Capítulo XV

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Capítulo XV - Encontro às Cegas

Imaginava que vagalumes entremeariam a paisagem noturna enquanto os grilos dispersavam seus cricrilar ao vento. Que a lua estaria cheia, poluindo o céu e ofuscando as constelações.

Bem, não foi exatamente assim que aconteceu no primeiro encontro de Wander.

Estava a espera de Oliver, de frente pra Oficina Nibelungo, sentindo suas pernas e seu pescoço implorarem para coçá-los. Pelo menos, os insetos não foram tão atingidos pelo vírus - só alguns grilos gigantes aqui, cigarras assassinas ali -, mas, junto aos cricrilar vindos da floresta do outro lado da rua, vinha um enxame chato de mosquitos. E era óbvio! De dia, aquele lamaçal que era o terreno da oficina mecânica era até reconfortante, com ar de infância, mas deveria esconder em suas águas mais profundas e pantanosas larvas, que eclodiriam a qualquer momento na personificação da perturbação.

- Vampiros-mirins! Deem o fora de minhas terras! - Entoou, esbofeteando as calças de seu terno, que deveria ter sido caríssimo. Diz Giovanna que o achou numa loja velha de roupas, incrivelmente entocado por trácios. E isso há cinco anos atrás, quando se casaram.

- Heya! Sup? - Disse Aruã, aproximando-se com uma calça do Conglomerado e um casaco cinza com orelhas de gato no capuz.

- Oi... isso fica bem escondido, né?

- O quê?

- O casaco. Se o Oliver ver isso, ele vai vestir na hora.

- Os meus verdadeiros tesouros vão além do meu guarda-roupas, mas shh! Ele não pode saber!

- Claro, claro.

- Ooooooi, gente! - Anunciou Oliver. Estava vestindo uma meia-calça listrada e um cropped de uma banda de rock que, com certeza, não vendia croppeds. - Estava faltando o rímel pra destacar minha beleza atemporal e particularmente egípcia, mas a gente vai com o que tem.

- Wow... Wow, wow, wow...

- E os "wows" atacam novamente. - Resmungou Aruã.

- Caramba, Wander. Você tá parecendo o Kevin quando vai pro baile com a Gwen. Você tá, tipo, bem bonito e... Vintage.

- Em neobrasileiro, também chamamos de "velho". - Ressalta Fahbrica, que surgiu ao lado de Oliver de repente. Diferente dele, ela usava as roupas usuais de mundo exterior: Uma blusa de flanela e calças jeans rasgadas. - Vocês não iam num encontro?

- Íamos não, vamos! Liga pra ela, não, Wander! Você tá bem mais apresentável que eu. Tipo, eu tô no meu estilo poc punk, que, caaara, foi suado arranjar.

- Peraí, essa não é minha camiseta do Broken Wood Hill?! - Interveio Aruã.

- "Era" uma camiseta. Agora é um cropped.

- Nunca usei cropped. É bom de usar?

- É sim. Eu prefiro usar com uma camiseta por baixo. Sempre dá um frio na barriga, e também porque eu sofria uma pressão estética gigante. Eu e minha barriga éramos meio que inimigos de longa data.

- Éramos, do verbo, não é mais?

- Não. - Respondeu Oliver, se aproximando de Wander. - Éramos, do verbo, estamos nos reconectando desde de um certo dia de praia. Garoto..., onde diabos você arrumou essa gravata?

- Nó de fábrica.

- Tenha certeza que isso não veio de mim. - Declarou Fahbrica.

- Engraçadinha.... Argh! - Wander sentiu a voz entalar no caminho da garganta, voltando somente quando Oliver afrouxou a gravata-borboleta.

Pássaros Quebrados - Livro III - Estrada de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora