Capítulo VII.

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Capítulo VII. – Êthos morto.

    – Wander?! – Oliver sentiu-se, pela primeira vez, com labirintite. Seu coração rebomba, junto aos traços de animação suspensa cada vez mais evidentes. A última coisa que viu antes do mundo apagar foi o rosto preocupado, ante vermelho de felicidade, de um homem de ascendência asiática; um cavanhaque afiado suspenso por uma barba espessa, porém curta; e aquele olhos, quase como dois discos de noite estrelada.

    ...

    – Ah! Mentira que eu tô aqui de novo!

    – Aham! Tá sim! – A forma saiu de trás de Oliver, fazendo estrelinhas no cubículo. As galáxias continuavam lá fora, com um roxo muito mais perturbador e saturado, quase - ou muito provavelmente - vivo. – Yahoo! E agora, Oliverzinho? Se lembra da nossa última conversa?

    – Ontem?

    – Dez anos atrás, bobinho.

    – Ah, é. Esqueci que de ontem pra hoje demorou tanto tempo. – Oliver chacoalhou a cabeça, apontando a forma. – Hey! Não me embaraça não! Você bagunçou meu pensamento tudo!

    – Eu? Não fiz nada! – A forma ficou de pé. – Mas, você fez, se lembra? Ah, eu sei que você se lembra... Você remoeu o que eu te disse sobre o Wander, e você estava crente que nunca mais teria de lidar com essa dúvida...

    – Para...

    – Mas, quando o seu amigo Rafael te disse sobre a cura, eu senti uma parte do seu coração ficar apertada. Estava com medo, não é? Com medo de ter de reencontrar Wander e lidar com o simples fato de você não amá-lo?

    – P-PARA! – Oliver gritou. Sentiu algumas arestas do cubículo tremendo, mas a forma continuou imóvel. – E-Eu! Você tá me confundindo! Eu tô desmaiado, cara! Como eu não posso amar ele? Eu desmaiei pra ele! Nem com o Rafael foi assim!

    – Você acabou de voltar de um coma, Oliver, e você acabou de se reencontrar com seu namorado-zumbi. Muitas coisas. Não significa que você ama ele. – Zomba a subconsciência, retomando às suas estrelinhas que, ironicamente, eram feitas sobre a personificação mais pura de galáxia.

    – E-Eu vou acreditar que eu gosto dele! E vai tomar no cú, subconsciente!

    – É Oliver!

    – Vai tomar no cú então, Oliver!

    O cubículo se apagou novamente, engolfado pela nebulosa estelar do despertar.

    ...

    Seus olhos abriram, encarando o teto de pano de uma tenda. Nunca entrara numa tenda, talvez nem estivesse em uma, mas, o que tinha certeza era que estava deitado numa maca.

    – Droga! Eu desmaiei real. – Voltou a cabeça pro travesseiro, sentindo o baque fofo responder, assim como ele, com um bufo.

    – É, mas vejo que acordou. – Oliver arregalou os olhos. Não fazia ideia que tinha alguém ali, tampouco àquela voz rouca e ligeiramente gostosa. Olhou para um dos cantos mais distantes da maca, opostos à grande cortina de pano verde-água que parecia exclusivo de centros de reabilitação de guerras, ou de hospitais que lidam com doenças contagiosas. De lá, foi vomitado pela escuridão o dono da voz, com roupas que o assemelhavam um caçador da idade média. – Pela segunda vez! Como tu dorme!

    Wander não tinha mais aquela cara de jovem adulto. Ele parecia bem mais velho, mas não tãão velho. O desgraçado tinha até as malditas rugas verticais quando sorria.

Pássaros Quebrados - Livro III - Estrada de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora