Capítulo 90.2: A pior memória de Snape

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Encontrou-se parado no meio do Salão Principal, mas as mesas das quatro Casas haviam desaparecido. Em seu lugar, havia mais de cem mesinhas, todas dispostas da mesma maneira, e a cada uma delas se sentava um estudante, de cabeça baixa, escrevendo em um rolo de pergaminho. O único som era o arranhar das penas e o rumorejar ocasional de alguém ajeitando o pergaminho. Era visivelmente um dia de prova.

O sol entrava pelas janelas altas e incidia sobre as cabeças inclinadas, refletindo tons castanhos, acobreados e dourados na luz ambiente. Harry olhou atentamente a toda volta. Snape devia estar por ali em algum lugar... era a lembrança dele...

E lá estava ele, a uma mesa bem atrás de Harry. O garoto se admirou. Snape adolescente tinha um ar pálido e estiolado, como uma planta mantida no escuro. Seus cabelos eram moles e oleosos e pendiam sobre a mesa, seu nariz aquilino a menos de cinco centímetros do pergaminho enquanto ele escrevia.
Harry se deslocou para as costas de Snape e leu o cabeçalho da prova: DEFESA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS – NÍVEL ORDINÁRIO EM MAGIA.

Portanto Snape devia ter uns quinze ou dezesseis anos, aproximadamente a idade de Harry. Sua mão voava sobre o pergaminho; já escrevera pelo menos mais trinta centímetros do que os vizinhos mais próximos, e sua caligrafia era minúscula e apertada.

"Mais cinco minutos!

A voz sobressaltou Harry. Virando-se, ele viu o cocuruto do Prof. Flitwick movendo-se entre as mesas a uma pequena distância. O professor passava agora por um garoto com cabelos negros e despenteados... muito despenteados...

Harry se movia tão depressa que, se fosse sólido, teria atirado as mesas pelo ar. Em vez disso, parecia deslizar, como em sonho, atravessar dois corredores e entrar em um terceiro. A nuca do garoto de cabelos negros se aproximou cada vez mais... e ele ia se endireitando agora, descansando a pena, puxando o rolo de pergaminho para perto para poder ler o que escrevera...

Harry parou diante da carteira e contemplou o seu pai com quinze anos.

A excitação explodiu no fundo do seu estômago: era como se estivesse olhando para si mesmo, mas com erros intencionais. Os olhos de James eram castanho-esverdeados, seu nariz era mais comprido do que o de Harry e não havia cicatriz em sua testa, mas ambos tinham o mesmo rosto magro, a mesma boca, as mesmas sobrancelhas; os cabelos de James levantavam atrás exatamente como os do filho, suas mãos poderiam ser as dele e Harry não saberia a diferença; quando o pai se levantasse, os dois teriam quase a mesma altura.

James deu um enorme bocejo e bagunçou os cabelos, deixando-os mais despenteados do que antes. Então, olhando para o Prof. Flitwick, virou-se e sorriu para outro menino sentado quatro mesas atrás.

Com um novo choque de excitação, Harry viu Sirius erguer o polegar para James. Sirius sentava-se descontraído na cadeira, inclinando-a sobre as pernas traseiras. Era muito bonito; seus cabelos negros caíam sobre os olhos com uma espécie de elegância displicente que nem James nem Harry jamais poderiam ter tido, e uma garota sentada atrás dele o mirava esperançosa, embora ele não parecesse ter notado. E duas mesas para o lado - o estômago de Harry se virou de uma forma boa - encontrava-se Remus Lupin. Parecia muito pálido e doente (a lua cheia estaria se aproximando?), e absorto no exame: ao reler suas respostas, coçara o queixo com a ponta da pena, franzindo ligeiramente a testa.

Isto significava que Wormtail devia estar por ali também... e, sem erro, Harry localizou-o em segundos: um garoto franzino, os cabelos cor de pêlo de rato e um nariz arrebitado. Wormtail parecia ansioso: roía as unhas, olhava fixamente para a prova, arranhando o chão com os dedos dos pés. De vez em quando espiava esperançoso para a prova do vizinho. Harry observou Wormtail por um momento, depois o próprio pai, que agora brincava com um pedacinho de pergaminho. Desenhara um pomo e agora acrescentava as letras "L.E.". O que significariam?

All The Young Dudes [Livros 1 e 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora