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️ TW; suicídio. Por favor, se esse assunto te dá gatilho, peço que pule este cap. Cuidem de si mesmos e bebam água, boa leitura 🤍✨


Any Gabrielly

O silêncio fazia eco em minha cabeça. Sons abafados ocupavam meus ouvidos, mas não alcançavam minha mente. Não sabia se tinham se passado horas ou até dias. A única coisa que eu sabia era que minha mãe tinha desistido.

Chegar em casa e encontrar minha mãe desacordada no chão não me parecia mais que um pesadelo. Nada parecia real. A cena de paramédicos a levando para dentro de uma ambulância, com pressa, se repetia em minha mente como um DVD arranhado.

Apesar da visão turva, mente desligada e tontura, a memória estava fresca em minha mente e não parava de me atormentar. Desde que caí de joelhos na frente do corpo jogado no chão, nada mais me interessava.

A última coisa que eu tinha ouvido – e me lembrava – era o anúncio do médico. Ele tinha dito algo como “Ela ingeriu uma quantidade excessiva de remédios”, mas meu cérebro apenas captou a parte onde ela ainda estava viva. Foram segundos de alívio até o médico dizer que ela precisava de um transplante sanguíneo urgente. Eu não podia doar, tanto pela ingestão de bebida, quanto por não termos o tipo sanguíneo compatível. A única coisa que o desgraçado do meu pai me deixou – além de problemas – foi o sangue dele correndo nas minhas veias.

A questão era: se anjos não existem, como poderiam explicar Sabina Hidalgo? Naquele momento, ela era claramente um anjo enviado do céu. Ela, além de ter o tipo sanguíneo compatível com mamãe, estava nas condições perfeitas para a doação.

Essa era toda a informação que meu cérebro guardava. Mamãe tentou suicídio, mamãe sobreviveu, mamãe precisava de doação de sangue, Sabina doou sangue. Após tudo isso, não tinham mais informações. Quando mamãe iria acordar, se ela iria acordar, que horas e que dia eram.

Sabina e Joalin pareciam revezar. A cada hora um par de braços diferente me rodeava. Eu não sabia dizer de quem pertencia o abraço. Não prestava atenção e não fazia questão. Sendo sincera, depois de um tempo eu mal sentia o toque ao meu redor. Elas ainda estavam me abraçando? Já estava na hora da troca de turno? Eu não sabia.

Existem muitas formas de expressão. Você pode se expressar através da fala, do olhar ou do toque. Mas nem todo mundo entende o seu modo de se expressar. Então, de repente, meu cérebro conseguiu captar uma nova mensagem. Eu estava sendo abraçada, e não era mais Joalin ou Sabina. O carinho, a sensibilidade e empatia que eu sentia direcionados a mim faziam parte do jeito do Josh de se expressar que eu tinha aprendido a entender.

Mesmo reconhecendo o toque dele, continuei estática. Meu corpo não respondia aos meus comandos e eu não tinha mais disponibilidade para forçar meu cérebro a acordar meu corpo. O eco e os sons abafados não eram mais as únicas presenças na bolha construída em minha volta. Eu tinha o toque de Josh e, por um momento, a comunicação dele foi suficiente. Por um momento, eu me senti realmente acolhida.

Por outro lado, minha noção de tempo continuava a mesma; eu não tinha ideia de quanto tempo tinha se passado desde que chegamos ao hospital. Não sabia se tinham se passado horas, dias ou semanas, mas eu sabia que os braços me abraçando eram os mesmos e eu tinha a sensação de que fazia muito tempo que eles estavam ao meu redor.

— ... Entendeu, Gaby? – entendi apenas isso do que parecia ser um texto de cinco páginas em árabe sendo recitado no pé do meu ouvido. — Gaby? – a voz distorcida de Josh voltou a chamar.

The Louise Lake | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora