Suspirei de alivio por estarmos longe do grupo de vampiros quando o sol fugiu do céu por completo.
-Nao estava a esperar de ainda estar aqui por esta altura. - confessei mais para mim propria. - Julguei que a única coisa que tinha de fazer era fazer os telefonemas certos, orientar-me com o dinheiro que tinha comigo até arranjar um trabalho e desaparecer para longe quando fizesse 18 anos.
-Parece-me um bom plano. -respondeu sem ponta de ironia.
-Nao era perfeito. Mas era melhor que nada. Só me apercebi que era esse o meu plano quando invadiste o meu quarto.
Senti um aperto no peito só de pensar de que se eu tivesse logo saído a minha mae ainda estaria viva. Reprimi a raiva que me consumia. O pior é que eu era a causa de tudo aquilo. Eu era a faísca que mais tarde originou o incêndio que fez arder até ao chão tudo à minha volta. Se não tivesse dado importância à racha no meu colar, não teria ido ter com o Nathan e poderia ter fugido caso tivesse sido cuidadosa. Todos os 'se's perseguiam-me como fantasmas brancos a sugar-me tudo o que restava.
A temperatura começava a descer sem o calor do sol. As minhas mãos pareciam feiras de pedra. Cada movimento era doloroso. Obriguei-me a parar de tremer enquanto avancavamos. Não podíamos parar. Descansar à noite era perigoso pois não estariamos alerta.
-Como e que me encontraram? - perguntei subitamente.
-Honestamente? Não sei. Achei que também isso não era importante na altura. Não te conhecia nem nada portanto fazia-me sentido saberem onde estavam os nossos semelhantes.
-Nossos semelhantes? - soltei um riso cansado - Só és meu semelhantes, como dizes, se quiseres alguma coisa a ver com tudo isto. E como deves de adivinhado, esse nao e o meu caso.
-Julgas que escolhi esta vida? - parecia estar a milhas de distância enquanto falava - Não. Esta vida escolhe-nos. Não temos qualquer tipo de voto na matéria.
Por segundos senti compaixão por Nathan. A sua vida era provavelmente tao adribulada como a minha. Também ele parecia preso na prisão que a sua natureza criara.
-A maioria das pessoas sonha com um mundo onde a magia barata que aparece nos filmes existe. - continuou categoricamente - Mas só ha dois tipos de pessoas que querem isso: os que estão desesperados ou aqueles que não fazem ideia das implicações que isso traz. De qualquer maneira, são lunáticos.
A lua iluminava o céu que quase conseguíamos ver tao bem como se fosse anoitecer embora esta luz fosse da cor da prata ao invés do ouro. Levantei os pés para não tropeçar num ramo. O ar continuava a gelar-me mas não pude deixar de me sentir agradecida por nao haver humidade ou chuva embora estivemos no inverno.
Apercebi-me subitamente de que queria conversar sobre o mundo que passara anos a fugir. Nathan não parecia querer meter-se nos meus assuntos e já fazia 6 anos desde que falara com alguém sobre a minha Essência. Era certo de que quando chegasse a Mirael todos saberia sobre a minha vida que de privada tinha sempre pouco. O meu peito parecia explodir todos os dias por trazer comigo para todo o lado um segredo tão grande. Só tinha de ter cuidado para não lhe dar pormenores que ele não precisava de saber como não ser capaz de controlar ou naquele momento aceder à minha Essência. Decidi não falar sobre o assunto até ter estabelecido aquilo que podia dizer.
-Quando chegarmos podes arranjar-me um espelho? - pedi.
-Provavelmente.
Nathan não parecia estar desconfortável pela minha presença. Parecia que não existia nada que o pudesse tirar fora do contexto que ele criara para ele próprio. Mas isso de certeza que ela só uma capa que trazia consigo para protecção. Ninguém era feito de pedra. Talvez só eu se fizesse as escolhas erradas. A minha necessidade de ver o reflexo do meus olhos aumentava mas para eu estar preocupada não podia estar assim tao diferente da cor habitual.
Todos aqueles desvaneios me fizeram pensar na minha mae e em como ela dera a vida dela por mim. A dor da sua perda é que me podia escurecer a alma por completo, e isso era a pior maneira de a honrar depois do seu sacrifício. Culpada por a ter de afastar dos meus pensamentos, cruzei os braços por cima do peito.
- Nem quero imaginar o que vai acontecer quando chegar a Mirael. Só de pensar que tenho de estar à frente do concelho até me dá nós no estômago.
As palavras fugiram-me da boca antes que conseguisse para-las. Porra.
- Não sei o que vai acontecer quando lá estivermos mas uma coisa é certa, eles não vão desistir tão facilmente. Até pode ser que decidiam abandonar a abordagem pacifica. Se eu fosse a ti, começava a preparar o que lhes ia dizer. Já.
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Escondida
FantasyCassie passou anos a tentar encobrir o seu passado. E conseguiu. Mas só podemos fugir da nossa história durante uns tempos até que ela nos apanhe e arraste tudo com ela. Sempre pensou que poderia ser rápida o suficiente para controlar os dados, mas...