dias melhores. E fico descontrolada. Mesmo que tenha a minha essência. A minha alma estará negra.

-E então porque é que estás tão desesperada?

-Porque depois de ontem sinto-me vazia. E quero saber se aquilo que preenche o vazio vou ser eu, ou outra versão de mim. - admiti.

Noutro dia qualquer, talvez tivesse corado ou me envergonhado. Mas não naquele dia. A opinião de um estranho,por muito giro que fosse, não me fazia diferença.

-É a minha vez. O Concelho precisa da minha ajuda para quê?

-Já te disse que isso não sei. Digo e volto a repetir, só estou autorizado a saber quando chegar-mos a Mirael e falar com o Concelho.

-Estavas mesmo à espera que não soubesse nada de nada do teu mundo?- inquiri curiosa

-Disseram-me que tinhas escolhido esquecer as partes que para humanos normais seriam inesplicavéis. Não te lembrarias de promenores, mas certamente conhecerias o Adam. Sob circunstâncias diferentes. - acrescentou. - E nada na tua rotina indicava o contrário.

-Era suposto ter esquecido. Mas não fui capaz. Imaginei que talvez me procurassem ou ameaçassem no futuro e a ignorância não me ia ajudar. Escolhi fingir que não sabia.

-Isso correu-te bem, sem dúvida. - disse ironicamente enquanto olhava para a orla da floresta mais adiante. -Temos de ter cuidado que os vampiros exilados são capazes de atacar. Existe um grupo mais à frente.

-Que capacidades têm eles nesta zona? - perguntei com medo da resposta.

-Capacidades de luta incriveis e dentes aguçados. Até aqui eles têm de ir buscar o sangue a algum lado. E quanto mais fresco melhor.

-Óptimo- sussurei enquanto me arrastava mais uns metros.

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