O Segredo de Copas

2 - As Primas

VOLTEI! E aí? Todo mundo pronto pra conhecer a BiCaRalho?!

- Tá conversando com quem? - Thelma perguntou ao volante.

Gizelly sorria para a tela do celular, quase com vergonha. Era sua mais nova fã desejando bom dia. Estava extremamente surpresa em descobrir que tinha uma fã. Quando começou a escrever uma fanfic, escrevia para si mesma, não imaginava que as pessoas leriam, quem dirá imaginar que as pessoas iriam gostar do que ela escrevia. Morria de medo de ter erros de português absurdos e de sua história ser muito sem graça ou doida demais, mas só vinha recebendo elogios.

- Lembra que eu falei que comecei a escrever uma história na internet? Sobre duas meninas que se apaixonam, mas não podem ficar juntas? - Gizelly perguntou, pois ela havia contado para Thelma fazia algumas semanas e nem estava muito animada.

- Claro que lembro e li os primeiros capítulos - respondeu Thelma com um sorriso orgulhoso. - É muito boa, Gi.

- É, parece que ganhei uma fã - Gizelly contou, guardando o celular.

- Que legal, Gi - exclamou Thelma com um sorriso largo. - Sempre disse que você é ótima para contar histórias.

- Pois é, mas agora me sinto meio pressionada para continuar o mesmo nível interessante e postar cada vez mais rápido os capítulos... - Gizelly desabafou, um pouco cabisbaixa. - Às vezes sinto que as pessoas vão se aborrecer a qualquer momento e vão se decepcionar comigo...

- Besteira! Você é maravilhosa e sobre o tempo que você demora, não se apressa a perfeição - brincou Thelma, tirando um sorriso de Gizelly.

As duas estacionaram o carro na vaga de sempre. Thelma pegou seus pertences no banco de trás e procurava seu jaleco igual uma doida, achando que havia esquecido em casa. Gizelly puxou o jaleco de dentro da bolsa da amiga e riu da desatenção da mulher.

Thelma era médica e estava fazendo residência para se tornar anestesista, então estava de plantão naquele domingo. Assim como todo final de semana, ela dava uma carona para Gizelly até o hospital para visitar a prima, Manu, que estava internada já fazia algum tempo. Apesar dos protestos de Thelma e da própria Manu, Gizelly passava o dia inteiro com Manu no hospital. Almoçavam juntas e conversavam sem parar. Jogavam cartas e jogos de tabuleiro. Qualquer coisa para animar a menor.

- Hoje eu saio às sete, ok - anunciou Thelma. - E vê se obedece as enfermeiras. Você nem podia ficar lá fora do horário de visitas!

- Pode deixar, Thelminha - tranquilizou Gizelly com um sorriso largo.

- Manda um beijo pra Manu - Thelma pediu, mas Gizelly já tinha saído apressada do elevador.

Manu era prima de Gizelly, mas pareciam irmãs. A pequena tinha um problema no coração e quase não saia do hospital. Seu corpo era grande demais para o seu pequeno coraçãozinho, que acabou não crescendo o suficiente. Agora a menina estava no hospital e esperava por um coração novo. Os pais de Manu agradeciam aos céus por Thelma ter conseguido que deixassem Gizelly ficar com a pequena nos dias de folga, pois Manu realmente era um pouco solitária. Catarina era nova demais para ficar no hospital tanto tempo, apesar de sempre sair chorando do quarto da irmã mais velha. Manu também não ligava de ficar sozinha. Era muito madura e entendia a situação.

Gizelly corria pelos corredores, já conhecendo o hospital como a palma da mão. Manu já até sabia quando a prima estava chegando, pois escutava as técnicas de enfermagem e enfermeiras brigando com o furacão que passava.

- Manu! - gritou Gizelly ao entrar pela porta e se atirar nos braços da pequena. - Que saudades!

- Titchelaaa - gritou a pequena, enterrada nos braços da prima.