Capítulo 8 - Pacto de reencarnação

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Yeonjun estava parado diante do portão do palácio, que havia sido parcialmente destruído pelas explosões de fogo do dragão Rúbeo. Ele observava os cinco corpos ali pendurados um tanto inexpressivo, como se até mesmo tivesse dificuldade de entender o que tinha acontecido. Ao seu redor e até mesmo por dentro dele, várias pessoas se aglomeravam para assistir àquela cena de terror também. O primeiro príncipe olhou para os seus braços transparentes e depois para o seu corpo físico que pendia ali e suspirou, atordoado.

Então era isso, ele tinha morrido e seu espírito já havia deixado aquele corpo que não lhe servia mais. No entanto, de toda a família real, ele tinha sido o único que ficou para trás.

Assim que alguém morre, o espírito que não tem quaisquer arrependimentos ou que não está preso a nada no planeta Terra, faz naturalmente a passagem para o reino espiritual, para descansar. O rei, a rainha e os dois filhos mais novos tinham decidido deixar todas aquelas coisas ruins para trás, não queriam se apegar a algo que não podiam mais mudar, então eles apenas se foram. Era o mais inteligente a se fazer nessa situação, apenas aceitar que na vida nem tudo funciona como queremos e que o nosso dia de morte já está escolhido, se eles tinham ido embora era porque aquela jornada tinha chegado ao fim.

Aquela era uma forma muito madura de se pensar, mas Yeonjun não conseguia chegar a tais entendimentos. Em sua cabeça, havia um desejo de vingança que crescia mais a cada momento, atrelado à sensação de impotência por ter deixado para trás uma promessa não cumprida: Ele não poderia mais proteger Soobin. Por isso, ali estava ele, um fantasma que ninguém podia ver, ainda preso no mundo humano.

Contudo, ele não era o único. Agora que era um fantasma, ele conseguia ver outros vagando por aqui e ali, tantas pessoas tinham morrido nesse mesmo dia que era normal que alguns não tivessem nem sequer entendido o que aconteceu, se negando a fazer a passagem. Do outro lado da rua, ele ouviu uma mulher gritando por seus filhos, mas eles não a viam mais. À sua esquerda, o homem que vendia tecidos em frente ao palácio estava querendo arrumar sua barraquinha que tinha sido revirada, mas ele não tinha mais um corpo físico, então ele não podia fazer nada. Até mesmo o dono do burro que pastava ali perto estava tentando montá-lo, mas não conseguia. Todas aquelas pessoas nem sequer sabiam que estavam mortas...

O estado de confusão não costumava durar muito, espíritos assim deveriam levar no máximo dois ou três dias para entender que estavam mortos e então aceitar o seu destino. Demorava um pouco mais para espíritos que estavam presos a algo nesse planeta e não queriam deixar ir – podia ser um emprego, um amor ou uma família. Posses, vícios ou promessas. Espíritos assim costumavam levar mais tempo para fazer a passagem, às vezes vagavam por anos sem conseguir ir embora. Era provável que Yeonjun acabasse se tornando um deles, pois seu coração estava relutante em se desfazer do desejo de vingança e das promessas que não queria deixar para trás.

Foi então que ele ouviu uma voz conhecida e se virou de súbito, em tempo de ver Soobin e Beomgyu do outro lado da rua.

- Deixa que eu vejo – o mais novo disse – Você pode ficar aqui.

- Não – Soobin balançou a cabeça – Eu preciso ver.

Yeonjun sentiu uma pontada no peito, mesmo que já não pudesse ter mais nenhuma sensação física. Ele correu em direção à Soobin e tentou pará-lo de todos os jeitos, mas o garoto apenas o atravessara, já que não podia vê-lo ou senti-lo. A última coisa que o primeiro príncipe queria era que Soobin o visse daquele jeito, pendurado e coberto em sangue, era tão assustador que ele mesmo teria pesadelos. Mas Soobin era teimoso e precisava ver aquilo com os próprios olhos, por isso ele empurrou todo mundo até finalmente estar diante daquela cena de horror.

- Irmão mais velho! – Beomgyu gritou e tampou a boca com a mão, horrorizado.

Soobin arregalou os olhos e engoliu em seco, dando um passo para trás. Seu olhar estava congelado, olhando para o corpo que pendia ali, o corpo daquele garoto sorridente e travesso com o qual ele estivera na cachoeira a poucas horas. Ao seu lado, Yeonjun tentou pegar em sua mão para confortá-lo, mas nem isso ele podia fazer. Ele também saltou em sua frente e tentou tampar seus olhos, mas era inútil.

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