Capítulo XVI

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Capítulo XVI - O Último Irmão

Depois de subirem tantas escadas e visitarem tantas lojas, Fahbrica tinha concluído que o principal inimigo das portas eram as fachadas gigantes, coloridas e chamativas, que as barravam. Mas agora, de frente pra entrada da Sala 04, um obstáculo inédito: uma máquina de pipoca.

Nos seus tempos áureos, os quais seus flashes mostravam muito timidamente, já devia ter topado com uma dessas. Um homem ficava atrás, controlando o fluxo do milho enquanto o cubo de acrílico era fuzilado por nuvenzinhas crocantes e muito gostosas.

Agradecia por não ter mais ninguém manejando as pipocas, ou teriam de lidar com mais um aborto da natureza.

- E agora, o que a gente faz? - Indaga Aruã, fitando o carrinho tombado. Não fazia nem cinco minutos que quase caíra da escada por causa de um corrimão solto, portanto a adrenalina de não querer morrer acompanhava sua esperança em assistir um filme. Não seria um lançamento, óbvio, mesmo assim, seria um filme que nunca viu. Isso poderia ser chamado de lançamento também, né? - Parece que o próprio shopping tem problemas com portas abertas.

Fahbrica refletia sobre o próximo passo. Não chegou no último piso de um prédio caindo aos pedaços para perder para uma máquina velha. Olhou ao redor, à procura de algo que lhe ajudaria com o empecilho. Infelizmente, tinha deixado suas J. Gloves com um Abraham furioso, contudo se alegrou ao apalpar os bolsos e se lembrar que trouxe uma lanterna.

- Ótimo, Fahbrica. Se esqueceu de suas luvas fodonas, mas se lembrou que o shopping estaria um breu? - Se autoflagelou, ligando o interruptor.

O raio de luz acertou outra porta-dupla, com uma pequena placa acima a denunciando como Sala 05. Pelo menos essa não estava barrada por nada. Virando a luz para o lado oposto, iluminou duas portas separadas por um pilar de ladrilhos, o banheiro masculino e o feminino.

- Vamos nos separar e achar algo pra nos ajudar. Eu vou checar se algum sobrevivente, ou ex-sobrevivente, deixou algo como um macaco hidráulico por aí. Você pode checar o banheiro, mas acho que teria mais chance na Casa Do Homem, sabe, lá embaixo. - Apontou a lanterna para as escadas rolantes, cujas esteiras rangiam irritantemente por estarem penduradas.

- Casa do Homem? Por que isso me dá tanto nojo?

- No velho mundo, pessoas costumavam associar martelos, enxadas, escadas, makitas e etc. a homens, mesmo que qualquer pessoa possa aprender a construir uma casa, ou, sei lá, usar um machado. - Diz Fahbrica. - Fica tranquilo. Depois que o mundo mudou, a maioria que pensava assim... Deixou de pensar faz um tempinho.

- Okay. Deixa que o homem vai descer lá e buscar as coisas! Aha! Futebol! Churrasco! Parmê! - E assim foi Aruã, descendo pelas escadas de emergência com o melhor cosplay de homem das cavernas que Fahbrica já viu.

Após se certificar que ele já tinha descido, Fahbrica iniciou sua investigação na Sala 05. As portas de 02 à 03 estavam barradas por um pilar de pedra infeliz, e a única coisa que confirmava a existência de uma sala 01 era uma placa acima de uma pilha de entulho.

Uma vez dentro da sala de cinema, subiu a pequena rampa de entrada, tão silenciosa quanto antes, afinal, era bem possível que os cine maníacos de antigamente ainda estejam esperando o filme começar.

De cara, o telão branco exibia riscos e arranhões em todo o seu tecido, como se um gato gigante tivesse feito aquilo de cortina. Talvez isso explicasse o porquê das portas estarem caídas. Ligeiramente temerosa que o que derrubou as portas ainda estivesse ali, desenganchou a machadinha de sua cinta. Com a arma em mãos, encarou o alto do declive de assentos semi abertos ou amassados (em sua maioria, a última opção). Para sua alegria, não havia mais nada de perigoso ali. Se perguntava se a coisa capaz de arranhar um telão, amassar cadeiras e derrubar portas-duplas foi capaz de destruir escadas rolantes também.

Pássaros Quebrados - Livro III - Estrada de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora