Para uma pequena chica

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2020/03

Sergipe, fevereiro.

Eu sei, eu sei o que você vai dizer (ou, pelo menos eu espero): ninguém liga para você. Eu sei que vai doer ler o que estou prestes a escrever: isso é mentira. Não posso interpelar — um dia você descobre o que isso quer dizer — por outros, mas eu me importo com você.

Magoa-me você agir como se eu não demonstrasse isso com frequência.

Eu tenho algo para admitir antes de continuar: eu tenho problemas. Muitos, inúmeros. Com você, com relação a casa, com mainha, nossos irmãos e com o papai. Nem me fale! Que homem chato (pois é, um eufemismo). Também, não sou tão mais velha que você, mas eu sou. Isso importa. Você 'tá naquela fase de achar que qualquer coisa já pode ser grande, que todo mundo é um indivíduo formado, que todas as suas ideias — consequentemente, suas tristezas — são plenamente suas. Eu disse a você: não são.

Você é apenas uma criança, chica, 'pequeninita e, pior, sensível. Eu não lembro de sermos tão sensíveis, mas é outra época e eu faço tudo que posso dentro da minha zona de turbulência para você. Nós não merecemos você. Afinal, pessoas como nós merecem crianças?

Eu sei que você esperava ter uma irmã grande, incrível, que pudesse suprir e cuidar de você. Mas eu não posso, o que eu posso fazer é dizer que faço o que tenho que fazer para com você e mais. Sabe por que? Porque eu amo você.

Eu puxo seu pé não é porque é minha obrigação, e sim porque eu quero que você descubra o melhor de você. Quero explore a si mesma de uma maneira que nenhum de nós conseguiu até hoje, quero que vá mais longe que todos nós. E eu quero tudo isso para você porque eu gosto de você, óbvio — mister Sherlock. Eu tenho meus devaneios, meus desesperos e minhas idas cada vez menos sem voltas. Eu sei, não sou a melhor a desempenhar esse papel.

Mas eu amo você demais e para poder te entupir de amor eu faço o que posso. Eu escuto, às vezes, demonstro que tem as coisas que eu não gosto e mesmo assim observo, vejo suas notas, suas pretensões, seus talentos; me preocupo milimetricamente com o que você fala em busca de qualquer coisa que deva ser reparada. Isso porque eu quero que você cresça e deixe de ser chica para ser mulher, livre e independente de amarras que tentam colocar em você — como fizeram comigo. Eu queria que fosse menos sofrido, mas eu sou criança também. Então, estou explicando as maiores partes para que um dia você entenda as menores.

Boa sorte na vida, chica, aproveite a liberdade que está ganhando. Ela é inestimável e atrás dela terá eu, para zelar por você até onde precisar e até onde não precisar mais. Somos irmãs, eu estarei lá quando tiver que estar e quando não também, eventualmente.

Minhas dicas sempre são as mesmas: corra atrás do que você quer, estude o que você deve e faça aquilo que você gosta.

Você sabe, eu não gosto de abraços. Então, me despeço com um...

Com amor,
a menina de cabelo pintado.

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