Capítulo III. (Parte 2) - Boys in the Train.
- Me deixem em paz, bucetas! - Pulando de carro a carro, Oliver fugia de uma trupe de roe-latas que o ouviram em seu primeiro pulo. Em alguns, a lataria quase o fez escorregar pra "oxidação", mas quando viu, já estava sentado no teto de uma van.
Olhou a vista: dois viadutos lotados de carros enferrujados e roídos. E pairando sobre tudo isso, um céu verde-acinzentado que o lembrava aipo ou sopa de lentilhas. Sopa essa que Oliver tinha o prazer de odiar.
De acordo com o mapa que Wander guardava na camionete, o estúdio margeava a rodovia além do viaduto, protegido por um bosque de poucas árvores. Era mais normal chegar lá com um helicóptero ou coisas do gênero, pelo o quê Oliver apenas traduzia como ganância desenfreada e estrelismo. - Nem parece que tô indo pra dar uma chance pro meu pai. A cada carro que eu pulo, é -1 de amizade que ele perde! Ah! -2! -3! -4! Ah... Uf...
Os roe-latas já haviam ido embora quando um grupo de sibilos chamou a atenção de Oliver.
Ssssss...
Olhando pra trás, descobriu que os roe-latas não estavam o seguindo. Eles apenas estavam fugindo.
Oliver contou uma matilha de seis caninos-veneno, que começavam a agrupar sibilos quando voaram pelos veículos.
- Puta que me pariu, só me fodo nessa caralha de mundo! - Oliver arrancou a machadinha do cinto, girando-a enquanto pensava no que fazer. - Vamos! Pensa, Oliver!
Os monstros se aproximavam cada vez mais. Se antes eram pontinhos no horizonte, agora, eram vultos muito sólidos ao que Oliver julgou ser menos de 50 metros. Olhou para baixo, e viu sua salvação.
Pulou no vão entre um carro e outro, e seccionou a tampa do tanque de combustível de um deles. Segurando o cabo da machadinha com os dentes, riscou o fósforo no acendedor até a chama acender e o jogou no tubo de combustível. Usou o tempo que sobrara para virar-se de costas, sentindo o equivalente a uma manada de Monstertrucks o atropelando.
Viu tudo se apagar por um momento, quase enxergando o cubículo quando seus olhos se abriram novamente. Estava encaixado entre dois fuscas a alguns metros de um fogaréu gigantesco, que impedia a aproximação dos canino-venenos.
Eles logo desistiram de prosseguir.
Olhou para a porta de um dos carros que o prendiam em seu centro, reconhecendo o fusquinha verde-oliva, que colidiu numa carreta ao que pareciam ser anos. De repente, a pergunta mansa e cruel de Fabiana apareceu enquanto desgarrava-se de lá.
"Por que você não pinta essa parede de verde-oliva?".
Seus tímpanos ouviam de novo, livres do ruído da surdez. Oliver resolveu se esgueirar pelas vielas entre os carros até o outro lado do viaduto, uma vez que a explosão invocou uma seta de tigrevoitas que não ignorariam um humano dando sopa.
Já estava se cansando de sentir a superfície lisa e gelada - às vezes só gelada -, dos veículos congestionados quando finalmente chegou do outro lado, de frente a uma linha de cones e uma guarita vazia. Caminhando pelo inédito cenário abandonado, achou a cancela jogada na margem do rio, que fluía por debaixo do viaduto. Imaginava que, ou pessoas furiosas e em pânico passaram pelo bloqueio, ou foram os Mobs. E se foi a última opção, não parecia muito confortável continuar seu caminho para fora da cidade, numa estrada vazia e ladeada por árvores, caso sua integração no clube de seu pai se mostrasse um erro.
Olhou para o barranco de folhas secas que levava para um portão, que tapava o provável pátio do estúdio.
Oliver se achou o Bear Grills do Apocalipse quando decidiu usar a machadinha como picareta, a fim de controlar sua descida pelo declive, o que mostrou ser uma má ideia quando uma pequena parte da machadinha provou-se apodrecida. Podre o bastante para separar o cabo da lâmina. Sentiu todas as folhas daquela inclinação fuzilando sua pele até despencar lá embaixo, tendo total noção que seria mais doloroso, até fatal, se isso tivesse ocorrido no topo do barranco.
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Pássaros Quebrados - Livro III - Estrada de Estrelas
Ficção Científica🥇VENCEDOR DO PROJETO BL -CATEGORIA LGBTQIA+ Oliver é apenas um adolescente de 17 anos fortemente vigiado pela mãe e com a sombra amarga de seu pai em sua vida. Quando um apocalipse repetino surge, todas suas expectativas para o futuro são comple...