47 - Verdade?

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- Então você tá namorando - Letícia comentou quando estavam apenas as duas na rodoviária esperando pelo ônibus de Letícia. 

Gizelly apertou os punhos dentro dos bolso da jaqueta. Era uma jaqueta jeans de Rafa que ficava muito grande nela, mas a namorada dizia ser sexy. Olhava para os próprios pés, remexendo a ponta dos pés na calçada. 

- Desculpa... - sussurrou para a maior com um fio de voz. - Eu devia ter contado, mas é que nossos assuntos sempre são coisas bobas e aleatórias. Sempre falamos sobre algum filme, alguma série ou algo que tá rolando na internet, quase nunca falamos de nós mesmas... 

Letícia segurou o braço de Gizelly, a puxando para um abraço. Não se importou com o olhar ameaçador e incomodado que recebeu de Rafa, que esperava a alguns metros de distância para dar mais privacidade as duas amigas. 

- Não precisa se desculpar - Letícia sussurrou, sentindo Gizelly apertar os braços ao se redor e afundar o rosto nos seus cabelos cacheados. - Você era solteira, nunca definimos as coisas entre a gente depois que você veio embora pra São Paulo. 

- Mesmo assim, a gente teve algo - Gizelly retrucou, se afastando para olhar nos olhos verdes de Letícia. - Eu sinto muito, Lê! Nunca quis te machucar.

- Eu sei disso, Gi - Letícia tentou tranquilizar a menor dando um sorriso. - Eu só não imaginava que tinha uma rival pra disputar você, mas eu fui burra! É claro que teria uma rival! Devo ter várias, assim como ela. Olha pra você. 

Letícia riu e fez Gizelly soltar um riso anasalado. Gizelly estava quase chorando e Letícia queria evitar isso, ou então iria chorar também. 

- Eu só quero que sabia... - Gizelly sussurrou timidamente, abraçando a cintura de Letícia. - Saiba que eu gostei de você de verdade, Lê! Eu gosto, aliás! Você foi a primeira pessoa que eu "gostei" e foi com você que eu descobri a sensação de ter borboletas no estômago - disse com um sorriso nostálgico e olhando fundo nos olhos verdes da amiga. - Mas...

- Você se apaixonou por ela - Letícia concluiu, querendo acabar aquilo logo ou iria começar a chorar. - Eu entendo. Não se preocupe, eu não estou com raiva de você nem nada, a distância também não ajuda muito, né - brincou com um sorriso tristonho, mas conformado. 

Gizelly puxou a maior para mais um abraço apertado e beijou sua bochecha demoradamente. Letícia fechou os olhos para saborear aquele carinho, pois era o máximo que teria. 

- Obrigada - Gizelly disse com um sorriso largo. 

- Pelo quê?

- Por ser você! Você veio de tão longe, negociou com seus pais só porque sabia que eu não estaria bem - Gizelly respondeu, admirada. - E depois que descobriu sobre... Sobre a Rafa, não surtou nem gritou comigo. Você simplesmente não existe! 

- Existo sim - Letícia riu, brincando com a amiga. - Mas eu quero deixar uma coisa bem clara - anunciou séria. - Eu ainda não joguei a toalha! A Kalimann que se cuide - exclamou em tom de brincadeira. 

Logo foi chamado os passageiros para a viagem até Vitória. Letícia se despediu uma última vez de Gizelly com um longo abraço, cheio de sentimento. Ambas riram ao se separarem e Gizelly assistiu a maior entrar no ônibus e partir, acenando ao longe. 

Já na estrada, Letícia se permitiu cair, sozinha em sua poltrona. Abriu o celular e encarou o papel de parede com uma foto dela com Gizelly deitadas no quintal da cabana delas. As primeiras lágrimas escorreram teimosas por sua bochecha, mas ainda silenciosas, mas ao ouvir a voz animada de Tabata  do outro lado da linha, não aguentou mais segurar os soluços que faziam todo seu corpo tremer. 

O Segredo de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora