Do fundo da sala os olhos fixos miravam os meus, deixando-me covarde. Por alguma razão, parados assim, turvaram minha mente enquanto turbinava-a e a minha ação voou longe.
Esquisita, estranha, estúpida
Quando vai crescer?
Não soube o que eu estava fazendo era certo ou errado, mas tudo parece sempre tão errado quando faço.
Flutuo sobre nuvens que não conduzo e os olhos me encaram cobrando-me uma personalidade ajustada. A destreza me some dos sentidos, o cérebro entra em loading...
Para que lutar por algo?
Que direito eu tenho?
Encolho-me mais uma vez trocando uma imagem pela outra, uma fala pela outra e me arrependo de palavras ditas ou concretizadas.
— Na próxima será melhor...
Na próxima, na próxima...
E nunca é de fato melhor, e os olhos permanecem me oprimindo; então confundo os papéis e planos. Confundo-me em mim.
Ademais, nunca parece que fiz o que queria. No fundo, nunca parece se encaixar. Daí o medo cresce, o coração aperta, a música sobe e nada parece fazer sentido.
E parece que não fiz nada.
E nunca parece que tentei.
E nunca parece o suficiente, como se um monstro engolisse as realizações e cuspisse os erros do processo no meu rosto.
Lá, do fundo da sala, aqueles olhos me encaram.
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Freedom
Non-FictionOnde o grito surge como o uivo de um lobo. Uma busca insaciável por ser livre de correntes que prendem palavras. Coletânea de desabafos. #1 liberte-se 27 de maio de 2021