vinte e um

2.3K 497 350
                                    

A brisa gelada da noite fazia com que os pelos de meus braços ficassem arrepiados e que meu tronco produzisse pequenos espasmos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A brisa gelada da noite fazia com que os pelos de meus braços ficassem arrepiados e que meu tronco produzisse pequenos espasmos. Por mais que eu estivesse usando um casaco imenso de inverno que ia até metade das coxas, não conseguia não tremer feito uma idiota por conta do frio. O rifle que meu pai tinha entregado em minhas mãos também não ajudava muito. Eu estava tão nervosa que não conseguiria acertar nada se fosse necessário.

Suzanna e James Mildred estavam em pés a poucos metros de distância, conversando com dois caras estranhos que eu nunca tinha visto por Gracefall que aparentemente também eram caçadores. Aquele tipo de caçadores. As vozes eram baixas, não passando de murmúrios. Ergui meus olhos para a lua cheia exposta no céu, parecendo uma joia cintilante e estremeci quando lembrei-me o que ela representava.

Um uivo cruzou o ar. Meu pai e seus companheiros de caça congelaram, parecendo ficar atentos no que viria a seguir. Pressionei os lábios juntos. Por favor, que não seja nenhum dos irmãos Lowell. Por favor, que não seja nenhum dos irmãos Lowell. Por favor, que não seja nenhum dos irmãos Lowell, comecei a pensar repetidamente.

Eu esperava que eles já estivessem longe dali. O mais distante possível pelo menos, já que não podiam sair de Gracefall. Meu pai disse para eu cobrir o leste. E era isso que eu estava fazendo, posicionada entre dois pinheiros, fitando a trilha vazia e sombria da floresta. Uma figura corpórea atravessou com sagacidade entre as árvores, um vulto preto na escuridão. Meu pulso disparou.

Ah, não.

Mal tive tempo de recuar quando ela voltou. O animal de quatro patas correndo em minha direção. As íris amareladas brilhando feito neon fixas em mim. Com pressa, destravei a arma, minhas mãos trêmulas e desajeitadas. Um metro nos separavam. Um metro e eu provavelmente estaria morta. O lobo rosnou, o focinho franzido e a mandíbula aberta, os dentes afiados à mostra. Três passos e ele me atacaria. Por instinto de defesa, ergui o rifle e puxei o gatilho. O estrondo ressoou em meus ouvidos, seguido pelo arquejo do animal e o zumbido metálico. Larguei a arma e fechei os olhos, o coração retumbando em meus tímpanos.

A voz de meu pai começou a me chamar, como um eco.

Marjorie. Marjorie. Marjorie.

Uma mão envolveu meu braço e me puxou para longe dali. Eu estava em choque. Em choque porque nunca tinha matado algo antes. Suzanna era quem me puxava entre os pinheiros, arrastando-me até o carro escondido entre árvores. Ela abriu a porta e esperou com que eu entrasse. Me fitou por alguns momentos em silêncio até que disse:

— Você não teve escolha. Iria ser atacada se não tivesse puxado o gatilho.

— Eu o matei? — sussurrei, as íris perdidas num ponto qualquer.

— Um tiro certeiro na cabeça.

Estremeci.

— Seu pai ficará orgulhoso — ela murmurou, antes de fechar a porta e me deixar ali, sozinha no interior do carro.

BreatheOnde histórias criam vida. Descubra agora