Jake Lowell
Eu observei Keac enquanto ele me observava de volta, esperando na soleira da porta de nossa casa. Como se estivesse se certificando de que eu voltaria para cá e não devoraria a Marjorie na casa dela. Trinquei o maxilar quando passei por ele, esbarrando propositalmente em seu ombro, o que só desencadeou uma onda de risinhos de seu corpo.
— Parece que alguém está bem nervoso — ele cantarolou, seguindo-me enquanto eu subia as escadas até o andar de cima com pressa.
Eu pulava os degraus de dois em dois. Meu peito já subia e descia rapidamente, como se eu tivesse acabado de correr uma maldita maratona. Me enfiei embaixo do chuveiro com roupa e tudo, pois sentia que iria queimar de dentro para fora. Marjorie. Marjorie. Marjorie. Cerrei um dos punhos, apoiando-o contra os azulejos brancos ao meu lado enquanto fechava as pálpebras com força. O nome dela parecia uma maldição. Aquela garota, ela era... Soltei o ar entre os dentes de maneira espalhafatosa, não completando o pensamento e abrindo um dos olhos quando os passos de meu irmão soaram, indicando que ele estava comigo dentro do cômodo.
— Você é um desgraçado. Convidou a garota para entrar aqui. Agora eu consigo senti-la por todo lugar — murmurei.
A nossa casa tinha cheiro de madeira antiga, além da essência da floresta. Mas havia aquela mistura inconfundível, algo cítrico e doce ao mesmo tempo. O perfume dela, limpo e convidativo. Completamente inebriante. Por toda parte. Trinquei os dentes com mais força, arrancando a camiseta e jogando-a no chão, ensopada.
— Desculpa. Não foi de propósito. — Ele deu de ombros. Pela expressão dele, eu sabia que havia me sacaneado. — Tinha alguém na casa dela?
— Não, só uma raposa.
— Menos mal. Ela parecia meio apavorada. — Keac se encostou contra a porta, os olhos ainda vagando pela minha expressão enquanto eu sentia minha temperatura baixar e minha respiração voltar a ser uniforme. — Você não sentiu quando ela chegou aqui? — Agora ele parecia um pouco mais sério.
— Não. — Abri minha mão e fechei, os filetes de água gelada escorrendo por meus cabelos. — Não notei nada.
— Estranho — ele resmungou. — Deve ser porque você estava concentrado demais tentando acertar socos no Adam.
— Tanto faz — retruquei.
— Marjorie arranjou um emprego naquela livraria que você gostava de ir. Fortuity. — Ele fez uma pausa. — O Adam foi lá hoje. Ele está rondando ela, tentando descobrir algo.
— Que bom para ele — foi tudo o que eu disse.
Keac e eu ficamos em um silêncio longo até que ele notou que eu não estava a fim de conversar e foi embora, deixando-me sozinho no banheiro, como eu desejava. Fiquei parado enquanto os jatos de água desciam por meus ombros, passando por meu abdômen e indo para o ralo. Depois de alguns minutos, quando tinha conseguido acalmar os ânimos, finalmente desliguei o chuveiro.
Troquei as roupas molhadas por outras limpas e secas, desci as escadas e saí pela porta da frente, passando pela sala vazia. Não me importei onde meus irmãos estavam e também não fiz questão de checar. Agora eu só precisava sair daquela casa maldita que havia sido completamente arruinada pelo cheiro dela. Montando em minha moto estacionada na garagem, eu saí em disparada pela estrada, envolvendo as manoplas com minhas luvas de couro preto firmemente.
Os pneus já eram adeptos para o frio, então quando cheguei numa parte da cidade que ainda estava meio congelada, não diminuí a velocidade. Eu gostava da minha Harley Davidson, até um pouco demais. Meus irmãos sempre faziam piadas sobre eu preferir o motor da minha garota do que, de fato, mulheres reais. E eu não fazia nenhum esforço para corrigi-los. A lataria prateada e fulgente tinha um espaço especial no meu coração.
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Breathe
WerewolfMarjorie é nova em Gracefall - cidadezinha pacata e congelante que fica no Canadá. Sua vida monótona de boa aluna e atendente de uma livraria muda com a chegada de um trio de rapazes misteriosos com sorrisos predatórios e íris que parecem sugar tod...