Capítulo I.

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Capítulo 1 - "And I Think To Myself..."

Era um cubículo. O mais esquisito de todos.

Às vezes, estava em seu quarto, e nessas vezes, fechava os olhos com os fones enfiados nos ouvidos.

Então, esse cubo transparente rodopia pelo espaço, ao som de um estável piano.

O decepcionante, no entanto, era que, sempre ao tentar rascunhar o universo que cercava seu cubo, ouvia um interruptor o trazendo de volta. De volta ao seu quarto, à sua cama desarrumada, aos pôsteres, ao armário que precisava ser consertado.

Agora, era um quarto salmão de pôr do sol, nos crepúsculos, suas paredes eram coradas, no meio do dia anis ou pálidas, e de noite, uma escuridão esmagadora, porém plena. Não era uma opinião que externalizasse ou que tivesse certeza, mas Oliver achava melhor assim. Olhar suas paredes como telas a serem tingidas pelo próprio universo o levava a si imaginar mais próximo de forças superiores e iminentes.

Àquela tarde de domingo, o quarto emanava seu quente salmão, através da sempre aberta janela. Via o reflexo dos carros passeando pelas paredes, ansiosos por atenção. Agora, já completamente desperto do cubículo, Oliver decidiu se aproximar da janela, e ver o esparso trânsito. Viu um carro azul descascando, um silencioso caminhão, uma moto escandalosa e um fusca verde-oliva estourando pela rua.

Enquanto via aquela ervilha com rodas sair de seu campo de visão, lembrou-se de sua mãe, e de sua obsessão.

Começou como uma brincadeira. Há cinco anos, ela sugeriu que Oliver pintasse seu quarto de... Oliva. Foi engraçado de início, mas quanto mais o tempo passava, quanto mais o divórcio dela chegava a pontos estressantes, e particularmente, decepcionantes, sua mãe tornava-se cada vez menos engraçada, e mais possessiva. Assim que o divórcio foi concluído, ela não tinha mais aquele ar divertido de sugestão.

Sentia algo obsessivo vir de cada "Oliva é um tom bonito, né?" sempre que Fabiana entrava em seu quarto. Não demorava dois minutos até ela lembrar que esqueceu a panela do fogo, ou que vai se arrumar pro plantão, então não tinha muito tempo para censurá-la pelo repetitivo inconveniente.

Chegou ao ponto de, no meio da madrugada, ela entrar em seu quarto, repetindo a bendita frase consigo mesma. Sabia disso, pois roncava na hora, e ele não é de roncar. Ficou assustador ter de trancar a porta quando ia dormir, mas foi o necessário. Sentia que era.

Por mais que parecesse, não encarava isso como um assédio. Era mais... Preocupante. Triste, tipo o Gollum do Senhor dos Anéis.

- Oh-Oh-Oh-Oh-Oh! Oh-Oh-Oh-Oh! Oh-Oh-Oh... Caught in a Bad Romance... - cantou Lady Gaga, interrompendo Guastavino. Na tela, o rosto de Fabiana Martins. A foto foi tirada num bar bem old-school, e com muito filtro automático de câmera. Se calças jeans lideram sua lista de ranços, não muito abaixo residiam os filtros de embelezamento.

- Fala mãe. - Levou o celular ao ouvido, extraindo uma voz cansada e suspirosa do outro lado da linha.

- Oi meu filho. Er... O centro tá um cu, sério! - Oliver conseguia com pouco esforço, ouvir a loucura de buzinas vindo de onde sua mãe estava. - Liguei pra avisar que mamãe vai chegar atrasada hoje.

- Tá bom... Mas, pera, você não vai trabalhar amanhã de novo?

- Ué! Claro! Eu tenho que pagar as contas, né?

Pássaros Quebrados - Livro III - Estrada de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora