Epílogo

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  Já se passaram três dias desde a morte de Tomas e Clarissa. Steiner voltou para a Alemanha ontem, minha mãe viajou para algum lugar paradisíaco provavelmente, com o poder que ela possui agora vai ser difícil localizá-la.
Estamos com as nossas malas feitas, Tarragona não é nosso lugar e eu duvido muito que encontremos um.

— no fim você não cumpriu a promessa de morte. — Rafael comentou.

  Ele está segurando o filho com um braço e com o outro está puxando uma mala. Eu abri a porta do apartamento para ele não precisar soltar a mala.

— eu resolvi te dá mais uma chance, Rafael García. —falei e ele riu — você já escolheu um nome?

— sim. Conheça Tomas Alie García.

— ficou um pouco brega. — brinquei — cuide do pequeno Tom, Rafael.

— cuide de si própria, Louise — ele disse e saiu — foi bom te conhecer.

— digo o mesmo.

  Rafael puxou a mala até o elevador, no rosto dele eu vi o sorriso do meu amigo. Um lembrete que ele nunca estaria realmente longe.

  Peguei minha bolsa e fui para o bar de Macarena, eu não posso ir embora sem antes beber uma última vez aqui.

— o de sempre? — Maca perguntou.

— hoje eu só quero um suco — falei e Macarena se surpreendeu.

  Ela foi preparar o meu pedido, trouxe minutos depois. Bebi o suco de maracujá observando a rua pela janela de vidro.
Eu não quero pisar nessa cidade nunca mais e não é por trauma ou péssimas memórias, mas sim porque eu não consigo imaginar ela sem imaginar Tomas García. O garoto tinha muito para viver ainda, foi a escolha dele morrer mas não consigo parar de me sentir culpada.

  Abraham entrou no bar e veio em minha direção, ele se sentou de frente para mim como no dia que nós dois bebemos aqui. O olhar ingênuo dele é muito bom para estar sobre mim.

— será que já estamos a salvo? — ele perguntou, não respondi nada.

  Bebi o resto do meu suco e deixei o copo de lado. Segurei a mão de Abraham e olhei nos fundos dos olhos dele.

— você tem certeza que quer continuar com a gente? Você só tem 20 anos, Helsing, eu vou entender se não quiser fazer parte da minha vida.

— não vai se livrar de mim tão rápido, Louise. Eu escolho fazer parte da sua vida — ele respondeu com sinceridade — sabe... Naquele dia que bebemos juntos aqui eu já sentia que seríamos amigos — ele contou — naquele dia todo o resto do mundo estava preto e branco e apenas nós dois estávamos coloridos, como na música que eu escutei. — ele sorriu — eu já te salvei uma vez, você pode precisar de novo.

— você é um bom rapaz, Helsing.

— eu sei. — ele falou e eu revirei os olhos.

  Ficamos mais um tempo sentados na mesa do bar conversando sobre besteira. Por um momento eu esqueci que minha vida é totalmente maluca. Eu ri bastante com algumas histórias que Abraham contou sobre a adolescência dele, algumas não eram tão divertidas para uma criança viver. Depois nós dois voltamos para o apartamento.

  Wendy e os outros quatros vampiros já estão prontos para irem para o aeroporto, minha irmã vai voltar para Londres. Eu acho que ela vai perseguir fantasma porque é apenas isso que tem lá.

— vou sentir sua falta — ela falou e me abraçou sem avisos. Os outros ficaram surpresos com o gesto — se precisar de mim é só ligar, eu não quero ficar distante novamente.

— se eu precisar eu te ligo. — me afastei do abraço — a propósito eu te perdôo por você ter me abandonado. É chato  guardar rancor.

— obrigada.

— desejo boa sorte para você em Londres.

— eu também desejo boa sorte para você, Louise — Wendy falou e uma lágrima escorreu pela bochecha dela — isso é um adeus por hora.

  Wendy se foi acompanhada por Oliver Tate, as irmãs Devereaux e Kallie Eastey. Um silêncio tomou conta do ambiente. Penélope e Blake sentados no sofá, Mike sentado no chão perto da mesinha de centro, Abraham e eu de pé perto da porta, todos nós com expressões vazias.
Os cabelos lisos de Mike estão bagunçados, os fios dourados realçam os olhos verdes dele.
A pele bronzeada de Penélope é idêntica a de Blake, os olhos castanhos e até o jeito de sorrir. A única diferença na aparência dos dois é o cabelo, enquanto o de Blake é liso o de Penélope é cacheado.
Os olhos azuis de Abraham estão perdidos, acho que ele espera por uma instrução. A brisa que entra pela janela bagunça o cabelo ondulado dele.
Esse cenário silencioso é a única coisa que eu quero lembrar de hoje.

  Um pouco mais tarde, pegamos nossas coisas e fomos para o aeroporto, esperamos o nosso vôo com calma pela primeira vez em semanas. Não precisamos de pressa, não hoje.
Depois de 9 horas dentro do avião, chegamos em Boston, Massachusetts. Não ficamos muito tempo, partimos logo para Aquinnah.

•••

  O sol está nascendo, eu passei o dia inteiro ontem dormindo e só hoje tive coragem de fazer isso.
As ondas vem e vão, queria saber se a imagem que Tomas viu no Google foi igual essa.
Blake me entregou a garrafa onde ele guardou as cinzas de Tomas. Entrei no mar até a água encostar nos meus joelhos, abri a garrafa e derramei as cinzas. O vento levou elas para as águas mais profundas.

— adeus definitivamente. — falei em tom de sussurro.

  Voltei para perto dos outros e assistimos o belíssimo nascer do sol em Aquinnah. Como se nossas energias estivessem sendo renovadas.

— então podemos relaxar agora? — Abraham perguntou.

— sim, Helsing, nós finalmente estamos fora de perigo. — respondi.

  Este com certeza foi um fim doloroso para mim, para Penélope, para Abraham e outras pessoas.
Eu perdi Tomas e Allison de certa forma, Abraham perdeu o pai, Penélope perdeu Dana e muitas outras pessoas perderam entes queridos. Mas nós ainda temos uns aos outros e isso eu tenho certeza que nunca mudará, nunca... não enquanto o "no fim e depois do fim" estiver valendo.

... O resto do mundo era preto e branco e nós éramos cores vibrantes!

•••

Crônicas de Louise Onde histórias criam vida. Descubra agora