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Any Gabrielly

Ao longo de toda minha vida, a expressão luz no fim do túnel sempre foi muito comum. Eu a ouvia tantas vezes que já achava que tinha algo de errado comigo. Como era possível todos alcançarem essa tal luz se eu mal conseguia vê-la? Por muito tempo, me senti trancada no túnel. Não sabia dizer se eu estava estagnada no mesmo lugar, ou se estava dando ré, mas sabia que com certeza não estava indo para frente. Fosse lá onde minha luz no fim do túnel estivesse, ela estava o mais longe possível de mim.

Mas, um dia, eu a vi.

Estava sentada numa cadeira dura e desconfortável. Minhas costas doíam, minha cabeça latejava e minha garganta estava seca com falta de água. Mas então teve a luz. Dentro da sala pequena e tão branca que fazia meus olhos lacrimejarem, ali estava a luz. A luz iluminava minha mãe. De pé na minha frente, mamãe deu três passos lentos e dificultosos antes de virar o tronco e passear os olhos pela sala, me procurando. Segurando na mão da fisioterapeuta, ela deu mais um passo antes de sua perna vacilar e ela quase cair. Com os olhos transbordando lágrimas e as mãos visivelmente tremendo, mamãe se sentou de novo na cadeira de rodas e apoiou os cotovelos nos joelhos, recolhendo seu rosto entre as mãos e começando a chorar. O corpo dela tremeu e um barulho esganiçado carregado de pura agonia reverberou pela sala. Com as pernas bambas, corri até ajoelhar em sua frente, me jogando nos braços de minha mãe como não fazia desde os quatro anos.

Ela me abraçou e nós choramos juntas. Pela primeira vez em muito tempo, não era um choro de tristeza. Era de felicidade. Pela janela atrás de nós, o Sol brilhava como sempre, mas eu nunca tinha reparado em seu brilho com tanto apreço. Daquela vez, era especial. Daquela vez, o Sol brilhava mais forte apenas para minha mãe.

*

— Foi incrível! – exclamei após narrar todos os acontecimentos da sessão de fisioterapia da minha mãe para Josh. Ele me olhava com um pequeno sorriso no canto dos lábios. Seus olhos brilhavam como o Sol brilhou na janela mais cedo.

— Um passo de cada vez – respondeu.

— Eu sabia que você tava segurando pra fazer esse trocadilho – revirei os olhos.

Suas bochechas inflaram quando ele prendeu o riso, e fizeram um barulho alto quando ele não conseguiu mais segurar e caiu na gargalhada. Não tinha graça nenhuma, mas a risada dele me dava vontade de rir. Tudo naquele dia me dava vontade de rir. Então eu ri. Nós rimos até ele ficar vermelho, e eu sentir vontade de fazer xixi. Mas três batidinhas leves na porta nos interromperam do nosso momento de humor barato.

— A piada foi muito boa, pelo visto – Ursula sorriu passando a cabeça por uma fresta da porta do quarto.

— Foi horrível, na verdade – respondi. Em resposta a minha resposta, senti um travesseiro bater em meu braço com força.

— Ei! – Josh exclamou indignado, mas ainda sorria. Puxei o travesseiro de sua mão e o joguei de volta nele.

— Tô indo pra farmácia – Ursula avisou. — Any, tem uma cesta com biscoitos em cima do balcão da cozinha. É pra sua mãe.

Sorri agradecida com seu gesto.

— Bom te ver assim de novo. Sorria mais, seu sorriso é lindo demais pra ficar escondido – ela piscou antes de dar um passo atrás e fechar a porta.

The Louise Lake | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora