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Any Gabrielly

A tela do celular ficou embaçada de acordo com que as lágrimas foram brotando em meus olhos.

— Caramba – Savannah falou, colocando a cabeça no meu ombro para ver a mensagem na tela.

— É – concordei com a voz embargada.

Olhei mais uma vez para a foto na caixa de mensagem. Conseguia ouvir o barulho do vento forte soprando do lado de fora do apartamento, me lembrando quão frio estava aquela noite. Me encolhi no lugar, puxando a coberta para cobrir meus pés. A foto continuava ali, aberta. A legenda: "Olha isso!!!!! Inacreditável". Me senti até mais fraca. Talvez fosse preguiça. Mas eu estava triste. E feliz. Muito triste mas muito feliz. Sem coragem para sequer tentar reuinir forças para digitar uma mensagem, pressionei o botão para enviar uma mensagem de voz.

— Esse é o melhor presente de natal que você poderia me dar.

Sav apertou meu ombro em consolo antes de se levantar e caminhar para a cozinha. Desde que tinha voltado para Ottawa, estava dividindo apartamento com minha amiga. Morar com ela era geralmente divertido, mas sempre me fazia me perguntar se eu tinha alguma capacidade de viver sozinha. Afinal, eu só tinha morado sozinha antes de tudo acontecer. Antes de minha vida ter se tornado uma extensão da vida da minha mãe.

Exatamente como imaginei, não demorou muito para meu celular vibrar em minhas mãos. Uma foto de Josh esmagando seu rosto contra o de Sven brilhou na tela sob a notificação da ligação.

— Gaby – a voz dele soou afobada no mesmo instante em que atendi à ligação.

— Oi – respondi com o resquício de voz que me restava. Sentia que podia começar a chorar a qualquer segundo.

— Feliz Natal – sua voz soou mais triste. Um aperto cresceu em meu peito.

— Feliz Natal – sussurrei, sentindo meus olhos arderem.

Sav voltou da cozinha com duas xícaras nas mãos. Ela me entregou uma e o cheiro do chocolate quente aqueceu minhas narinas. Apontei para o celular antes de me levantar e caminhar para o corredor.

— Quer que eu durma com você hoje? – perguntou baixinho.

— Não, obrigada – dispensei, deixando um rápido beijo em sua bochecha antes de correr para meu quarto.

Depois de fechar a porta, me desmanchei antes mesmo de alcançar a cama.

— Savannah? – Josh perguntou do outro lado da linha.

– Sim. Ela veio me trazer um pouco de chocolate quente.

— Ah.

Ficamos em silêncio e foquei no som de sua respiração. Era estranhamente calma, ao mesmo tempo que parecia agitada. O som familiar me ajudou a me acalmar. Mas também me fez sentir falta de casa. Sentia falta da cidadezinha todos os dias, mas, naquele dia em especial, a saudade estava mais forte que nunca. Era Natal e eu não tinha conseguido passagem para Frankenmuth por causa de uma nevasca. Isso resultou em um Natal enfurnada em casa e com nenhuma comemoração porque Savannah não comemorava o Natal. E era meu primeiro Natal longe de mamãe.

— Ela não queria comemorar nada porque você não estava – ele quebrou o silêncio de repente. — Mas eu e mamãe insistimos que ela viesse.

The Louise Lake | BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora