Capitulo 7

27 5 0
                                    

A minha cara chocou violentamente contra o chão. Usei as mãos para impulsionar o corpo e sentei-me no relvado molhado. Cobri a face com as mãos enquanto baixava a cabeça. Não tinha energia para me mexer. Não queria mexer-me. Talvez se ficasse imovel tempo suficiente tudo o que tinha acontecido passa-se por mim como se eu não existisse. As lágrimas não queriam rolar e isso frustrava-me. Como é que alguém com tanta vontade de chorar não conseguia?

E foi ai que revivi a cena dúzias de vezes na minha cabeça. O corpo dela a tombar e a minha força a fugir-me por entre os dedos. As lágrimas começavam agora a rolar e estava a soluçar no meio da relva a gelar. 

-Deus.... - sussurrei entre soluções incontroláveis.

Como é que a tinha deixado ali, sozinha, deixando o meu pai a sentir como se o tapete lhe tivesse sido tirado debaixo dos pés? Devia de ter lá ficado. Devia ter lá ficado, era a única coisa que conseguia ouvir dentro de mim. Se viesse mais alguém pelo menos podia tentar vinga-la.

-Cassandra.

A voz do rapaz pareceu trazer-me à realidade. E deixei de sentir a amargura e a mágoa para apenas estar vazia. Devia de sentir-me grata por não estar a sofrer, mas parecia apenas que eu era alguém objetivo apenas a controlar um corpo despromovido de qualquer tipo de sentimentos ou emoções. Mas isso não estava correto parecia desumano. Por isso deixei que as únicas emoções que conseguia convocar virem à superficie.

-O que é que fizeste? - perguntei cerrando os punhos a tentar controlar a raiva.

-Não fiz nada. - respondeu-me com um fio de compaixão na voz.

-Queres que tudo isto é apenas uma coincidencia? O meu colar a partir-se, a tua chegada, a morte da minha mãe que tão convenientemente me trouxe aqui.

-Primeiro, - começou calmamente. - estamos longe do centro de Mirael. Pedi-te para colaborar, mas obviamente não o fizeste. Lembra-te que não estou a criticar-te por isso, mas é um facto. Segundo, eu não estou envolvido nisto. Estou aqui a pedido do Adam entendes? Só isso.

Levantei-me e sacudi a relva que se tinha colado à parte de trás das calças.

-Claro. Então isso já torna tudo aceitável. - Disse sarcasticamente -Porque é que não me podia deixar em paz?

-Precisamos de ti.

-Desculpa, mas eles acham mesmo que eu vou fazer seja o que for por eles? Deixa-me rir.

 Respirei fundo e levei a mão ao colar que se tinha agora tinha mais uma fenda. 

-Perfeito- Comentei

Estava mais aliviada e contudo começava a sentir que tinha um buraco no peito. Estava a esvasiar como um balão cheio de hélio sem saber onde iria cair.

-Vamos para lá. Assim posso assegura-los pessoalmente que vão ter de arranjar outra pessoa para fazer-lhes o trabalho sujo. Talvez assim me deixem viver sem ter de cá voltar.

-Como é que podes odiar tanto pessoas como tu e viver escondendo quem és?- perguntou-me indiferente o rapaz.

-Se soubesses o que eu sei...- respodi já cansada.

Já não me importava se o colar se parti-se em dois e eu não conseguisse controlar fosse o que fosse que acontecesse. O que é que isso importava quando o mundo me castigava na mesma? Porque haveria de fazer a coisa certa se coisas como o karma eram só palavras vazias?

-Temos de ir andando que não podemos andar durante a noite. - informou-me o rapaz.

-Esta não é a zona onde não a ... - aclareei a garganta - é anulada?

-É. - confirmou. - E sabes que não é nenhum palavrão. Podes dizer a palavra. 

-Prefiro não o fazer.

Olhei para o céu e procurei a estrela polar. Comecei então a caminhar em direção a norte. 

-Sabes guiar-te pelas estrelas? - o seu tom não se mostrava supreso.

-Sei.  Foi uma das únicas coisas úteis que aprendi em Mirael. Mas não conheço isto assim tão bem. Só sei que, se estou a reconhecer e não estou simplesmente a imaginar ou confundir-me, temos de ir para norte. 

-Noroeste para ser mais exato. - Acompanhou o meu passo passando-me uns centimetros à frente enquanto eu começava a andar uma diagonal para ficar-mos a Noroeste.

Virei-lhe o olhar para a minha esquerda. Ele estava apenas a um passo de distância de mim. O seu cabelo estava escuro e quase não conseguia distinguir-lhe as feições. Não conseguia acreditar de que tudo fosse uma enorme coincidencia. Que a morte da minha mãe não lhe estivesse ligada. Contudo, para chamar uma criatura daquelas era necessário ter uma posição alta em frente do concelho. E ele certamente não a tinha. Não. A ordem tinha vindo de cima. E era para lá que me dirigia. Para o concelho de Mirael pedir satisfações e informa-los que me recusava a fazer parte do seu mundo. E quando descobrisse o assassino da minha mãe e quem o convocara, arrancaria eu própria o colar que me pendia ao pescoço e soltar-lhe-ia o inferno em cima. Mas até lá ainda faltavam incontáveis horas e tinha de ficar na companhia do rapaz ainda sem nome.

- Agora que estamos quase totalmente desprotegidos e que é provavel que possamos morrer de hipotermia, importas-te de dizer-me o teu nome?

Consegui ouvi-lo a sorrir.

-Nathan. -respondeu

EscondidaOnde histórias criam vida. Descubra agora