aniversário de 10 anos.
9 anos atrás.A porta do quarto rangeu quando foi aberta lentamente. Abri as pálpebras — meu sono era leve o suficiente para que despertasse ao menor dos barulhos. Não sabia se aquele era um dos meus pesadelos ou não, então puxei o cobertor sobre os olhos, escondendo meu rosto. Ouvi os passos se aproximarem. Uma camada de suor já tinha se formado na parte de trás de meu pescoço, deixando meus cabelos da nuca úmidos. Senti a coisa se aproximar.
Meu corpo arrepiou da maneira dolorosa de sempre: o frio horripilante atingindo todos os pontos de minhas vértebras. A coberta foi puxada de cima de mim de forma brusca e eu me sentei rapidamente, pronto para tentar lutar, mas assim que abri meus olhos, encontrei Keac e o alívio instantâneo me atingiu.
— Me desculpe, Jake. Devia ter avisado antes que era eu. Não queria assustar você — meu irmão disse, sentando-se na ponta da cama.
— Ela se lembrou? — questionei, esperançoso.
Mamãe nunca se lembrava.
— Não, amigo. Não se lembrou. — Ele pousou a mão sobre um dos meus ombros, tentando tranquilizar-me. — Mas eu me lembrei. Eu trouxe um presente para você.
Keac tirou uma caixa retangular de trás de si, colocando-a em minhas mãos. Ele esperou enquanto eu rasgava o embrulho de papel azul pacientemente. Quando meus olhos pousaram sobre o quebra-cabeça de duas mil peças, eu ergui minhas íris para meu irmão, boquiaberto.
— Duas mil peças? — sussurrei, passando os dedos pela caixa, impressionado.
— Duas mil peças — meu irmão disse, parecendo orgulhoso de si mesmo.
Ele sabia da minha obsessão por quebra-cabeças. O último que montei tinha mil peças. Era uma forma que eu havia encontrado de passar o tempo já que não tinha amigos na escola e minha mãe não conversava comigo.
— Obrigado. É irado.
— Fico feliz que tenha gostado, cara. Foram todas minhas economias no seu presente.
Keac tinha catorze anos e trabalhava como assistente numa floricultura que ficava no centro da cidade. Diferente de mim, ele era bem popular na escola. As garotas queriam que ele as notassem e os garotos queriam andar com ele e ser como ele. Muito diferente da minha turma que me evitava e me chamava de esquisito.
— Pronto para a escola? — Keac questionou, tentando me animar. — Vou comprar um pedaço de bolo no refeitório para você hoje.
Eu só notei que já era dia quando lancei um olhar para as janelas entreabertas do meu quarto e vi a luz branca e cegante vindo lá de fora. Keac esperou que eu tomasse banho, me ajudou a pentear o cabelo e colocou dois sanduíches de paste de amendoim e um suco de caixinha na minha lancheira. Depois ele vestiu o uniforme do time de beisebol e nós fomos para o corredor.
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Breathe
WerewolfMarjorie é nova em Gracefall - cidadezinha pacata e congelante que fica no Canadá. Sua vida monótona de boa aluna e atendente de uma livraria muda com a chegada de um trio de rapazes misteriosos com sorrisos predatórios e íris que parecem sugar tod...