quatorze

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   Quando atravessei a porta do chalé, nem notei a sombra corpulenta e meio distorcida da figura de meu pai esperando-me na sala, sobre a poltrona

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   Quando atravessei a porta do chalé, nem notei a sombra corpulenta e meio distorcida da figura de meu pai esperando-me na sala, sobre a poltrona. Dei um pequeno sobressalto em meu lugar, meu coração disparando ao ligar o interruptor. Olheiras faziam penumbras abaixo de seus olhos e ele ergueu o olhar do livro desconhecido para mim. Parecia exausto e ter despertado de um cochilo. Como se tivesse cronometrado cada segundo em que estive fora e esperado incansavelmente pelo meu retorno.

— Oi, pai... — comecei, sem saber exatamente o que dizer. O carro de Jake já havia se distanciado há alguns momentos atrás.

— Onde está seu carro? — ele questionou, pegando-me de surpresa.

Ah, merda. O carro tinha ficado na propriedade dos Lowell's. Eu estava tão distraída com o lugar em que Jake havia me levado — e não menos importante, com o próprio Jake — que nem havia me dado conta de um detalhe importante como aquele. E aparentemente eu havia causado-o o mesmo efeito de dispersão já que também não havia se lembrado.

— Bebi algumas garrafas de cerveja. — Era mentira, mas ele não precisava saber. — Achei perigoso dirigir até aqui então pedi uma carona.

Meu pai analisou-me de cima a abaixo, como se estivesse cogitando sobre cada palavra que havia escapado por meus lábios. Eu já estava começando a suar quando, por fim, ele deu de ombros, sentando-se sobre o tapete da sala e abrindo uma espécie de mapa enrolado que tinha tirado de um suporte acima da lareira, deixando o livro de antes de lado.

— Volte para buscá-lo amanhã. Agora, venha cá. Quero te mostrar algo.

Sentei-me ao seu lado no tapete, não podendo conter a curiosidade e desconfiança dentro de mim. O barulho do isqueiro preencheu o ambiente e a chama pálida fez seu trabalho acendendo o habitual charuto nos lábios de meu pai.

Minhas íris começaram a assimilar o mapa e congelei em meu lugar ao notar do que se tratava.

Ele deu uma tragada antes de começar a dizer:

— Esse é o esquema que criei para a lua cheia, daqui cinco dias. — Ele colocou o indicador sobre um ponto vermelho na ilustração de Gracefall. Ficava em meio florestas. — Esse é o lugar onde iremos nos posicionar. A Suzanna vai com a gente. — Ele tirou uma bala longa e prateada do bolso, com gravuras de floreios em sua base. Uma beleza letal. Depositou-a no centro do mapa, no meu alcance de visão. — O maior deles será seu.

Um sorriso lento se espalhou por seus lábios e eu quase engoli em seco. Mas me recompus rapidamente e devolvi o gesto, um pouco hesitante.

— Como iremos atraí-los para nós? — questionei, tentando parecer interessada.

— Estamos tentando com aparelhos sonoros há dias mas eles nunca apareceram, além daquele lobo solitário na floresta com você e Suzanna. Isso quer dizer que eles são mais espertos do que pensamos. — Bateu as cinzas do charuto contra o cinzeiro metalizado e voltou a apoiá-lo num dos cantos da boca. — Não caem nessa. Na lua cheia vão estar famintos. Loucos. Fora do controle. Ficam impulsivos e buscam qualquer fonte para se alimentar. Mesmo que seja arriscado. Nós iremos nos certificar de que teremos comida o suficiente para todos eles.

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